O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Quarta-feira, 05 de Setembro de 2018
  1. No reino das palavras, também há acentuações e omissões, também preferências e discriminações. Há palavras que se dizem mais e palavras que se ouvem menos. Há palavras que se repetem quase sempre e palavras que escutamos quase nunca.

Uma vez que, como Jesus notou, «a boca fala da abundância do coração» (Mt 12, 24), a presença e a ausência das palavras acaba por mostrar o que mais nos move e comove, o que mais nos enche e preenche. O que se sente por dentro corresponde habitualmente ao que se diz para fora. Deste modo, quando uma palavra é muito repetida, é sinal de que interfere bastante na nossa vida.

 

  1. Hoje em dia, salta à vista — e aos ouvidos — que conjugamos muito, com os lábios e com a vida, os verbos «mandar», «impor» e «possuir». Acresce que estes verbos envolvem não apenas os que os «conjugam», mas também aqueles sobre os quais eles são «conjugados». É que quem «manda», «manda» sobre alguém. Quem «impõe», «impõe-se» contra alguém. E, muitas vezes, quem «possui», «possui» à custa de alguém.

Quando é que aprenderemos com Jesus — e com Maria — a conjugar mais os verbos «servir», «amar», «dar» e «entregar»? Jesus apresenta-Se no mundo como aquele que serve (cf. Lc 22, 27). E Maria, Sua Mãe, fez sempre questão de assumir que veio ao mundo para servir (cf. Lc 1, 38).

 

  1. Ao enviado de Deus, Maria declara-Se como Serva: «Eis a serva do Senhor» (Lc 1, 39). A Senhora identifica-Se como Serva do Senhor. Mais, Ela é considerada Senhora porque Se assume como Serva. O Seu senhorio está no Seu serviço. Se estivesse à frente de uma comunidade, Nossa Senhora não Se apresentaria como Superiora, mas como Servidora.

Eis o que faz Maria feliz: querer o que Deus quis. O Seu serviço começa logo neste compromisso. O segredo da santidade assenta nesta humildade. A santidade de Maria consistiu em deixar que Deus tomasse conta d’Ela. É isto que a torna bela.

 

  1. Neste dia sétimo do nosso itinerário, uma nova proposta nos é feita aqui, no Santuário. Em cada dia, sirvamos como Maria. É para servir que no mundo devemos agir. Só quem quiser servir tem legitimidade para intervir. Quem não viver para servir servirá para viver? O serviço tem de estar no centro de cada dia, como esteve sempre no centro de Maria.

Acontece que ainda temos muito para aprender. É certo que até prestamos bastantes serviços. Falta, porém, sentirmo-nos servos e servidores. Frequentemente quando servimos, servimos a partir de cima. Trabalhamos para as pessoas, mas nem sempre damos a devida atenção às pessoas. Temos a tentação de nos colocar por cima em vez de caminhar ao lado. No fundo, ainda não temos uma grande cultura da fraternidade.

 

  1. Maria sente-Se como «a Serva do Senhor» (Lc 1, 38) e bendiz a Deus por ter reparado na «humildade da Sua Serva» (Lc 1, 48). Enquanto Serva do Senhor, Maria dispõe-Se a ser Serva das pessoas. É, pois, como Serva que Maria Se apressa a visitar Isabel (cf. Lc 1, 39-40) e a prestar-lhe serviço. Não foi, portanto, uma mera visita de cortesia a visita que a Isabel fez Maria (cf. Lc 1, 36).

A visita de Maria foi uma visita serviçal. Com Isabel permanece três meses (cf. Lc 1, 39.56), em dedicação total. A Mãe do Senhor que Se faz servo começa cedo a antecipar o Seu serviço. Até no Seu ser Serva Maria antecipa-Se como discípula de Jesus. A Serva imita, por antecipação, o Servo que está no Seu coração. A maior dádiva que Maria tem para fazer é o Seu Filho ao mundo oferecer. Quando vai ter com Isabel, Maria já leva Jesus. É Jesus que Maria oferece quando o Seu serviço acontece.

 

  1. Como filhos de Maria, deve ser para servir que nos levantamos em cada dia. É para aprender a servir que aqui vimos, é para a todos servir que daqui saímos. Os cristãos existem para servir, a Igreja só existe para servir. Como Jesus, que veio «para servir»(Mt 20, 28), também a Igreja, novo corpo de Cristo, está no mundo para servir. É fundamental que, com Jesus e Maria, cada um de nós aprenda a servir, nunca a servir-se. Infelizmente, há uma tentação muito grande em servir-se dos outros em vez de servir os outros.

Não é por acaso — nada é por acaso — que o Concílio Vaticano II usa o verbo «servir» cerca de 20 vezes e emprega o vocábulo «serviço» 34 vezes. No passado, no presente e no futuro, a Igreja só tem uma finalidade: servir a Deus e os outros. Foi o que Jesus e Sua Mãe fizeram. E como Eles fizeram, façamos vós também (cf. Jo 13, 15).

 

  1. A primeira atitude de serviço é, sem dúvida, a atenção. Estejamos, pois, atentos. É que, às vezes, até quando servimos os outros, corremos o risco de estar muito centrados em nós. Até quando servimos os outros, corremos o risco de olhar para eles através de nós. O serviço é belo quando é despojado. Despojemo-nos, então, de nós e estejamos mais atentos aos outros.

Servir é também — e antes de mais — escutar, acolher, acompanhar. O melhor presente é sempre o presente da presença. Como hoje conseguimos fazer muita coisa à distância — basta um clique —, há o perigo de estarmos pouco presentes na vida das pessoas. O tempo já é muito curto; não o encurtemos mais quando estamos com Deus e com as pessoas.

 

  1. O primeiro — e melhor — serviço que podemos prestar é às pessoas Deus levar. Mesmo que as pessoas não o digam, é de Deus que mais precisam. Levemos, então, Deus a quem por nós passar para que a vida de tanta gente se possa transfigurar. Levemos Deus em forma de palavra, mas também em forma de testemunho, em forma de gesto, em forma de doação, em forma de reconciliação.

Junto de todos estejamos à disposição e com todos procuremos uma atitude de conciliação. E não sirvamos apenas aqueles que nos chamam. A todos mostremos como Jesus e Sua Mãe os amam. O mundo só mudará quando o serviço do poder der lugar ao poder do serviço.

 

  1. Nunca nos coloquemos acima de ninguém. Afinal, cada ser humano é nosso irmão também. Caminhemos ao seu lado para que ninguém fique abandonado. Para Jesus, os primeiros não são os que mandam, mas os que servem. É do Mestre a recomendação: «Quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se servo de todos» (Mc 10, 43). Não é, pois, em «bicos de pés» que te mostras melhor do que és. Pelo contrário, é no serviço humilde e oblativo que mostraremos que, em nós, o Evangelho está vivo.

A Igreja dos começos era conhecida pelo serviço mútuo entre os seus membros (cf. Mc 10, 43-44). O «vede como eles [os cristãos] se amam», de que fala Tertuliano, fez mais pela difusão do Evangelho do que muitos tratados e sermões. Os dirigentes das comunidades cristãs ainda hoje são designados «ministros», palavra que remete imediatamente para a ideia de serviço. É que, na raiz de «ministro» está «minus», ou seja, o menor, o mais pequeno. Era neste preciso sentido que Santo Agostinho desejava que os pastores falassem «como ministros e não como mestres»!

 

  1. Temos muito que aprender e ainda muito mais para viver. Não nos esqueçamos, então: em cada dia, sirvamos como Maria. A nossa Mãe é, toda Ela, uma «escola de serviço» e doação. Perto d’Ela, estamos perto de cada irmão. Façamos os nossos pedidos a Maria, valendo-nos da Sua poderosa intercessão. Mas, acima de tudo, ponhamo-nos ao serviço da missão.

Nossa Senhora dos Remédios, que tão bem servistes Maria e José, avivai a nossa fé. Ajudai-nos a perceber que só servindo tem sentido viver. Desamarrai-nos do nosso eu e enxertai-nos no Evangelho que Jesus nos deu. Que servir seja sempre a nossa alegria como foi a Tua, querida Mãe, Maria!

publicado por Theosfera às 08:00

Hoje, 05 de Setembro (7º Dia da Novena de Nossa Senhora dos Remédios), é dia de Sta. Teresa de Calcutá, S. Bertino e S. Vitorino.

Um santo e abençoado dia para todos.

publicado por Theosfera às 00:00

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