Começou por perder os trabalhadores, depois perdeu os intelectuais, a seguir os jovens. Irá perder Deus?
Se a pergunta pode parecer disparatada, há respostas que se afiguram arrasadoras.
A Igreja nunca perderá Deus, mas algumas atitudes (discursos, posições, acções e omissões, missões e sobretudo demissões) indiciam um certo afastamento da prioridade de Deus.
E, o que é mais grave, as pessoas apercebem-se!
Não descarto que esta seja uma leitura simplificada e algo tremendista da trajectória da Igreja nos últimos decénios, mas, como sabemos, há quem não se iniba de a fazer.
Como é óbvio e não obstante todas as dificuldades, há muitos trabalhadores na Igreja, bastantes intelectuais na Igreja e abundantes jovens na Igreja. Não participam sempre. Mas aparecem com frequência.
E, como não podia deixar de ser, Deus acompanha a Igreja.
Subsistem, porém, algumas interrogações. Porque é que as pessoas não aparecem mais? Porque é que os baptizados não participam sempre? Porque é que as seitas prosperam?
Não será porque deixamos de mostrar Deus, de falar de Deus, de testemunhar Deus, de apontar para Deus?
Não será que, muitas vezes, passamos o tempo volvidos sobre o acessório, sobre nós mesmos, sobre a instituição? Sucede que a própria instituição só faz sentido se aproximar (e não afastar) de Deus.
Já Ruiz de la Peña advertia que a Igreja deste milénio tinha de ser «orante e confessante», totalmente mergulhada no mistério de Deus. De resto, quando nos afastamos de Deus também não nos aproximamos do Homem.
Uma Igreja que não fale de Deus, que não incentive a falar com Deus, que não fale a partir de Deus será Igreja? Mas não estaremos, amiúde, a incorrer nesse perigo e a ceder a essa tentação?