Mais um congresso do PSD. Há menos de um mês tinha havido um. E não falta quem fale de um outro antes do final do ano.
É a estreia de um novo líder. Nestas alturas, fala-se muito dos líderes anteriores.
Para um partido que, durante uma década, teve um único presidente, é espantoso que, na década e meia seguinte, já contabilize sete líderes.
A opinião de todos é evocada e a presença de cada um costuma ser assinalada.
Há uma excepção, porém. Trata-se do Dr. Fernando Nogueira.
Todos recordam a forma abnegada como secundou o Prof. Cavaco Silva.
Depreendia-se um grande despojamento e uma enorme discrição. Dir-se-ia que era o perfeito número dois: apagava-se para que o líder brilhasse.
Quando Cavaco se retirou, deixando o partido e o país supensos num longo tabu, foi com a maior naturalidade que Fernando Nogueira ascendeu à liderança.
Adivinha-se, contudo, que prevalecia mais o sacrifício do que a ambição. E, aqui e ali, pairou mesmo no ar um certo sabor a injustiça.
A lealdade de Nogueira para com Cavaco não terá sido plenamente correspondida. Quando Nogueira anuncia ter a certeza de qual seria o candidato presidencial, Cavaco Silva quase o desmente.
É claro que acabou por ser candidato. O que prevaleceu foi uma espécie de tirar o tapete a quem tinha sempre primado por uma enorme lealdade.
Há quem diga que as relações entre eles nunca mais foram as mesmas. Apesar de não ter ripostado, Nogueira terá ficado ferido.
Mas, cortês como sempre foi, optou por desaparecer da vida pública. Nunca mais foi visto. Remeteu-se a uma actividade privada e alojou-se num prolongado silêncio.
Rapidamente entrou na penumbra do olvido. Os jornais pouco falam dele. Será por respeito.
Não sei porquê, mas é com pena que se vê o retiro das pessoas mais decentes.
Compreende-se. Não é fácil a alguém com princípios disputar o jogo mediático, com todas as implicações que hoje tem.
Admiro a coragem de pessoas como Fernando Nogueira para fugir dos holofotes.
São, hoje por hoje, as pessoas que admiro mais.