- A falta de chuva é, sem dúvida, motivo de apreensão. Mas será razão para alarme?
A situação é preocupante, mas não é inédita. E nem sequer é um exclusivo dos tempos recentes.
- No século XVIII, houve um ano (1752) em que não choveu praticamente durante três meses.
Acresce que esses não eram meses de Verão, mas de Outono, à beira do Inverno. Não choveu em Outubro, não choveu em Novembro e não choveu na primeira metade de Dezembro.
- A saúde das pessoas — e até dos solos — correu sérios perigos.
A esterilidade das águas era tal que secaram muitas fontes «de que não havia lembrança de que se exaurissem». Desencadeou-se, então, uma violenta epidemia que matou muita gente.
- Desamparados, os crentes voltaram-se para Deus e os lamecenses recorreram à intercessão da sua Padroeira.
Foi assim que resolveram marcar uma procissão para o dia 17 de Dezembro. Era Domingo, como vai ser este ano.
- Esta é a primeira procissão de Nossa Senhora dos Remédios de que há memória.
Ainda não havia Santuário. Os trabalhos de construção tinham começado a 14 de Fevereiro de 1750.
- O cortejo saiu com a imagem que, presentemente, está no trono.
Ela fora oferecida por D. Manuel de Noronha (em 1551) e encontrava-se (desde 1565) numa capela que existia no actual Largo dos Reis.
- Na sua descida à cidade, Nossa Senhora dos Remédios — invocada, neste aperto, como «Mãe das Misericórdias» — passou pela Sé, pelo Desterro e pelas Chagas.
Os meninos das escolas cantavam implorando o dom da chuva. Pediam também que cessassem «as enfermidades contagiosas que se tinham ateado, porque em muitas das pessoas em que deram foram raríssimas as que viveram».
- As preces foram atendidas. A chuva caiu com abundância e até por antecipação.
É que — não só depois do dia 17 de Dezembro, mas também antes do dia 17 de Dezembro — «a apetecida chuva regou abundantemente a terra árida».
- Providencialmente, aquele 17 de Dezembro foi um dia «de sol quente e sem vento».
Deste modo, a procissão pôde realizar-se sem sobressaltos e sem danos para roupas e alfaias.
- Diz o Cónego José Pinto Teixeira (a quem devemos todo este relato) que imediatamente se «aplacaram as malignas doenças».
Não faltará quem (sobranceiramente) sorria. Feliz, porém, é quem confia!