O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 14 de Março de 2010

Obedecer é sempre aconselhável. Mas, em certos momentos, desobedecer pode ser inevitável.

 

Confesso que até a mim me arrepia a soberana liberdade de Jesus. E assumo que tenho muita dificuldade em imitá-Lo. As convenções são muito fortes. E as pressões acabam por se fazer sentir.

 

O Evangelho do próximo Domingo (o quinto da Quaresma) descreve-nos uma situação em que Jesus Se demarca nitidamente da Lei.

 

Prescrevia esta que toda a mulher apanhada em adultério fosse apedrejada. Era a Lei e ponto final.

 

Como bom judeu, era de esperar que Jesus sufragasse a Lei, embora os Seus coetâneos já palpitassem que a Sua conduta era pautada por outro tipo de referências. Ele não veio para revogar o antigo, mas também nunca Se eximiu a introduzir o novo.

 

E, uma vez mais, Jesus desconcertou. Não disse que a mulher procedeu bem. Mas não apoiou a condenação.

 

Era tão fácil dizer: «Cumpra-se a Lei».

 

Em momentos de crise, desobedecer pode ser uma necessidade, um imperativo. No fundo, obedece-se a uma lei maior: a lei do amor, a única lei.

 

Daí que o profeta Isaías, que também ouviremos no próximo Domingo, se faça eco da palavra de Deus: «Vou fazer convosco algo de novo».

 

A novidade de Jesus ainda não está superada. Nem devidamente acolhida.

 

Urge saber discernir. Se os nossos capitães fossem formalmente obedientes, ainda não estávamos em democracia.

 

Se Lech Walesa fosse formalmente obediente, a Polónia e o leste europeu ainda estariam sob uma ditadura.

 

A obediência é, em si mesma, um bem. Mas, em certas alturas, pode haver um bem maior que requeira a desobediência.

 

Esta liberdade de discernir segundo os ditames da consciência ( o santuário secreto de que fala o Vaticano II) é um dom de Deus. É um sinal de fidelidade ao espírito do tempo e ao tempo do Espírito.

publicado por Theosfera às 19:01

De António a 14 de Março de 2010 às 19:44
A sua forma de expor é muito cativante, estimado Padre João António. Se há uma forma superior de Catolicismo, e há, esta é, sem dúvida, essa forma superior. Nada me separa dos bons católicos, como nada me separa de todas as pessoas de Bem. Este texto é muito belo e, como sempre, repleto do seu correcto sentido do Divino e de Humanidade. Eu penso que a Lei do Amor é incompatível com a Lei da Inclemência. E, por isso, acho que Cristo veio revogar, sim, toda a lei iníqua, onde quer que estivesse ou esteja, incluindo no Antigo Testamento. Porque, das duas uma: ou a lei que mandava apedrejar as mulheres adúlteras era de inspiração divina ou não era. Cristo foi interpelado por aqueles que queriam lapidar a mulher adúltera com base na Lei de Moisés, tida de inspiração divina. Cristo foi sábio na forma como respondeu, mas, nesse momento, fez a ruptura clara com essa lei iníqua. Essa passagem do Evangelho põe em causa, não apenas a lei moisaica, mas também a pena de morte…

De Theosfera a 14 de Março de 2010 às 21:23
Muito obrigado, bom Amigo. Não tenho dúvida de que Jesus era completamente contrário à pena de morte. Ele veio dar a vida, não tirar a vida... Deus o abençoe. Abraço amigo no Senhor.


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