- Bela é a Liturgia que se faz ouvir.
Mais bela é a Liturgia que nos deixa ver.
- A beleza da Liturgia não vem apenas pelos lábios nem se destina somente aos nossos ouvidos.
Uma Liturgia é supremamente bela quando nos permite ver (até) para lá do visível.
- Percebe-se, assim, que a Liturgia convoque especialmente os ouvidos da alma e o olhar do coração.
É por isso que o ambiente exterior deve ser leve, muito recatado. Se nos fechamos em demasiados «significantes» (palavras, gestos e ornamentos), como nos abriremos ao respectivo significado?
- Joseph Ratzinger comparou a Liturgia a um «fresco» que, durante séculos, foi coberto por «reboco».
Eram as fórmulas e as orações particulares que quase ocultavam o que se passava na Liturgia.
- O movimento de renovação litúrgica procurou «desrebocar» a Liturgia, desocultando a sua beleza e tornando-a acessível a todos.
Tal movimento foi iniciado por Romano Guardini através do livro «O Espírito da Liturgia». A sua publicação ocorreu há precisamente cem anos, na Páscoa de 1918.
- Acontece que, hoje em dia, há o perigo de um novo ocultamento.
Ele foi anotado por Joseph Ratzinger numa obra cujo título faz replicar o referido texto de Guardini: «Introdução ao Espírito da Liturgia». Aí se alude a «reconstruções e restaurações falhadas», que pouco — ou nada — têm que ver com a Liturgia.
- Nos tempos que correm, já não há orações privadas a sobrepor-se à Liturgia. Mas alguns improvisos, informalismos e protagonismos podem continuar a ofuscar a Liturgia.
Já ninguém «reza o Terço» enquanto a celebração decorre. Mas será que a assembleia é mais sensível ao mistério?
- Não esqueçamos que a Liturgia está centrada em Deus, não em nós.
O seu objectivo último é a adoração, não a nossa satisfação.
- Romano Guardini teve o cuidado de nos acautelar para o risco dos particularismos: «A Liturgia não diz “eu”; diz “nós”».
Daí que cada pessoa seja chamada «a abandonar o mundo de ideias e sentimentos em que vive, fazendo seu um mundo novo de pensamentos infinitamente mais amplo e mais rico».
- Na Liturgia, aquilo que encontramos é muito mais do que aquilo que levamos. A comunidade não menoriza a pessoa.
É em comunidade que a pessoa encontra os outros. E é sobretudo em comunidade que a pessoa se (re)encontra com Deus!