- Quem não se lembra do «Cristo partido»?
Pessoalmente, tenho dado comigo a pensar se nós, cristãos, não andamos, muitas vezes, a «partir» Cristo.
- O «Cristo partido» era uma imagem. Já o Cristo que nós (frequentemente) «partimos» é o Seu corpo.
Ao «Cristo partido» (celebrizado num conhecido livro de Ramón Cué) faltavam alguns membros. Ao Cristo que nós «partimos» não faltam «feridas» em muitos dos seus membros.
- Não esqueçamos que o Cristo total inclui também o corpo eclesial (cf. 1Cor 12, 12-31).
Fazendo nós parte de Cristo, não estaremos — com as nossas divisões — a concorrer para «partir» o Seu corpo?
- Em vez de oferecermos ao mundo o Cristo inteiro, parece que nos entretemos a apresentar um Cristo «quebrado», em «parcelas».
As nossas representações «hemiplégicas» acabam por exibir um Cristo «mutilado», «encolhido», «fragmentado».
- Será que um Cristo parcial tem alguma coisa que ver com o Cristo real?
O certo é que muitas discussões absolutizam tanto um determinado aspecto de Cristo que praticamente excluem outras dimensões do mesmo Cristo.
- Uns agarram-se a um Cristo só divino, que quase não é humano. Outros exaltam um Jesus apenas humano, que quase não é divino.
Ouvindo uns, Cristo é justiça sem perdão. Escutando outros, Cristo é perdão sem justiça. Uns acham que Cristo é lei. Outros entendem que Cristo é a anulação de todas as leis.
- Para uns, Cristo é somente passado, sem a menor abertura à renovação.
Para outros, Cristo é unicamente futuro, sem qualquer lugar para a tradição.
- Enquanto uns consideram que somos uma «Igreja apressada», outros preocupam-se por, supostamente, continuarmos a ser uma «Igreja adiada».
Para uns, Cristo é só liturgia, sem intervenção social. Para outros, Cristo é exclusivamente intervenção social, sem liturgia.
- Os últimos tempos mostram que a divisão é o grande «tópico», pelo que a unidade se afigura cada vez mais «utópica».
Como facilmente se pode depreender, o mal não está no que se afirma, mas no que se rejeita.
- Não é bonito que um cristão fale de outro cristão como se de um adversário (ou inimigo) se tratasse. Belo é acolher a diferença como um dom, não como um estigma.
Afinal, Cristo conta com cada um de nós. Todos temos o dever de O «repartir». O que ninguém jamais terá é o direito de O «partir»!