Das eleições dp Brasil sobra, para lá da vitória de Dilma Rousseff, a acesa polémica acerca da intervenção da Igreja na campanha.
Os candidatos, vendo na fé um filão e apesar de não serem praticantes, não se escusaram a demandar santuários e a falar com dignitários.
Por sua vez, várias figuras da Igreja, vendo nas eleições uma oportunidade, não se eximiram a tomar posição. Alguns (padres e bispos) foram mesmo ao ponto de dizer em quem jamais se deveria votar.
Como é sabido, a Igreja professa, oficialmente, isenção em matéria político-partidária. Mas, depois, sabe-se que, no plano informal, essa isenção nem sempre é mantida.
Refira-se que tal desiderato não é fácil. Até o silêncio é passível de leitura política.
Há duas coisas que importa conjugar: a transparência com a sensatez.
Numa sociedade adulta, ninguém deve estar inibido nos seus direitos de cidadania. E mais vale assumir o que se pensa às claras do que insinuar às escondidas.
Penso que isto, à partida, não constitui qualquer pressão. As pessoas são maduras e saberão decidir em consciência. Ninguém é dono da consciência dos outros.
Acontece que a sensatez obriga a que haja algum cuidado. Assim como não queremos que um jogo de futebol se transforme num comício, também não é expectável que se faça campanha numa Missa.
Isto não implica que não se exponha a mensagem de Cristo em todos os domínios, nomeadamente na justiça social e na opção preferencial pelos pobres.
Este é o terreno da Igreja: o de apontar valores e princípios. Mas daí a dizer, desde o púlpito, vamos votar neste ou não vamos votar naquele vai uma grande distância.
Marina Silva, que é política, eximiu-se a dar qualquer sentido de voto. Disse, e muito bem, que não era dona do voto de ninguém. Nem sequer do daqueles que tinham votado nela na primeira volta. Foi um gesto muito nobre.