O problema maior, hoje, é a desvalorização do outro.
«Na nossa sociedade, há muitas pessoas que são oprimidas e humilhadas em dois contextos importantes: no trabalho e na escola».
Esta é uma das ideias acutilantes da entrevista de fundo que o Prof. António Coimbra de Matos concede à Tabu.
O que mais lhe custa «é a violência contra quem tem menos força».
Refira-se que, apesar dos seus 80 anos, continua a trabalhar cerca de dez horas por dia.
Este psiquiatra é oriundo de Galafura, embora tendo nascido na Lixa, e tem uma obra extensa.
Devo dizer que tudo o que tem que ver com a Psicologia e Psiquiatria sempre me interessou. O perscrutamento da alma humana é sempre importante e traz sempre novidades.
Coimbra de Matos tem um pensamento original, às vezes provocador. Assume que aprendeu mais com os seus pacientes do que com os seus mestres.
Denuncia o anonimato da sociedade contemporânea. «Sou do tempo em que, se encontrávamos um indivíduo caído na estrada, parávamos o automovel e íamos ajudar». Actualmente, faz-se vista grossa. Ninguém está para se incomodar.
Considera que o nível dos alunos é melhor nos tempos que correm: «mais cultos, mais abertos, mais capazes de se interrogar. O grave é a ratio professores/alunos. No ISPA dei aulas para 200 alunos. Isto é um disparate».
Freud não lhe desperta interesse. «Na ciência, o que tem interesse é aquilo que se observa com os pacientes».
Assume que «a ciência não é um credo, é uma investigação; portanto, o conhecimento é sempre provisório e incerto».
Um alerta final: «a sociedade contemporânea está a deprimir as pessoas».
Enfim, matéria vasta para reflectir. E, se possível, inflectir.