- Eis-nos, de novo, aqui a peregrinar. À Casa da Mãe estamos sempre a voltar. Vamos, então, continuar a «novenar». Neste segundo dia da Festa, a beleza de Maria vamos outra vez contemplar para que a Sua vida sejamos capazes de imitar. Esta Novena tem um tema que, para a nossa vida, pode servir de lema: «Em cada dia, façamos como Maria».
Saiamos daqui com a disposição de fazer sempre esta associação entre «cada dia» e «Maria». Se fizermos como Maria procurou fazer, a nossa vida outro rumo irá ter. Maria é, para nós, escola de fidelidade e de persistência. Ela é, pois, guia seguro para a nossa existência. Que melhor «remédio» nos pode ser dado do que este Coração Imaculado?
- Que podemos, então, fazer como Maria? Antes de mais e acima de tudo, podemos aprender a acreditar. Maria é lição de fé. Acreditar como Maria tem muito de risco e ousadia. Maria ensina-nos a acreditar sem qualquer humana segurança esperar. Basta Deus querer para que o «sim» possa acontecer. Isabel declarou Maria feliz por ter acreditado no que Deus quis (cf. Lc 1, 45).
É por isso que de Maria nos vem um grande ensinamento. Será que estamos disponíveis para o aprender em cada momento? É muito o que sobre a fé Maria ensina. É muito belo o que sobre a fé Maria nos ilumina.
- Maria acredita para lá de toda a evidência. O que da parte de Deus Lhe é pedido humanamente parece não ter sentido. Ser Mãe e Virgem permanecer é algo impossível de acontecer. Bastou, porém, uma celestial garantia para que total disponibilidade se acendesse em Maria. Se para Deus não há impossível (cf. Lc 1, 37), então que o «sim» se torne bem audível.
Foi com um «sim» que Maria respondeu. Foi a partir desse «sim» que a salvação aconteceu: «A Vossa Palavra em Mim se faça» (cf. Lc 1, 38). Foi essa Palavra que inundou Maria de graça.
- Qual é, então, o segredo da fé de Maria? É deixar-se conduzir por Deus, é querer o que Deus quer. Para Maria, acreditar é viver segundo Deus, de acordo com a Sua vontade. Maria como que Se expropria — e aliena — para que Deus entre totalmente em cena. Jesus mandou-nos pedir o que precisamos (cf. Mt 7, 7), mas, antes disso, ensinou-nos a pedir que se faça sempre a vontade do Pai (cf. Mt 6, 10).
Grande é, por isso, a sabedoria de Maria. Ainda antes de Jesus pregar, o Seu coração como que já tinha aprendido a escutá-Lo. Maria quis sempre o que Deus quis. E foi assim que Se sentiu feliz. Maria é uma pessoa concentrada, mas, ao mesmo tempo, descentrada. O centro de Maria não é Maria. O centro de Maria é Jesus. Quando de Si Se descentra é no Seu Filho que Se recentra.
- No limite, podemos dizer que Maria não tem fé; a fé é que tem Maria. Do mesmo modo, também nós deveríamos ter fé; a fé é que nos deve ter, a nós. É que a linguagem da posse não combina com a linguagem da fé. De facto, não somos nós que possuímos Deus; é Deus que nos possui, a nós. Não somos nós os «senhores» de Deus; Deus é que é Senhor de nós.
Assim sendo, não podemos exigir que Deus faça o que nós queremos. Quando muito, podemos pedir. O que podemos — e devemos — é pedir que se faça sempre — e só — o que Deus quer. Se Deus nos conceder o que mais nos agrada, óptimo. Mas se Deus nos solicitar o que mais nos custa, porque é que não havemos de aceitar?
- A vontade de Deus aceitar é algo que nos pode custar. Mas nem por isso a devemos recusar. Não foi fácil para Jesus aceitar o caminho da Cruz. Como acontece a tantos de nós, Jesus também pediu para que da Cruz o livrasse (cf. Mc 14, 36). Mas imediatamente rogou para que o plano do Pai se realizasse.
Também para Jesus, não foi fácil aceitar a vontade do Pai. Como não haveria de ser difícil para nós? A vida está sempre a mostrar que aquilo que custa vale e aquilo que vale custa. O que tem valor não rima com facilidade. São as adversidades que mais nos ensinam. São as horas difíceis que abrem o que parece estar fechado. Não fujamos, pois, das dificuldades. Não estamos sós no mundo. Deus envolve-nos sempre com o Seu amor profundo. E, às vezes, é nos momentos de aflição que mais sentimos o calor da Sua mão.
- Nós, que tanto amamos Maria, será que procuramos imitar a fé de Maria? Ainda não teremos uma fé demasiado centrada em nós? Não nos costumamos até ufanar da fé que temos quando, como Maria, deveríamos deixar que fosse a fé a ter-nos a nós? São, sem dúvida, muitas as vezes em que nos voltamos para este santuário. Aqui fazemos muitos pedidos. Mas será que fazemos o pedido mais importante, isto é, que queiramos o que Deus quer e que façamos o que Deus quer?
Afinal, a nossa fé não saberá ainda muito a nós? Maria ajuda-nos a centrar a nossa vida em Cristo. Ainda temos muito que crescer nisto. O centro da nossa fé é Jesus Cristo, é Deus que Se revela em Jesus Cristo. A maior alegria que a Maria podemos dar é o Seu Filho adorar.
- Até nesta Casa ainda há um longo caminho a percorrer para que a centralidade de Jesus Cristo se faça ver. Infelizmente, nem sempre isso acontece e com certeza o coração de Maria connosco se entristece. Não é por mal, mas há coisas que não estão bem. O centro do Santuário é o Altar com o Sacrário. É aqui que está realmente Jesus, pelo que é para aqui que Sua Mãe nos conduz.
Era com pesar que um sacerdote, já falecido, dizia que o sacrário mais abandonado da nossa Diocese era este Sacrário de Nossa Senhora dos Remédios. Os ouvintes espantavam-se porque este sempre foi um lugar maciçamente visitado. O problema é que nem sempre a quantidade se traduz em compostura, em recato, em silêncio, em oração.
- O Sacrário devia ser um lugar de paragem e não apenas um fugaz lugar de passagem. Para um cristão, o Sacrário é o lugar prioritário. Há quem pense que mostra o seu amor por Maria indo logo a correr para a imagem da Sacristia. Era bom que percebêssemos que, se Maria quisermos honrar, o Seu Filho devemos adorar. É óbvio que não faz mal visitar a imagem de Nossa Senhora que está na Sacristia. Mas só o devemos fazer depois de ao Sacrário virmos ter.
Se, quando recebemos um convite, é pelo dono de casa que começamos os cumprimentos, também no Santuário é no Sacrário que devemos passar os primeiros momentos. Primeiro e no centro Jesus; depois, sim, visitemos a Mãe de Jesus. É essa a Lei que de Deus nos vem e é essa a vontade de Maria também. Tal como um jogo começa com a bola no centro, habituemo-nos também nós no Santuário a começar pelo centro: pelo Sacrário, por Jesus.
- A nossa vida é muito mais bela quando aprendemos com Ela, com a nossa Mãe. Neste dia — e em cada dia — imitemos a fé de Maria. Não ponhamos Maria no lugar de Jesus. Com Maria, aprendemos a estar sempre perto de Jesus. E, quando a esperança vacilar, acreditemos que o melhor da vida pode estar a chegar.
A vida tem mais beleza quando a deixamos visitar pela surpresa. Maria é a grande — e bela — surpresa de Deus. Não usemos Maria à nossa maneira. Vivamos como Maria a vida inteira. Nossa Senhora dos Remédios, atendei as preces destes peregrinos. Acompanhai-nos nos nossos passos, tão pequeninos. Que o Vosso exemplo queiramos imitar. Nós sabemos que a Vossa protecção nunca nos vai faltar!