O cristianismo é, geneticamente, paradoxal. Ele oferece Deus no Homem, o Eterno no Tempo.
Na visita pascal, anunciamos a ressurreição e transportamos o Crucificado.
Antes de mais, é muito difícil figurar um corpo ressuscitado. Nem os discípulos reconheceram Jesus: era o mesmo mas com uma configuração diferente.
Tem muito sentido transportar a Cruz em dia de Páscoa porque o que ressuscita é o mesmo que morre; o que volta à vida é o mesmo que dá a vida; se não morresse não ressuscitaria; o grão de trigo, para dar fruto, tem de morrer.
Não é, pois, em vão que Jürgen Moltmann usa paradoxais expressões como «ressurreição do Crucificado» e «cruz do Ressuscitado».
O mistério de Cristo é sempre global, não se pode segmentar ou clivar. Foi a pensar n'Ele que von Balthasar escreveu que «a verdade é a totalidade». Jesus integra a glória no sofrimento e eleva o sofrimento à glória.
Eis, por isso, a maior fonte de esperança para quem sofre: Ele sofre connosco, nós sofremos com Ele. Nós podemos vencer o sofrimento e a própria morte. Com Ele. Só com Ele. Sempre com Ele.