1. Um dia, tudo isto acaba. Acaba o pequeno, mas também acabará o que se considera grande. Acaba o frágil, mas também acabará o que se julga forte.
Acabarão as estrelas, os planetas e as galáxias. Acabarão as grandezas, as pompas e as ambições. Acabarão as guerras, as raivas e os ódios. Acabarão as pisadelas, as rasteiras e as agressões.
2. O que ficará depois de tudo terminar? Os vencedores não sobrevivem muito aos vencidos.
Também eles caem. Também eles morrem.
3. É, porém, tarde — muito tarde — que percebemos isto. É tarde — muito tarde — que notamos que as nossas vitórias são tão vazias como as derrotas dos outros. Para quê matar se os que matam também morrem?
No fundo, é bem efémero o «sabor» de certos triunfos. A longo prazo, nada nos garantem. Não nos tornam donos do tempo, nem fazem parar os anos. Afinal, os poderosos também são débeis.
4. Ao contrário do que sucede com a natureza, no homem a Primavera não se repete.
O Inverno, para o ser humano, é a última estação. Talvez seja a melhor. Porque nos conduz à eternidade, ao fim sem fim.
5. Quando os anos passam e o tempo avança, notamos que já escapamos à morte muitas vezes. Que já vencemos a morte muitas vezes. Que, no fundo, já morremos muitas vezes.
Estamos a caminho da derradeira estação. Já só falta morrer a última vez?
6. Na morte, não acabamos apenas de viver. Acabamos também de morrer.
A experiência diz que, habitualmente, morre-se conforme se vive. Daí que Marguerite Yourcenar descreva a morte como corolário, não como destruição: «A morte surge como uma consagração de que só os mais puros são dignos: muitos homens desfazem-se, poucos morrem».
7. Num certo sentido, viver é — ou devia ser — aprender a morrer.
Acontece que Deus é «morticida». Ele mata a morte. Quem vive em Deus vive para sempre.
8. É por isso que, mesmo quando tivermos de nos separar, não deixaremos de continuar unidos.
É claro que a separação custa sempre. Mas nem a morte consegue separar aqueles que Deus uniu.
9. É neste sentido que, parafraseando S. João Crisóstomo, diria que onde estivermos, estarão também os nossos amigos.
Ainda que estejamos em lugares distantes, continuaremos sempre unidos.
10. Nada, nem a morte, poderá separar-nos. Em toda a parte nos reencontraremos.
A luz que a fé acende nunca se apagará!