O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Sábado, 01 de Setembro de 2018

 

  1. Vamos, então, neste terceiro dia, voltar a aprender com Maria. Nesta manhã, em que de novo aqui estamos a «novenar», com Ela vamos aprender a rezar. É que, na Sua humildade e discrição, Maria desponta como mestra de oração. O objectivo é que, em cada dia, rezemos como Maria. É bom rezar, mas não é bom rezar de qualquer maneira. Aprendamos, por isso, com a nossa Mãe e «Madroeira». Que Ela nos ensine a bem rezar a vida inteira.

Como reconhece São Paulo, nem sempre sabemos rezar como convém (cf. Rom 8, 26). Com Maria, aprendamos pois a arte de rezar bem. É muito bom rezar. Mas é ainda mais belo saber rezar. Para aprender a rezar, precisamos de um guia. Haverá melhor guia que Maria?

 

  1. Se, como notou Hans Urs von Balthasar, «Maria governa escondidamente a Igreja», então Ela está em condições únicas de nos orientar na arte da oração. Desde logo, Maria ajuda-nos a criar um ambiente propício para a oração. E, nessa medida, faz-nos perceber a amplitude da oração. É que, por hábito, quando rezamos, temos a tendência que só exercitar uma parte da oração.

Não há dúvida de que rezar é falar com Deus. Mas isto não é a totalidade — nem a prioridade — da oração. Rezar é falar com Deus, mas é também — e antes de mais — deixar que Deus nos fale. É por isso que o espaço natural da oração é o silêncio. É por isso que a atitude predominante em Maria é o silêncio.

 

  1. O silêncio de Maria não significa recusa de comunicação. Pelo contrário, ele sinaliza uma total disponibilidade para a comunicação. Maria percebeu que, para haver comunicação, não basta mobilizar os lábios; é necessário mobilizar também os ouvidos. Para diálogo haver, a escuta tem de acontecer. Se só nos habituamos a falar, como poderemos pretender que os outros nos queiram escutar?

Maria é, sem dúvida, mulher da palavra: não só, porém, da palavra proferida, mas também (e acima de tudo) da palavra acolhida. Maria ensina-nos, assim, que a palavra, antes de chegar aos lábios, tem de fermentar na alma e brotar do coração. Era, aliás, no Seu coração que Maria tudo ouvia, tudo guardava e tudo recolhia (cf. Lc 2, 19).

 

  1. Com admirável maturidade, Maria compreendeu que o silêncio é muito diferente do mutismo. Estar em silêncio não é o mesmo que estar mudo. Como assinalou François Varillon, «o mutismo é um vazio de palavra, nascido de um vazio de alma; pelo contrário, o silêncio é o alimento da palavra». Maria assim entendeu e foi no meio do silêncio que a Palavra nasceu.

Não é por acaso que a Palavra feita carne (cf. Jo 1,14) veio ao mundo através do silêncio de Maria. Foi no silêncio que Maria concebeu e foi no silêncio que o Seu Filho nasceu. A Anunciação foi um acontecimento de interioridade. A palavra do Anjo foi ouvida porque em silêncio Maria estava recolhida. O Espírito que Maria fecundou no Seu silêncio acolhimento encontrou.

 

  1. Temos de reconhecer que, também na oração, ainda há muito para aprender. A nossa oração ainda é muito barulhenta, muito ruidosa e bastante palavrosa. Para a oração, costumamos vir abastecidos com muitas palavras e pouco disponíveis para acolher a Palavra. No fundo, trazemos muito de nós, pedimos muito para nós e queremos levar muito connosco. Não devia ser a oração uma oportunidade para sair de nós? Mas para isso acontecer a divina Palavra temos de acolher.

O que Maria mais nos ensina — e, desse modo, nos ilumina — é a pormo-nos inteiramente nas mãos de Deus. Não é mal pedir o que precisamos. Mas, antes de mais, é ao serviço de Deus que nos colocamos. Maria não pediu que Deus fizesse o que Ela pretendia. Maria dispôs-Se a fazer em Si o que Deus queria.

 

  1. «Faça-se em Mim segundo a Tua Palavra» (Lc 1, 38). Foi esta a grande oração de Maria. Assim possamos rezar nós em cada dia. Fazer a vontade do Senhor eis o que, no fundo, revela o nosso amor. Para Maria, a oração é sobretudo um exercício de disponibilidade e uma certificação de fidelidade. Não é para isso que estamos no mundo, isto é, para fazer a vontade de Deus?

É verdade que ainda temos um longo caminho a percorrer. Uma grande conversão dentro de nós tem de acontecer. Mas se as dificuldades são grandes, as possibilidades são infinitamente maiores. O Espírito que fecundou Maria também está dentro de nós, em cada dia. Habituemo-nos, pois, a escutar e a nossa vontade saibamos a Deus consagrar. Os nossos lábios assim o repetem: «Seja feita a Vossa vontade» (Mt 6, 10). Que a nossa vida assim o mostre e que a vontade divina sempre prevaleça.

 

  1. Quando na Casa de Deus entrarmos, pensemos que, antes de estarmos num monumento, encontramo-nos num templo. Por isso, antes de olharmos para as paredes, para os vitrais ou para os retábulos, recolhamo-nos em oração. Fechemos os olhos e deixemo-nos visitar por Aquele que aqui habita. Este lugar até tem o nome de «Santuário», que quer dizer «lugar santo». Respiremos, pois, aqui a santidade de Deus. Não nos dispersemos com conversas e distracções. Em Deus centremos os nossos corações.

Fechemos os olhos e tentemos respirar o silêncio. Procuremos escutar Aquele que nos fala sem falar. De facto, Deus até no silêncio fala. Como notavelmente percebeu São João da Cruz, Deus proferiu apenas uma palavra e proferiu-a em silêncio. A palavra que Deus proferiu — e continua a proferir — em silêncio é o Seu Filho (cf. Jo 1, 1). Foi esta Palavra que Se fez carne e habitou entre nós (cf. Jo 1, 14). Foi esta Palavra que, de Belém a Jerusalém — da manjedoura até à Cruz — nos mostrou quem é Deus.

 

  1. Já no século I, Santo Inácio de Antioquia nos exortava a que estivéssemos atentos ao que Deus faz — e diz — em silêncio. Maria está sempre a mostrar-nos que Deus é Palavra dita em silêncio. Foi talvez por isso que o monge Dionísio, da Cartuxa, verbalizou que «Deus é silêncio e as coisas são o eco infinito do Seu eterno calar».

Aprendamos, então, a fazer silêncio para escutar o que, em silêncio, Deus nos diz. Enchamos o nosso santuário com o nosso silêncio. E não ousemos abafar, com os nossos ruídos, o fecundíssimo silêncio de Deus.

 

  1. A iniciativa é sempre de Deus. E, como indica o Livro do Apocalipse, Deus está continuamente à nossa porta para nos chamar (cf. Ap 3, 20). Se não fizermos silêncio, como é que havemos de Lhe responder? Para a nossa Mãe olhemos e o Seu exemplo contemplemos. Com o Seu silêncio profundo, Maria gerou o Salvador no mundo. É por Maria, no silêncio de Belém, que Deus ao nosso encontro vem.

Em cada dia, rezemos sempre como Maria. E nunca esqueçamos de Lhe agradecer o Jesus que Ela nos vem oferecer. Habituemo-nos a louvar e outro sabor a nossa vida irá ganhar. E quando chegar a hora de pedir, as nossas preces a Mãe saberá ouvir. Para o Seu Filho Ela tudo encaminha. Por isso, a nossa alma jamais estará sozinha.

 

  1. Também na nossa terra — ninguém aqui o desmente — o silêncio de Maria é deveras eloquente. Sem nada dizer, é muito o que a nossa Mãe está sempre a fazer. Sem dizer nada, Ela faz muito. Com o Seu silêncio, é Ela quem mais longe leva o nome de Lamego. É, pois, muito o que Nossa Senhora dos Remédios tem feito por Lamego. E Lamego que tem feito por Nossa Senhora dos Remédios? Tem feito o que pode. Mas deverá certamente fazer muito mais.

É graças a Nossa Senhora dos Remédios que Lamego chega a todas as partes da terra. É graças a Nossa Senhora dos Remédios que de todas as partes da terra há quem venha até Lamego. Vamos, pois, expressar-Lhe a nossa gratidão, abrindo-Lhe as portas do nosso coração. E nunca esqueçamos a Eucaristia quando aqui viermos em romaria. Neste tempo de festa, pensemos que a nossa terra não tem jóia como esta. Que a nossa Mãe e Padroeira (ou «Madroeira») esteja sempre à vossa beira. E vos acompanhe ao longo da vossa vida inteira!

publicado por Theosfera às 08:00

Hoje, 01 de Setembro (3º Dia da Novena de Nossa Senhora dos Remédios), é dia de S. Miguel Ghébré e Sta. Margarida de Riéti.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

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