Eu sei, todos sabemos, que é muito doloroso pôr o dedo em certas feridas. Sobretudo nas nossas. São as que doem mais. Porque são as nossas.
É sempre mais fácil apontar as feridas dos outros. Que também as podem ter. Mas não esqueçamos as nossas.. Que, no limite, podem agravar as feridas dos outros.
Temos uma missão: apontar caminhos. Mas como se nós mesmos não os pisamos?
Claro que ninguém é impecável, irrepreensível. Mas haja ao menos humildade. E partamos do princípio que lá fora, onde nem tudo está bem, mora, pelo menos, gente humilde.
Temos a melhor mensagem do mundo. Mas, em contrapartida, não abdicamos de ter, muitas vezes, práticas em sentido oposto. Que credibilidade a nossa?
Temos de ter presente que os grandes problemas da Igreja não são apenas os que chegam do exterior. São, antes, o que nascem no seu interior.
De resto, não esqueçamos a prevenção de Jesus: «Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro»(Mc 7, 15).
Há, sem dúvida, desafios que vêm de fora. Não os podemos desatender. Mas há, acima de tudo, deficiências que emergem a partir de dentro: falta de oração, falta de missão, falta de profecia, falta de fraternidade.
Quando as coisas não correm bem, voltamo-nos para fora e apontamos o dedo. Não digo que não haja factores exógenos (se é que, para um cristão, pode haver algo exógeno) a condicionar fortemente a acção da Igreja. Importa, porém, que não nos desviemos do núcleo do problema: ele mora no nosso interior.
A mudança tem de começar, pois, dentro, no fundo. Fazer profecia tem de ser um desígnio global. É bom chamar a atenção para o que está mal lá fora. É imperioso emendar o que não está bem...cá dentro!