Outrora, as ditaduras eram fruto da imposição de alguns. Hoje, correm o risco de ser fruto da desistência de muitos.
Não se pode exaltar a liberdade e, depois, não aceitar a crítica.Mas também não é possível praticar a maledicência e a ofensa como expressão de liberdade.
A liberdade tem custos. O diálogo tem regras. Pelo menos, as da decência.
Haverá um fundamento teológico da democracia?
Eis o que nos diz António Sérgio que, não sendo teólogo, faz teologia neste campo: «A criação é como é porque o Criador Se quis obrigar a respeitar a liberdade da criatura. Deus enunciou a lei; não instituiu, porém, a censura; deixou-nos a liberdade de proceder, com a responsabilidade pelos nossos actos. É blasfémia para todo o cristão o colocar-se um homem acima de Deus negando-se a respeitar o que Deus respeitou. O verdadeiro religioso não pode ser senão democrata».
Eis, entretanto, as razões que ele apresenta para que seja tão difícil viver sob este regime: «O que mais dificulta que a boa semente democrática germine é a terrível falta constante de autodomínio e de "assessego", de esforço para a objectividade e para a ordenação do espírito. Expressamo-nos de maneira cálida e explosiva, com muita impetuosidade e em voz alta, sem querer ouvir quem nos fala, sem rebates de consciência quanto à exactidão do que afirmamos».