Será que gostamos mesmo de árvores?
A pergunta parece estulta, mas a inquietação é pertinente. E, ademais, a dúvida já nem sequer é de agora.
Na década de 1960, João de Araújo Correia tinha a certeza de que «Portugal não gosta de árvores. Sacrifica-as porque dão sombra. Sacrifica-as porque dão beleza. Sacrifica-as porque dão saúde. Sacrifica-as porque dão flor. Há, em Portugal, quem sacrifique uma árvore porque lhe tapa a vista. Há quem a sacrifique porque lhe suja o telhado com meia dúzia de folhas. Há quem a sacrifique porque rumoreja. Há quem a sacrifique porque gorjeia. Há quem a sacrifique porque canta. Há quem a sacrifique porque é árvore». E, por isso, atiça-lhe o fogo.
Décadas depois, o escritor tinha muito que acrescentar.
Há quem imole as árvores porque não gosta delas. Porque não gosta de nada nem de ninguém.
Será que gostam de si próprios?