Frei Amador Arrais chamou a Maria mesmo «capela de Deus». Alguém duvida de que o que nela reza será ouvido pelo Pai?
Aquela que Hans Urs von Balthasar exalta como «cálice do Verbo» e «obra de arte de Deus» não deixará de fecundar o ministério da Igreja, tanto mais que — insiste o teólogo suíço — «Maria governa escondidamente a Igreja».
Ela mostra «aos apóstolos e aos seus sucessores como se pode ser uma presença eficacíssima e, ao mesmo tempo, um serviço completamente silencioso e oculto».
Ela tipifica o perfil de uma Igreja que precisa de ser mais confidente que conferente. É urgente uma Igreja que fale com desasssombro e pregue com audácia.
Mas, até para que esse anúncio seja sustentado e credível, do que necessitamos antes de mais é de uma Igreja que escute o que palpita na espuma dos dias e na profundidade das pessoas.
Necessitamos de uma Igreja que assuma sem hesitações a sua face mariana: «cheia de graça» (Lc 1, 18), «serva do Senhor» (Lc 1, 38) e que saiba «guardar as coisas no seu coração» (Lc 2, 19). Necessitamos, em suma, de uma Igreja que, sem cálculos nem subterfúgios, mergulhe marialmente no ecce (cf. Lc 1, 38), no fiat (Lc 1, 38) e no magnificat (Lc 1, 46-55).
Para isso, é fundamental que nos habituemos a uma pastoral mais de joelhos que de secretária, que priorizemos definitivamente a oração e que cultivemos uma Teologia concebida — e proposta — como sanctitas quaerens intellectum.
Esta, enquanto discurso sobre a fé, não há-de quedar-se por um plano descritivo ou racional, descurando a vivência quotidiana do que se crê (cf. Tgo 2, 17).
Uma Teologia genuinamente cristã tem de pensar, a sério e a fundo, a constitutiva vinculação entre a santidade divina e o chamamento à santidade que é dirigido a todo o ser humano (cf. Lev 19, 2; 1 Cor 1, 2).