Penso que ninguém contava com esta indefinição que o país está a atravessar.
Uma coisa é certa. Aconteça o que acontecer, os que nada fizeram para que esta crise surgisse são os que mais vão pagar por causa dela: os pobres.
As negociações entre o Governo e o PSD falharam.
O próximo passo é ouvir o líder do PSD (que, por sinal, se chama Passos) após a reunião do seu partido, ainda hoje.
O presidente da república convocou também, para sexta-feira, o Conselho de Estado.
Imaginemos, entretanto, que o orçamento é chumbado.
Parece estar fora de hipótese que o Governo apresente um outro já que faz tanta questão na aprovação deste.
Nesse caso, o Parlamento poderia propor um alternativo. Mas alguém acha possível um acordo, sobre esta matéria, entre PSD e CDS de um lado e PCP e BE do outro?
Caindo o Governo e não podendo haver eleições, não se afigura viável um novo Governo do PS pois é este partido que insiste tanto nesta política orçamental.
Uma alternativa no actual quadro parlamentar também aparenta ser totalmente irrealizável pois seria preciso que todos os outros partidos se entendessem. E entendimento é coisa que, pelos vistos, nos falta.
Esperemos que, logo à noite ou sexta-feira, se faça alguma luz.
Seria bom que pensássemos na máxima de Raymond Aron segundo a qual «a democracia é obra comum de partidos iguais».
O entendimento nunca é impossível quando, abdicando do interesse próprio, nos concentramos no interesse comum.
E se alguém há-de ser alvo de atenção especial, que o sejam os mais desfavorecidos.
Não percamos (de vez) a esperança.