O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Segunda-feira, 10 de Maio de 2010

1. São os textos do Papa bastante lidos e abundantemente citados. Há um livro, porém, que permanece misteriosamente desconhecido aos olhos de muitos: o livro da sua pessoa.

 

Esta mantém-se encoberta por uma nuvem espessa de lugares-comuns. Daí a surpresa que o contacto pessoal manifesta. Afinal, aquele que parece distante até se revela próximo e deveras afável.

 

É, sem dúvida, um homem de pensamento. Mas — assegura quem priva com ele — consegue aliar a complexidade do pensamento à simplicidade do coração.

 

Não foi ele que escreveu, na sua primeira encíclica, que «o programa do cristão é o coração que vê»?

 

2. Bento XVI não é o responsável pela crise da Igreja. É, pelo contrário, um dos mais inconformados diante dela.

 

É corajoso. Não se importa de estar em minoria. Proclama o que crê e diz o que sente. Aponta para o essencial. É incompreendido e contestado. Não teme ser impopular.

 

Poucos como ele têm tido o desassombro de descrever a situação da Igreja sem o menor subterfúgio ou o mais leve rodeio.

 

3. Não esconde que o problema da Igreja é sobretudo interno. Frequentemente, ela é uma oportunidade transformada em obstáculo: «Se, antigamente, a Igreja era, incontestavelmente, a medida e o lugar do anúncio, agora apresenta-se quase como o seu impedimento».

 

Não é ao clero que cabe prescrever o que é ou deve ser a Igreja». O sacerdócio não é uma estrutura de poder nem tampouco uma instância de decisão. É, antes de mais, a sinalização «do vínculo da Igreja ao Senhor Jesus».

 

Falando, muitas vezes, em contracorrente, está atento ao que se passa na humanidade. O seu campo de intervenção vai do templo ao tempo e do culto à cultura.

 

Por isso é que os seus interlocutores de eleição tanto são Agostinho, Tomás de Aquino e Boaventura como Nietzsche, Heidegger e Habermas.

 

 

4. Esta viagem não cumpre apenas um roteiro por vários lugares. Ela é, fundamentalmente, uma peregrinação pelos dramas, pelos anseios e pelas expectativas que se alojam na alma sofrida de tanta gente.

 

Ocorrendo a visita num momento difícil para o país e para a própria Igreja, ela configura um momento de esperança.

 

Muito tem alertado o Papa para os perigos do relativismo. Mas não tem deixado de vincar, ao mesmo tempo, a centralidade da relação. «A grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre».

 

É que «uma sociedade que não consegue aceitar os que sofrem e não é capaz de contribuir, mediante a compaixão, para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e assumido mesmo interiormente é uma sociedade cruel e desumana».

 

No fundo, o Papa insiste na urgência de descentrar a Igreja de si mesma recentrando-a em Deus e no Homem.

 

Para um cristão, o Mundo não é o adversário e o Homem há-de ser o caminho. Fora do Mundo e longe do Homem, não há Igreja.

 

A Igreja é - terá de ser sempre - a presença de Deus no Mundo e a incarnação do amor apaixonado de Deus pelo Homem.

 

publicado por Theosfera às 22:44

De António a 10 de Maio de 2010 às 23:06
Todos nós somos filhos de Deus. E somos todos igualmente livres como Bento XVI. Todos nós temos as nossas convicções, não apenas Bento XVI. Todos nós acreditamos em valores absolutos. Mas há valores que Bento XVI julga absolutizar e eu também me sinto no humano direito de entender que ele os relativiza. Todos nós podemos ser contra a corrente e hoje, contestar Bento XVI, também é ir contra a corrente do pensamento clerical dominante.Muitos de nós, os que pensam diferente da actual cúria romana, já fomos repetidamente catalogados de "relativistas", com a inerente carga depreciativa que o termo envolve.Eu também poderia catalogar o pensamento teológico, dogmático e moralista de Bento XVI.Mas prefiro discutir a essência das coisas. Não ganharei nenhum atributo ético superior sobre Bento XVI se o qualificasse como também poderia fazer. No mundo de Deus, somos todos iguais.Lá em cima, nenhum título, nenhuma posição social ou pontifícia, será apta a distinguir-nos perante Deus. Lá em cima, só Deus conhece os nossos defeitos e as nossas virtudes. E só Ele verdadeiramente saberá quem verdadeiramente O relativizou...


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