O Concílio Vaticano II lembra que a Igreja «nasceu do lado adormecido de Cristo na cruz»; convicção que retoma, quase literalmente, o antiquíssimo axioma de nativitate Ecclesia ex corde Jesu in Cruce.
Aliás, o próprio Mestre já nos prevenira por antecipação: «Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas, se morrer, dará muito fruto» (Jo 12, 24).
Trata-se do paradoxo estruturante do cristianismo: a morte como fonte de vida e de missão. Uma vez que o discípulo não é superior ao mestre (cf. Jo 15, 20), quem se dispõe a seguir Jesus e a fazer parte do Seu corpo eclesial disponibiliza-se, ipso facto, a «tomar a Sua cruz» (Mc 8, 34).
Não espanta, pois, que a morte ocupe um lugar de destaque na História da Igreja. Quando S. Cirilo de Alexandria nos convida para «um cântico de louvor pela morte da Igreja», não está a apontar-lhe um termo ou a ameaçá-la com uma dissolução, mas a assinalar-lhe uma identidade e a reconhecer-lhe um sentido.
Se, como infere Heinrich Schlier, «a Igreja é Cristo no Seu corpo», é normal que, à semelhança do que sucedeu com Cristo, também a morte marque presença no percurso da Igreja. Só que esta é uma morte vivificante, «que nos conduz de novo à fonte da vida santa em Cristo».
Como nota Bruno Forte, os cristãos sabem que, «na sua qualidade de sacramento da eternidade no tempo, a Igreja cederá o lugar à luz plena da glória, quando Cristo vier finalmente na Sua última vinda. Então Aquela que ela esconde e, ao mesmo tempo, revela reinará totalmente em todos. A kénosis divina abrirá caminho ao esplendor do último dia: a Trindade, de que a Igreja é "ícone", brilhará no universo inteiro e em todos os corações».
Mas será que a Igreja deixará de existir no fim dos tempos? Será que a sua luz se apagará? A morte da Igreja — responde o teólogo italiano — «é uma transformação no que há de melhor», já que nos transporta «da finitude do tempo para a eternidade da vida divina».