Um perigoso sintoma infecta, presentemente, a nossa vida cívica.
Trata-se do afrouxamento das motivações e do travestimento de certas atitudes.
Todos sabemos que a denúncia é necessária, indispensável.
Só que, por negligência, incúria ou pura indolência, substituímos a denúncia pela delação. Sobram cada vez mais casos de delação.
Com a injustiça poucos se preocupam. Com a pobreza muitos não se inquietam. Não há levantamentos populares nem se erguem vozes.
Em contrapartida, multiplicam-se os que se afadigam em publicitar o que é dito no corredor de uma repartição ou até no interior de um gabinete.
O ressentimento consegue ser mais forte que o sentimento. Sobretudo o sentimento nobre.
Se é assim que se pensa progredir na carreira ou subir na vida, triste carreira e pobre vida essa. Antes pobre e honrado.
Calem-se os delatores. Voltem os profetas. Restaure-se a confiança.
Procuremos que a nossa consciência nos conforte. E não que os aplausos nos afaguem. Até porque quem nos aplaude hoje não terá pejo em nos trair amanhã.
A História é (mesmo) mestra da vida...