- A Escritura informa que Jesus chorou.
Mas, por muito que nos espantemos, nunca refere que Jesus tenha rido ou sequer sorrido.
- Jesus chorou sobre Jerusalém (cf. Lc 19, 41). Chorou quando Lázaro morreu (cf. Jo 11, 35). E chorou perante a proximidade da Sua própria morte (cf. Heb 5, 7).
Sucede que, além de chorar, Jesus ousou proclamar felizes os que choram (cf. Mt 5, 4).
- Trata-se, sem dúvida, de uma provocação.
É que, como observa o Papa Francisco, o mundo coloca a felicidade «no entretenimento, no prazer, na distracção, no divertimento».
- E o certo é que não faltam iniciativas nem espectáculos para «fazer rir».
Quem gastaria dinheiro para ir a uma sessão que pretendesse «fazer chorar»? Dir-se-á que, para chorar, já basta a vida.
- Que felicidade poderá haver para quem chora (cf. Mt 5, 4)?
Tudo parte, porém, do padrão de felicidade. Enquanto o mundo encontra a felicidade no «receber», para Jesus a felicidade está sobretudo no «dar» (cf. Act 20, 35)
- Como bem explica o Papa Francisco, chorar é frequente em quem se dá, em quem «tem a coragem de compartilhar o sofrimento alheio».
Chorando com os que choram (cf. Rom 12, 15), a pessoa descobre que a vida só tem sentido socorrendo — e aliviando — os outros. Haverá maior fonte de alegria?
- É claro que rir não é mal e sorrir é mesmo muito bom. Designadamente quando não nos rimos dos outros e sabemos sorrir para os outros.
Há, no entanto, que ir mais longe. Estando a felicidade associada aos que (sor)riem, Jesus adverte para que não a distanciemos dos que choram.
- É igualmente para os que choram que Ele faz um decidido convite à alegria: «Alegrai-vos e exultai» (Mt 5, 12).
O (sor)riso não detém o exclusivo da alegria. Já não foram vertidas pela nossa face tantas «lágrimas de alegria»?
- Acresce que a Bíblia não ignora que Jesus também teve momentos de alegria.
Foi o que aconteceu quando agradeceu ao Pai por ter ocultado as verdades eternas aos sábios revelando-as aos pequeninos. Nessa altura — sublinha o texto sagrado — Jesus «estremeceu de alegria» (Lc 10, 21).
- Isto significa, desde logo, que pode haver alegria para lá do (sor)riso. Rindo ou chorando, o que importa é perceber que a verdadeira alegria está em Deus.
Ao trazer-nos Deus, Jesus traz-nos também a Sua alegria. E só n’Ele a nossa alegria será completa, total (cf. Jo 15, 11).