- O mundo nunca deixou de levantar dificuldades aos cristãos.
Tais dificuldades, porém, não impediram os cristãos de se afirmarem no mundo.
- É no mundo que estamos. Mas não é do mundo que somos.
Jesus não nos quer tirar do mundo (cf. Jo 17, 15), dado que é ao mundo que Jesus nos envia (cf. Mc 16, 15). Só que não é ao mundo que Jesus quer que pertençamos (cf. Jo 17, 16).
- Como sintetizou Paul Valadier, a condição cristã é «estar no mundo sem ser do mundo».
O cristão é um inconformista, não um resignado. Dele espera-se uma inquietação com o mundo, nunca uma aquietação ao mundo.
- Quando lemos textos de outrora, a nossa reacção costuma ser: «Outros tempos».
Sucede que a reacção deveria ser: «Outra atitude perante os tempos».
- É que os nossos antepassados situavam-se, quase sempre, em dialéctica, em tensão e, não raramente, até em oposição ao que viam no mundo.
O seu propósito não era transformar-se com o mundo, mas contribuir para transformar o mundo.
- Relativamente à fé, a leitura que faziam do mundo do seu tempo não diferia muito da leitura que tendemos a fazer do mundo do nosso tempo.
Também eles advertiam resistências à mensagem e obstáculos à missão.
- O que eles nunca admitiram foi seguir os critérios do mundo. O seu amor pela humanidade levava-os a propor o que tinham de melhor para o mundo, não o que mais agradava ao mundo.
E era assim que convertiam o mundo ao Evangelho no preciso momento em que vertiam o Evangelho no mundo.
- A Igreja nasceu missionária, não estacionária. Acontece que nós, até quando fazemos missão, aparentamos «estacionar» em cada situação.
Em vez de ler o mundo a partir do Evangelho, parece que nos limitamos a ler o Evangelho a partir do mundo. Portamo-nos mais como porta-vozes do mundo do que como portadores do Evangelho no mundo.
- Não percebemos que ajudamos mais o mundo sendo diferentes dele do que mostrando-nos iguais a ele.
Se o mundo nos vê como iguais, que necessidade sentirá de nós?
- Não esqueçamos jamais que o Vaticano II, a par do «aggiornamento», teve como grande prioridade a «refontalização».
Não se trata de voltar ao passado nem de retomar o antigo. Trata-se, simplesmente, de sermos arautos do perene. E o perene nunca deixa de ser actual!