Afinal, ainda há epopeias. Não já com caravelas pelo mar, mas com uma bola a desfilar por um estádio em transe.
O que faz uma bola! Ou, melhor, o que determinadas pessoas sabem fazer com uma bola!
Há dias, ou noites, em que a bola é manuseada à guisa de um pincel. E dos pés dos jogadores saem verdadeiras obras de arte.
É sabido que a Espanha pratica um futebol sedutor. A bola não é chutada. É acarinhada, oleada de pé para pé com uma cadência que galvaniza a equipa e como que adormece os adversários.
Ontem, Portugal, que também possui bons executantes, não se esqueceu da arte. Mas resolveu imprimir velocidade.
Resultado. A Espanha jogou como (quase) sempre. Portugal actuou como (quase) nunca.
O nosso problema, e não é só no futebol, é precisamente a inconstância.
Não nos falta capacidade, nem engenho. Mas temos sempre um pequeno contencioso com a perseverança.
Ontem foi uma noite de sonho e ninguém dormiu.
O problema é que, daqui a umas horas, a realidade dar-nos-á um forte abanão.
Ontem, Portugal foi melhor. Hoje, a Espanha está melhor.
Um jogo ajuda a esquecer. Mas há sempre a realidade que se encarrega de nos lembrar.
Aprendamos com o jogo de ontem. Apareçam líderes que motivem. Capacidade e talento é coisa que não falta por cá.
E, afinal, até não será impossível melhorar em pouco tempo. Ontem, viu-se que depressa e bem ainda há quem...