- Mais uma tragédia cobriu de luto o nosso país. Sentimo-nos abatidos como sempre e, ao mesmo tempo, impotentes como nunca.
Por mais recomendações que se façam, por esta altura contamos sempre com uma vaga de incêndios. O que certamente não esperávamos é que, alguma vez, houvesse uma quantidade tão grande de vítimas mortais.
- Sucede que quem ouve os especialistas fica com a sensação de que tudo isto poderia ser evitado ou, pelo menos, atenuado.
Porque é que, só depois de acontecer, é que toda a gente parece saber o que fazer? Não será possível agir antes para não termos que lamentar depois?
- No rescaldo das tragédias, nada é esquecido e ninguém é poupado.
Na distribuição de responsabilidades e na transumância das culpas, até o próprio Deus é implicado.
- Também desta vez, perante as dantescas chamas de Pedrógão Grande, já surgiram as inevitáveis perguntas.
Porque é que Deus castiga assim as pessoas? Ou então: porque é que Deus não intervém?
- No mínimo, censuramos Deus pela inactividade. No limite, interpelamos Deus pela Sua presumida severidade.
Mas será que Deus castiga. Será que Deus não actua?
- Olhando para o que Jesus nos mostra acerca de Deus, uma coisa é possível garantir.
As tragédias não mostram a acção castigadora de Deus, mas a presença sofredora do Pai. Deus não castiga ninguém. Deus sofre com todos.
- Assim sendo, não peçamos a Deus a explicação para o que acontece. Acolhamos, antes, o amor que Ele sempre nos oferece.
E é sobretudo quando Ele parece mais ausente que Ele mais está presente.
- A partir da Cruz de Jesus, nós acreditamos que Deus estava com todos os que morreram no terrível incêndio de sábado.
E continuamos a acreditar que, a esta hora, todos os que morreram no incêndio de sábado estão com Deus.
- Deus nunca está ausente. Só que costuma destacar-Se por uma presença silenciosa.
Acontece que esta presença silenciosa não é inactiva, mas inteiramente solidária e plenamente compassiva.
- Deus faz Seu o que é nosso para que nós façamos nosso o que é Seu. Deus sofre connosco no tempo para que nós possamos ser felizes com Ele na eternidade.
É por isso que sentimos Deus a «arder» naquelas chamas de morte. Mas também pressentimos o mesmo Deus a entreabrir para todos uma eterna luz de vida.
- Sejamos nós como Deus. Com menos palavras e mais gestos.
Coloquemo-nos no lugar dos outros, sobretudo daqueles que partiram. Eles já estiveram onde nós estamos. Nós estaremos onde eles já estão.
- Afinal, num breve instante tudo muda. Não adianta construirmos castelos (aparentemente) muito fortificados. Também eles ruem, também eles caem.
Estamos aqui de passagem. Somos nómadas neste mundo. A viagem pelo tempo é acelerada e, quase sempre, termina depressa.
- Não nos portemos como donos e senhores, humilhando os outros. É que também nós somos finitos e limitados.
A verdadeira grandeza não está em pisar os pés, mas em dar as mãos. E em vivermos — sempre — como irmãos!