É mau, muito mau, que se aproveite a pobreza (e, pior, a pessoa dos pobres) para qualquer género de aproveitamento. Mas não é menos mau ignorar o problema.
A pobreza existe. É fundamental trazê-la para o centro do debate.
O que me parece bastante grave é que se faça dos pobres arma de arremesso e instrumento de ataque político.
É certo que, a fazer fé na máxima de Clausewitz, a política é uma forma de guerra, embora uma forma não sangrenta.
Mas há limites.
Acresce que nunca podemos julgar ninguém. Se as pessoas fazem algo pelos pobres, é natural que a comunicação social se faça eco dessas acções.
Se há exibicionismo, é péssimo. A pobreza já é suficientemente estigmatizante para que alguém se arrogue no direito de subir à custa de quem é massacrado por ela.
Às vezes, o despudor não tem limites.
Não nos vangloriemos do que se faz. Mas também não ataquemos quem faz ou tenta fazer.
E a erradicação da pobreza faz-se pelo apoio directo às suas vítimas e também pela denúnica das situações que a provocam.
Como alguém escreveu, «mais grave que aproveitar a pobreza para fazer política é aproveitar a política para fazer pobreza».
Uma coisa é certa. A pobreza não nos pode mobilizar apenas no Natal.
O Natal acontece todos os dias. A pobreza também.