O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Quinta-feira, 05 de Setembro de 2019
  1. E eis que a Novena já chegou ao sétimo dia. Apesar do cansaço, aqui estamos para com Maria acompanharmos o Seu passo. Em compasso com o Seu brilho, estamos sempre mais perto do Seu Filho. Nunca é demais dizer que Jesus Cristo é a razão do nosso viver.

Sem Cristo, não há Igreja. Mas sem Igreja também não há plenamente Cristo. Sem Cristo, nunca saberemos o que a Igreja é. Mas sem a Igreja só poderíamos dizer que Cristo foi. Acontece que nenhum de nós, cristão, afirma que «Cristo viveu». Todos nós, cristãos, testemunhamos que «Cristo está vivo».



  1. Cristo está vivo precisamente na Sua Igreja, o Seu novo corpo, do qual Ele é a cabeça e nós somos membros. É por isso que a Igreja é santa: santa na sua cabeça e no esforço que nós fazemos para ser santos. E é por isso também que a Igreja é pecadora: é pecadora em nós, seus membros humanos. Mas nem o nosso pecado ofusca a santidade da cabeça.

Temos, porém, que — imitando Maria — olhar sempre para Jesus. Se a Igreja se desligar de Jesus deixa de ser o que é. Como bem percebeu o então cardeal Joseph Ratzinger, «só «a Igreja de Jesus Cristo permanecerá», aquela que «acredita no Deus que Se fez homem».



  1. Pode acontecer que alguém pertença formalmente à Igreja e não acredite em Cristo. Não é impossível, mas é um monstruoso equívoco. Mas há igualmente quem abandone a Igreja quando nela se abandona Cristo.

A crise vocacional encontra aqui a sua radicação e, nessa medida, o segredo para a sua superação. Para viver como toda a gente vive, serão necessárias vocações de consagração? As vocações tenderão a diminuir sempre que as apresentarmos a partir do mundo; inversamente, propenderão a crescer sempre que as propusermos a partir de Cristo.



  1. Concretamente, ser padre não é estar configurado ao mundo. Ser padre é estar configurado a Cristo no mundo, para transformar o mundo a partir de Cristo. Haverá algo tão motivador como participar na transformação do mundo com o maior transformador do mundo?

Os padrões de êxito e fracasso, na avaliação da acção da Igreja, não podem ser os habituais. A colheita do que semeamos não se faz no tempo, mas na eternidade. Por tal motivo, «o apóstolo deve saber esperar» e o «sacerdote há-de aceitar, muitas vezes, sentir-se incompreendido». Quem está disposto a isso? Quem disposto a fazer o que não quer? Quem está disposto, como Maria, a fazer — apenas e sempre — o que Deus lhe disser?



  1. A Igreja não existe para que façamos a nossa vontade, mas para que a nossa vontade se vá modelando pela vontade de Cristo. Quem está na Igreja tem de saber — e de sentir — que está em Cristo. É por isso que, para a Igreja, viver só pode ser cristoviver.

Nenhum cristão pode viver de si nem para si. Todo o cristão tem de viver de Cristo, em Cristo e para Cristo. O cristão não vive, cristovive, ou seja, não vive sem viver em Cristo. São Paulo assim o atesta: «Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim» (Gál 2, 20). Cristoviver implica viver a vida de Cristo, carregar a Cruz de Cristo e participar da Ressurreição de Cristo.



  1. Nenhuma vida está excluída da cristovida. Não tenhamos medo de ir ao encontro de Cristo e não mostremos receio de ir ao encontro de tantos que clamam por Cristo. Não afastemos Cristo de ninguém e não afastemos ninguém de Cristo. Nunca esqueçamos isto: nada há mais belo do que viver em Cristo.

É muito fácil criticar a Igreja, bater na Igreja, censurar a Igreja, condenar a Igreja. Faz parte da sua natureza estar exposta, pelo que as suas fragilidades não estão escondidas. Tudo é escrutinado na praça pública sem qualquer recato e, por vezes, com suprema impiedade. Todos têm acesso ao que nela se passa e ao que dela se diz.



  1. Como rezava a conhecida máxima de Santo Ambrósio, a Igreja é «imaculada, mas composta por maculados» («immaculata ex maculatis»).

Não são, contudo, as nuvens que sobre ela pendem que ofuscam o sol que através dela brilha. É pela Igreja que encontramos Jesus Cristo. É a Igreja que nos dá Jesus Cristo. Assim sendo, como amar Cristo sem amar a Igreja?



  1. Pode acontecer — reconhece Henri de Lubac — «que nos desiludam muitas coisas que fazem parte da contextura humana da Igreja». Paradoxalmente, os que se assumem como sendo só do mundo são os que mais se sobressaltam quando a Igreja se igualiza ao mundo. Têm dificuldade em entender — ou aceitar — que, não sendo do mundo, a Igreja está no mundo. É, pois, natural que ela tanto ofereça o melhor que nele existe como reproduza o pior que nele se encontra.

De facto, nem sempre a diferença constitui a marca da sua presença. Na Igreja, tanto há santos como pode haver criminosos. E, para alguns, o mais intrigante é que ela não desiste dos segundos. É que nem a esses a Igreja deixa de chamar — até ao limite — à santidade.



  1. É quando o reflexo da presença de Deus parece mais ausente que o testemunho há-de estar mais presente. O caminho não é, pois, a dissidência, mas a persistência. Daí o apelo de São João Crisóstomo: «Não te separes da Igreja». Apesar de todas as suas fraquezas, «nenhum poder tem a sua força; ela é mais alta que o Céu e mais dilatada que a Terra».

Nos momentos de maior obscuridade, a Igreja tem de intensificar, ainda mais, a sua única missão: tornar presente Cristo nos homens. Ela deve mostrá-Lo e dá-Lo a todos. E há-de fazer tudo para que aquilo que é plenamente visto na sua cabeça seja mais visível nos seus membros. O que ela é para nós, é fundamental que o seja também através de nós.



  1. Neste sentido, ela há-de ser simultaneamente cristo-centrada e antropo-vertida, isto é, centrada em Cristo e voltada para o homem. O «amor fraterno» (1Tes 4,9) foi sempre visto como o testemunho mais convincente da fé. Permiti que termine esta homilia com uma declaração de amor à nossa Mãe Igreja. É nos momentos mais difíceis — e a Igreja está a atravessar mais um momento muito difícil — que o nosso amor tem de ser mais forte, mais fiel e mais intenso:

«Amo-te, minha mãe, minha mãe Igreja. Amo-te, porque me dás o que ninguém mais me consegue dar: Cristo, Maria, os santos e o convívio diário com pessoas que exalam o incomparável perfume de Deus. Amo-te porque nem nos momentos de maior fragilidade desistes da nossa humanidade. Amo-te porque és tu que tens levado o Evangelho da paz e da esperança a tantos deserdados deste mundo. Amo-te porque és tu que queres aqueles que mais ninguém quer. Amo-te e quero-te mais do que nunca. É contigo que espero continuar a viver. E é nos teus braços que, um dia, quero morrer»!

publicado por Theosfera às 05:08

Hoje, 05 de Setembro (7º Dia da Novena de Nossa Senhora dos Remédios), é dia de Sta. Teresa de Calcutá, S. Bertino e S. Vitorino.

Um santo e abençoado dia para todos.

publicado por Theosfera às 00:00

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