Os tempos são outros. A sensibilidade é diferente. E a capacidade de mobilização quase nula.
Que diriam os nossos antepassados de trezentos, de seiscentos e de novecentos, que se rebelaram ante castelhanos e ingleses por causa da ingerência destes na nossa pátria, se fossem confrontados com a notícia de que o orçamento do estado português vai precisar de um visto prévio da Comissão Europeia?
Acresce que ainda há quem diga que isto é pouco!
A integração na Europa constitui, ipso facto, uma alienação de soberania, mas não deixa de ser sintomático que tudo aconteça praticamente sem qualquer reacção.
O mesmo se diga do afastamento do Prof. Manuel Maria Carrilho do cargo de embaixador na Unesco.
Até pode dar-se o caso de ser uma decisão normal. Mas é impossível não associar a medida às posições que ele tem tomado.
Voltamos a ter delito de opinião? Pensar pela própria cabeça será um pecado irremissível?
Mas então temos de pensar pela cabeça de quem?
Estamos em democracia. Mas será que temos muitos democratas? Como vai a nossa cultura democrática?
A independência e a liberdade são valores matriciais da civilização.
Impressionante é que tudo isto vá contando com uma espécie de anestesia cívica.
Os tempos não correm fagueiros para a cidadania.
Parece que as coisas só afectam os outros.
Mas, atenção, o que acontece hoje aos outros, pode acontecer amanhã a nós.
Parafraseando Martin Niemöller (num texto também atribuído a Bertolld Brecht), «primeiro vieram buscar os judeus e eu não me incomodei porque não era judeu. Depois levaram os comunistas e eu também não me importei, pois não era comunista. Levaram os liberais e também encolhi os ombros. Nunca fui liberal. Em seguida os católicos, mas eu era protestante. Quando me vieram buscar já não havia ninguém para me defender».
É sabido que a ditadura dos factos é (im)pressionante, mas que, ao menos, a nossa voz se faça ouvir.
O silêncio raramente é neutro. Ele é, quase sempre, conivente com a tirania.