Já disse, várias vezes, que sou a favor da descentralização e, nessa medida, da regionalização.
Não porque seja contra o centro, mas, pelo contrário, porque acredito que não deve haver um único centro. Deve haver vários centros e muitos pólos.
O que me intriga é a contradição que afecta o discurso e a prática de muitos que dizem defender a regionalização.
Parece que se limitam a querer uma reprodução de estruturas. Será que a regionalização é a multiplicação de parlamentos e governos?
Ora, isso não resolve nenhuma situação. Só agravará os problemas.
Eu entendo a regionalização como uma distribuição não de estruturas, mas de serviços.
Do que as pessoas precisam não é de mais estruturas. É de mais (e melhores) serviços.
Sucede que não é isso o que está a acontecer. É mesmo o contrário disso que está a ocorrer.
Fala-se de regionalização como um processo de proximidade e estão a retirar-se serviços nomeadamente nos campos da saúde e da educação.
Os hospitais e as escolas estão cada vez mais longe das pessoas.
Será bom recordar que Salazar, apesar de não ser democrata, descentralizou mais do que muitos democratas.
No seu tempo, havia hospitais em quase todos os concelhos e escolas em praticamente todas as aldeias.
Com as vias de comunicação mais apuradas, talvez não seja necessário chegar tão perto das pessoas. A questão é que estamos a desenraizar perigosamente os cidadãos.
Eis mais uma incoerência flagrante. Fala-se tanto de descentralização. E centraliza-se cada vez mais.
Assim, a democracia não avança. Há que repensar, de vez, a nossa vida comunitária.
As eleições presidenciais poderiam ser uma oportunidade. Mas, na poeira dos ataques, estão a ser uma oportunidade...perdida!