A. Não evocamos um ausente; testemunhamos sempre uma presença
- Nunca é demais insistir e é sempre fundamental recordar. Nós, os cristãos, não evocamos um ausente. Nós, os cristãos, somos continuamente chamados a testemunhar uma presença. Jesus não nos deixa órfãos (cf. Jo 14, 18). Jesus mantém-Se connosco. Jesus nunca cessa de estar connosco. De que modo? Pelo Seu Espírito, que é também o Espírito do Pai, o Espírito que Ele pede ao Pai para que no-Lo envie.
O Espírito, que é o amor que une eternamente o Pai e o Filho, é apresentado aqui como «Paráclito». Ou seja, é apresentado como «consolador», como nosso «defensor».
- É assim Jesus para connosco. A sua missão é consolação. É presença na nossa solidão. Ao ser o tempo do Espírito, o tempo da Igreja é o tempo da nova presença de Jesus Cristo ressuscitado. É assim que, no Seu Espírito, Jesus está vivo no meio de nós. Mais. É Ele que nos vivifica. É Ele que nos faz viver. É Ele que nos sacia e é Ele quem nos envia.
Foi certamente movido pelo Espírito que o diácono Filipe foi à Samaria anunciar Jesus. E, com esse anúncio, houve muita alegria na Samaria. E o Espírito que moveu Filipe também moveu Pedro e João para fazer descer o mesmo Espírito sobre os samaritanos (cf. Act 8, 14-17).
B. É o Espírito quem nos faz ver Jesus
3. É o Espírito que nos leva a estar sempre prontos a responder «sobre a razão da esperança que há em nós» (1Ped 3, 15). A razão da nossa esperança é precisamente Jesus e o Seu Espírito. É no Seu Espírito que Jesus volta para nós (cf. Jo 14, 18). Sem o Espírito Santo, não é possível ver Jesus.
«O mundo não Me verá — diz Jesus —, mas vós haveis de ver-Me» (Jo 14, 19). É o Espírito que nos permite ver Jesus. No fundo, é o Espírito que nos permite ver o invisível, dizer o indizível e conhecer o incognoscível. Sem o Espírito, só nos apercebemos dos limites; com o Espírito, somos surpreendidos pelas possibilidades. Sem o Espírito, achamos que possível é só o que acontece no tempo. Com o Espírito, verificamos que até o impossível se torna possível. Enfim, o Espírito é o grande combustível da fé. Afinal, qual é a nossa temperatura espiritual?
- Maria é alguém totalmente modelado pelo Espírito. Foi, aliás, pelo Espírito que Jesus Se fez Homem no Seu ventre. Foi o Espírito que trouxe Jesus até Maria e, por Maria, à humanidade. É por isso que, se Jesus é o Fundamento da Igreja, Maria é o Seu primeiro — e maior — modelo. Como Mãe e Discípula, é Maria quem melhor nos ensina a ser Igreja.
Maria ensina-nos a ser Igreja por fora e por dentro. Maria ensina-nos a ser Igreja não tanto em alta velocidade, mas sempre em alta-fidelidade. Maria é uma presença constante que nunca tem Deus distante. Só fiéis ao Espírito, como Maria, seremos uma Igreja da fidelidade e da persistência.
C. Não podemos ser só «cristãos de Maio»
5. O Espírito é o perene para estes nossos tempos apressados e velozes. É o Espírito que nos anima na fidelidade, na viagem que fazemos do tempo para a eternidade. É belo — e muito comovente — ver toda esta mobilização em torno de Maria. Maio parece ser uma procissão contínua e uma peregrinação constante. Mas não deixa de ser desolador notar como, até em Maio, muitos esquecem Jesus.
Não podemos ser só «cristãos de Maio». Às vezes, parece que não percebemos que temos de ser «cristãos de todos os dias» e não apenas «cristãos de Maio». Há quem teime em desligar Maria de Jesus e em separar a devoção a Maria da vivência da Eucaristia. Há quem pareça estacionar em Maria, não cuidando de se abrir a Jesus. Há quem dê sinais de olhar somente para a Mãe daquele Filho sem reparar no Filho daquela Mãe.
- O problema não está, obviamente, em Maria. Está em nós, quando desligamos o que Deus nunca separou: a Mãe e o Filho, Jesus e Maria. Será que já reparamos no estreitíssimo liame que «amarra» Maria a Jesus?
Não é, pois, Maria que nos afasta de Jesus. De resto, como poderia afastar-nos de Jesus quem está sempre a dar-nos Jesus? Quem procura Maria inevitavelmente encontra Jesus. Se alguém não encontra Jesus é porque, verdadeiramente, não procurou Maria.
D. Maria é a grande condutora na contemplação da obra redentora
7. Como é sabido, é vontade de Jesus que o homem não separe o que Deus uniu (cf. Mc 10, 10). E não é só cada família que Deus quer ver unida. É a inteira família humana que Deus quer ver reconstituída. Unir é a grande especialidade de Deus. Ele atrai os mais ausentes e até reaproxima os mais distantes. Maria esteve sempre unida a Jesus. Maria nunca Jesus abandonou. Foi a Jesus que Ela sempre Se dedicou.
É por isso que Maio não pode acabar em Maio. E, mesmo em Maio, é vital perceber que o maior louvor a Maria é a Eucaristia. Acertemos sempre a nossa romaria pela hora da Eucaristia. O Terço do Rosário é uma excelente ambientação para a celebração. E pode igualmente servir de fluxo entre o que se passa no templo e o que somos chamados a testemunhar no tempo.
- Quem o Terço recita a vida de Jesus medita. Maria é a grande condutora para a contemplação da obra redentora. Ela não quer adorada. Ela só quer ensinar-nos a adorar. A Sua maior alegria é que sigamos Jesus em cada dia (cf. Jo 2, 5). Só fazendo o que Jesus diz é que deixaremos Maria feliz.
Neste Domingo, ouvimos Jesus dizer que é imperioso aos Mandamentos obedecer (cf. Jo 14, 15). Quando aos Mandamentos se obedece, o amor a Cristo acontece: «Se alguém conserva os Meus Mandamentos e os pratica, esse é que Me tem amor» (Jo 14, 21). É, pois, pelo amor que estamos com o Senhor.
E. A «Hora de Maria» é a «Hora de Deus»
9. É o amor que nos faz aceder ao conhecimento. Nós conhecemos Jesus Cristo não por esforço nosso, mas por iniciativa de Deus: «Quem Me tem amor será amado por Meu Pai, e Eu amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele» (Jo 14, 21). Jesus manifesta-Se a quem (O) ama. E quem O ama não é quem Lhe declara amor, mas quem cumpre os Seus Mandamentos.
Os Mandamentos de Jesus são essencialmente três: o Mandamento Eucarístico («fazei isto em memória de Mim», 1Cor 11, 24), o Mandamento Missionário («ide por tudo o mundo e anunciai o Evangelho», Mc 16 15) e Mandamento do Amor («amai-vos uns aos outros como Eu vos amei», Jo 15, 12). No fundo, devemos amar não com o nosso amor, mas com o amor de Cristo. O que devemos é deixar que seja Cristo a amar os outros através de nós.
- Este mês de Maio obsequiou-nos, uma vez mais, com uma inundação de amor por parte de Deus. A «Hora de Fátima» é a «Hora de Maria» e a «Hora de Maria» é a «Hora de Deus», a hora do amor de Deus. Em Fátima, Maria inunda o nosso mundo com um amor profundo. É um amor exigente, o único que nos salva como gente. É um amor sem medida, aquele ao qual Maria nos convida. A Senhora da Mensagem acompanha-nos sempre, na nossa humana viagem.
Nós, que somos peregrinos de Fátima, deixemos que Fátima peregrine em nós. Não deixemos Fátima em Fátima. É fundamental trazer Fátima ao sair de Fátima. Há muita vida até Fátima, deixemos que haja Fátima na nossa vida. «Vestimo-nos» com a nossa vida para chegar a Fátima. «Revistamo-nos» de Fátima ao retomar a nossa vida. Fátima não pode ser apenas uma experiência diferente no meio de uma vida indiferente. Como bem notou São João Paulo II, Fátima é o Evangelho de sempre para os tempos de hoje. Fátima sabe a Evangelho. Como o Evangelho, Fátima é oração, penitência e conversão. É esta a «medicação» que há-de curar o nosso coração!