O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 18 de Dezembro de 2016
  1. Para sabermos o que se quer dizer com uma palavra, a etimologia é uma ajuda indispensável, mas pode não ser suficiente.

Há palavras polissémicas, isto é, com vários significados. Daí que, muitas vezes, seja necessário ir ao encontro de quem as diz para ficarmos a saber o que se pretendeu dizer.

 

  1. Reparemos nesta (breve) frase: «É um estupor». Tanto pode ser uma doença como pode ser um elogio ou até um insulto.

A primeira reacção é depreender que se trata de um insulto.

 

  1. Acontece que, etimologicamente, «estupor» vem do latim «stupor», que quer dizer entorpecimento.

Tanto pode referir-se a uma doença (imobilidade) como a um elogio (espanto) ou a um insulto (malcomportado). Quem está mais próximo de quem profere a palavra é quem está em melhores condições de a entender.

 

  1. Vem isto a propósito da referência do Evangelho a Maria como Virgem (cf. Mt 1, 23).

Trata-se de uma citação explícita de Isaías: «A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, chamado Emanuel» (Is 7, 14).

 

  1. No texto original, encontramos o hebraico «almah», que significa «jovem».

É certo que «jovem» não é necessariamente «virgem». Mas também não é impossível que o possa ser. Como saber a intenção do autor?

 

  1. Quem viveu mais perto da época em que o texto foi escrito estará em melhores condições de nos fornecer o significado que se dava às palavras que o compõem.

É sabido que os judeus mais eruditos daquele tempo traduziam «almah» por «parthénos», que significa «virgem». Foi o que fizeram os tradutores da Bíblia para o grego, entre os séculos III e I a.C.

 

  1. É possível ser mãe e ser virgem? Biologicamente, não é possível. Mas a Deus, nada é impossível (cf. Lc 1, 37).

Como é que Deus consegue que alguém seja mãe e, ao mesmo tempo, seja virgem? Só Ele sabe. Nós não sabemos.

 

  1. Acontece que uma das formas de saber é precisamente o não-saber.Ninguém chega a saber alguma coisa se não começar por saber que não sabe.

As perguntas pertencem à razão. Mas há respostas que pertencerão sempre ao mistério.

 

  1. É por isso que a fé não é racional, mas razoável. A razão não a explica, mas admite-a.

Isto não deslustra a razão nem apouca a fé. Como notava Pascal, «é um acto de razão reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam».

 

  1. Mas também se não fosse assim, teria o profeta Isaías (7, 14) necessidade de falar de «sinal»?

Uma jovem dar à luz não é «sinal», é a coisa mais natural. Já dar à luz e ser virgem não é natural; é totalmente supranatural. Está somente ao alcance de Deus. E, neste caso, podemos falar de um «sinal», de um (fortíssimo) «sinal»!

publicado por Theosfera às 22:00

A. Não falta quase nada ou continua a faltar quase tudo?

  1. Já falta pouco para o Natal. Pensando melhor, até não faltará nada para o Natal. Mas, olhando para o que se passa à nossa volta, será que não falta tudo para o Natal? Se perguntarmos ao tempo, ele dir-nos-á que, efectivamente, falta pouco para o Natal. Falta apenas uma semana, sete escassos dias para o grande — e luminoso — dia. Se perguntarmos a Deus, Ele está em condições de nos garantir que nada falta para o Natal. Ele já veio, Ele está sempre a vir, Ele nunca deixa de vir.

Mas se fizermos a mesma pergunta a nós próprios, que resposta teremos para dar? Poderemos achar que nada (nos) falta no Natal. Mas não será que nos falta tudo para o Natal? É possível que tenhamos preparado tudo para o Natal. Mas será que nos estamos a preparar devidamente para o Natal?

 

  1. Por fora, não faltará quase nada. Mas não será que por dentro continua a faltar quase tudo? O Natal já está perto de nós. Mas será que nós já estamos perto do Natal? Como é possível que mantenhamos distâncias na celebração por excelência da proximidade?

O Natal assinala a eliminação de todas as distâncias. O que era mais distante tornou-se o mais próximo. O que parecia estranho entranhou-se. Jesus é Deus no meio de nós. Jesus é, verdadeiramente, o Emanuel, o «Deus connosco», o «Deus em nós», o «Deus para nós».

 

B. Natal não são as oferendas que recebemos como prendas

 

3. O teofilósofo Xavier Zubiri dizia que «estar é ser em sentido forte». E, na verdade, só quem está mostra o que é. Ora, Jesus é o Deus que está, é o Deus que nunca deixa de estar. Jesus é o Deus que faz de cada pessoa a Sua habitação. A Sua habitação tem a forma de coração. É no nosso coração que Ele habita. É no nosso coração que Ele nos visita.

Em Jesus, Deus tornou-Se mais íntimo a nós do que nós mesmos. Ainda que nos sintamos longe d’Ele, Ele está sempre perto de nós. Haverá beleza maior? Haverá sequer encanto igual?

 

  1. Ouçamos, pois, o que o Anjo nos diz. Também para nós tem um anúncio feliz: «Não tenhas medo» (Mt 1, 20). O que foi dito a José ajuda a (re)despertar a nossa fé. Não tenhamos medo de receber Maria nem de adorar o Filho de Maria. Não tenhamos medo de professar o amor por Aquele que nos vem salvar. Não tenhamos medo de testemunhar, em cada dia por igual, o que celebramos no mistério do Natal.

O Natal não são só as oferendas que recebemos como prendas. O Natal é o presente que Deus faz a toda a gente. Não tenhamos medo de proclamar que o Natal é Deus que nos vem visitar. Não tenhamos medo de rezar diante d’Aquele que está sempre a chegar. Não tenhamos medo de testemunhar a nossa fé em Jesus de Nazaré.

 

C. Sem rumo neste «festival de consumo»

 

5. Por vezes, parecemos andar sem rumo neste «festival de consumo». Em vez de dinheiro, procuremos dar a vinda por inteiro. Estacionemos em Belém e paremos um pouco também. Tanta humildade vem com aquela divindade! Tanta luz que na simplicidade reluz! Maria e José não arredam pé: contemplar o Menino passa a ser o seu único destino. Haverá quadro igual para nos envolver no Natal?

José não percebe o que em Maria acontece. O mistério não é para perceber. O mistério é para acolher, ainda que não o possamos compreender. Nem sempre a evidência corresponde à existência. Maria estava grávida, mas nenhum homem A fecundou. Foi Deus quem A visitou. O que em Maria se passa é, totalmente, obra da Graça.

 

  1. José, que era justo (cf. Mt 1, 19), entra em provação, mas não opta pela difamação. Sabia o que dizia a Lei, mas sabia também que a justiça vai mais longe que a própria Lei. Ele sofria por causa do que via. Maria tinha engravidado antes de terem coabitado. A Lei não hesitava para quem assim se encontrava. Há que executar aquela que nesta situação se achar.

Sem saber bem o que fazer, José acaba por adormecer. Talvez saísse manhã cedo, repudiando sua Esposa em segredo (cf. Mt 1, 19). Uma coisa não iria deixar: que as suas palavras servissem para Maria condenar.

 

D. A maior maravilha que pelo mundo brilha

 

7. É então que Deus traz a solução. José não precisa de ter medo e a sua alma pode ficar em sossego. Nem tudo o que parece corresponde ao que acontece. Aquela gravidez foi obra que Deus fez. É a maior maravilha que pelo mundo brilha. Aquele seio do Espírito Santo está cheio. É um sacrário fecundo que trouxe Deus para o mundo.

O Céu desce até à Terra para acabar com a injustiça, com a guerra. Tudo começa a ser novo para todo este povo. A salvação está, finalmente, à nossa disposição. A partir de agora, já nada é como era; Deus está sempre à nossa espera. O Seu amor não tem fim. Iremos negar-Lhe o nosso «sim»?

 

  1. Pensemos que, neste mundo global, ainda há quem viva em abandono total. Neste tempo de encontros, ainda há muitos desencontros. E nesta época de encantos, continua a haver quem se sinta mergulhado em prantos. Há muita gente a viver só, de quem ninguém parece ter dó. Há muita gente abandonada, mesmo que pareça estar acompanhada. Há gente atolada em dor imensa, à espera do dom de uma presença.

Ponhamos Deus no nosso Natal como Deus nos pôs, a nós, no Seu Natal. Quando o Filho de Deus nasceu, foi por todos nós que Se ofereceu. Acolhamos o que Ele nos traz e vivamos sempre em paz.

 

E. No tempo que resta, preparemos a grande festa

 

9. Neste tempo que resta, preparemo-nos para tão grande festa. Falta pouco tempo para que o Natal chegue, mas talvez ainda nos falte muito para que o Natal fique. É pela conversão que as coisas ficarão melhores do que estão. Por tal motivo, celebremos o Perdão e abeiremo-nos do divino Pão. Não esqueçamos que o Natal é com José, com Maria e com Jesus na Eucaristia.

Assim sendo, não fiquemos só à nossa mesa, em noite de tanta beleza. Que cada um venha, com os seus, celebrar a Noite Santa na Casa de Deus. É na Eucaristia que Jesus volta a nascer e que o Natal volta a acontecer.

 

  1. O Natal é sempre para vir sem que jamais volte a ir. O Natal é para começar, não para terminar. O Natal é para acontecer e nunca para obscurecer. O Natal há-de ser acontecimento para viver em cada momento. O Natal é para todos. O Natal também existe para aquele que está triste. Até a tristeza será contaminada por tanta beleza. No meio de tanta correria, não percamos a alegria. E deixemos que a bondade tenha uma nova oportunidade.

Que o Natal não tenha «depois». Que o Natal só tenha «durante» e que se prolongue a cada instante. Que se apresse, então, o dia de Natal. Mas que não haja mais nenhum dia sem Natal. Que em cada coração se acenda a felicidade. E que a paz se instale em toda a humanidade. Deus vem ao nosso encontro, a cada hora. Comecemos, então, a recebê-Lo já, a partir de agora!

publicado por Theosfera às 13:30

Maria,

Tu és a serva do Senhor,

a Mãe da disponibilidade,

o farol da nossa esperança.


Na Tua humildade,

encontramos a verdade.



Na Tua fidelidade,

reencontramos o sentido.



Com o Teu sim,

tudo mudou,

tudo continua a mudar.



Que o Teu sim nos mude.



Que o Teu sim mude a nossa vida.



Faz do nosso ser

um novo presépio,

igual ao Teu.



Que o Teu Filho nasça em nós.



Que a paz brilhe.

Que a justiça apareça.

E que os sonhos das crianças não deixem de se realizar.



Obrigado, Senhor,

por vires até nós

e por ficares sempre connosco!





Maria, Mãe,

semeia em nós

o Teu Natal,

o Natal do Teu (e do nosso) Jesus!
publicado por Theosfera às 11:06

É impressionante como, exaltando tanto o futuro, nos comportamos como se não houvesse amanhã.

Parece que gastamos tudo hoje. Parece que as festas já não são momentos para celebrar, mas apenas pretextos para gastar.

Diante desta fúria gastadora, evoco Vaclav Havel que sinalizou a maior tragédia do homem contemporâneo: «não saber cada vez menos, mas preocupar-se cada vez menos».

O homem atingiu uma grande capacidade operativa, mas patenteia uma enorme fragilidade reflexiva.

Confesso que me preocupa esta falta de preocupação. Tanta euforia não será o disfarce para tanta falta de alegria?

publicado por Theosfera às 07:37

Hoje, 18 de Dezembro (4º Domingo do Advento), é dia da Expectação de Nossa Senhora ou Nossa Senhora do Ó, S. Gaciano e S. Flávio.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

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