1. A primeira coisa a dizer sobre São Valentim é que ele se tornou tão popular que talvez nem tenha precisado de existir.
Nada, com efeito, é seguro acerca deste santo: nem os episódios descritos acerca da sua vida nem tão-pouco o número de santos com o seu nome. Há narrativas, com algumas semelhanças, sobre pelo menos dois santos chamados Valentim.
2. Foram todas estas indefinições que levaram a Igreja, em 1969, a deixar de celebrar oficialmente São Valentim.
No entanto, a tradição e — sobretudo — a forte pressão comercial em torno do Dia dos Namorados, que lhe está associado, determinaram que a sua figura continue a ser evocada.
3. Há referências a dois mártires com o nome Valentim como tendo vivido praticamente na mesma altura. Ambos eram comemorados a 14 de Fevereiro, patrocinando deste modo o Dia dos Namorados.
As raízes deste dia radicariam, entretanto, na Roma Antiga e na Lupercália, uma festa de homenagem a Juno, deusa associada à fertilidade e ao casamento. Havia uma lotaria em que os rapazes tiravam à sorte, de uma caixa, o nome da rapariga que seria a sua companheira ao longo das festividades.
4. Consta que estas festas decorreram durante cerca de 800 anos. Para dar um cunho cristão a esta festa, o Papa Gelásio I instituiu, em 496, o dia 14 de Fevereiro como o dia de São Valentim.
Ainda segundo a tradição, a comemoração de São Valentim como que prenunciava o início da Primavera, a estação do redespertar da vida e também do romance, pois é nessa época que os pássaros começam a preparar os seus ninhos.
5. Mas porque é que o nome de São Valentim aparece tão acoplado ao Dia dos Namorados? No século III, o império romano enfrentava muitos problemas, tendo em conta as numerosas derrotas militares.
Foi então que o imperador Cláudio II entendeu que a culpa era dos soldados casados. Por causa dos seus laços familiares, tornavam-se menos ousados nas lutas. À mais leve ferida, pediam logo dispensa dos compromissos para com o exército. Por tal motivo, proibiu a celebração dos casamentos.
6. Acontece que um sacerdote chamado Valentim, por considerar injusta esta medida, continuou a oficiar os casamentos dos soldados, mas em segredo. Quando soube da actividade de Valentim, Cláudio mandou-o prender e interrogou-o publicamente.
Só que as suas respostas foram tão sábias que o próprio imperador recomendou que escutassem o que ele dissesse. Em vez de o eliminar, enviou-o para uma prisão domiciliária, na residência do prefeito Astério, onde todos eram pagãos.
7. Ao chegar, Valentim foi informado de que o prefeito tinha uma filha cega. Comprometeu-se, então, a rezar pela cura da jovem, o que ocorreu alguns dias depois. Só que, nesse momento, já toda a família do prefeito se tinha convertido.
Este facto alterou a sua pena, sendo condenado a morte. No dia 14 de Fevereiro de 286, foi levado para a Via Flaminia, onde terá sido assassinado à paulada e, depois, decapitado. Acrescenta a lenda que, após a citada cura da jovem, Valentim ter-se-ia enamorado dela, não deixando, porém, o seu ministério.
8. O outro São Valentim terá sido Bispo de Terni, sendo consagrado em 197. Dizem que, ao lado da sua casa e da igreja, havia um extenso prado e um belo jardim.
Quando não estava na igreja ou a tratar de algum doente, era visto a cuidar das rosas. À tarde, abria os portões para as crianças brincarem e correrem livremente. Ao entardecer, abençoava cada uma delas entregando-lhes uma flor para levarem às respectivas mães. A sua intenção era que elas fossem directamente para casa alimentando assim o amor e o respeito pelos pais.
9. Valentim ganhou fama de reconciliador dos casais de namorados. Certo dia, ao ouvir dois namorados a discutir, foi ao seu encontro com uma rosa. A discussão parou imediatamente.
Algum tempo depois, os dois procuraram Valentim para marcar o casamento, que ele mesmo oficiou. Na celebração, compareceram quase todos os habitantes da cidade, querendo testemunhar a felicidade do casal reconciliado. A história difundiu-se e a fama de Valentim espalhou-se.
10. Sucede que, além do dom do conselho, também possuía o da cura. Muitas vezes viajava com o propósito de atender os doentes.
Em 272, foi chamado para cuidar de um doente em Roma. Durante a sua estadia, conseguiu a conversão do famoso filósofo Crato e de três dos seus jovens discípulos.
11. É claro que este zelo expôs Valentim a uma onda de delação. Valentim terá sido condenado à morte e executado a 14 de Fevereiro de 273. Os três jovens recém-convertidos terão resgatado o seu corpo levando-o para Terni.
Nesta localidade, é possível encontrar a seguinte inscrição: «São Valentim, patrono do amor». Há também um vitral com a imagem do santo a abençoar um casal ajoelhado com uma rosa.
12. Para os historiadores, porém, nada disto pode ser garantido.
Pelo que São Valentim tanto podem ter sido dois, um ou nenhum!