Os lugares-comuns têm o (perigoso) condão de nos demitirem de pensar. Repetimo-los e, quase sempre, conformamo-nos.
Um dos lugares-comuns mais repetidos debita que perdoar é esquecer.
Habitualmente, repetimo-lo para os outros.
As pessoas sérias, com propensão para o escrúpulo, ficam incomodadas quando não conseguem esquecer a ofensa recebida e a mágoa alojada.
Ora, isso não contende com o perdão.
Lembrar ou esquecer não pertence à vontade. É uma emanação do conhecimento. O perdão, sim, decorre da vontade.
E para perdoar é preciso lembrar. Vamos perdoar o que não recordamos?
Acresce que, ainda recentemente, a tragédia que vitimou o presidente da Polónia veio alertar para esta questão.
Ele e a sua comitiva iam assinalar o aniversário de um massacre cometido contra o seu povo. Mas iam também com um propósito de reconciliação.
Mesmo em relação à segunda guerra mundial, a reconciliação anda de mãos dadas com o memorial.
Recordar não serve, necessariamente, para agravar a ferida.
Como Bronislav Geremek, «sou contra o espírito de vingança, mas penso que jamais se deve propor o esquecimento. A memória faz parte da paz civil».
Até porque só recordando o mal, há condições de evitar que ele se repita.
O esquecimento não é boa solução. Para nada!