O caso WikiLeaks é uma poderosa certificação de um cultura (ou anticultura, conforme o ponto de vista) em que as competências subjugam por completo a sabedoria. Isto para já não falar da ética, completamente sufocada.
O ponto de partida é que aquilo que, tecnicamente, é possível fazer é feito. A comunicação social vive da informação. Quanto maior for a informação para veicular, melhor.
É neste preciso ponto que a sabedoria entra em jogo. Ou, melhor, devia entrar.
É que a sabedoria, como lembra Zubiri, consiste sobretudo em discernir. E, neste particular, o que mais se nota é a falta de discernimento.
De facto, o que nos é apresentado como informação não passa de devassa, de intriga, de rumor, de coscuvilhice, de deslocação do contexto: o que se passa em privado é colocado na praça pública sem o menor controlo.
É certo que foi por este modo que se puseram cobro a ocorrências de corrupção. O caso Watergate é, talvez, o mais apelativo. Mas, como sempre, a excepção confirma a regra. Transformar a excepção em regra será um bom princípio?
Acresce que esta não é uma questão exclusiva da comunicação social. Este tipo de informação tem presença porque tem consumo.
A ética não está apenas em causa na comunicação social. A cidadania vai-se também afastando dos padrões mais elevados de conduta.
Afinal, num tempo em que tudo é público, porque é que os segredos deviam ser privados?
Só que, por este (des)caminho, a convivência torna-se praticamente irrespirável.
Confesso que estes tempos me deixam interiormente abalado.
Como reinstaurar um mínimo de decência?