- Afinal, o que é o mal?
O mal não é. O mal é o que não é. O mal é negação.
- O mal é antigo, mas não é o primeiro.
Enquanto negação, o mal supõe o que está antes e é negado depois.
- O mal existe porque existe o bem e porque há quem não suporte o bem.
O mal é, pois, uma agressão que redunda numa ausência. O problema é que se trata de uma agressão persistente e de uma ausência prolongada.
- Apesar de não ser o primeiro, o mal parece contaminar-nos por inteiro. E, embora não tenha ser, o mal dá sinais de ter um enorme poder.
Como é que uma ausência pode dominar tanto a nossa existência?
- O domínio desta «ausência de bem» (Santo Agostinho) só pode ser explicado por um transtorno: por um implacável «transtorno de ser» (Walter Kasper).
É este transtorno que leva a que o mal chegue a ser apresentado como bem (cf. Is 21, 5).
- Parafraseando Xavier Zubiri, dir-se-ia que, num mundo comandado pelo mal, até os maldosos são retratados como bondosos.
O pior que tem o mal é que a própria maldade permite-se exibir como se fosse bondade.
- Basta olhar para o que se diz, para o que se escreve e, mais vastamente, para o que se faz.
Depressa notamos que vivemos cercados por um oceano de «maledicência», «malescrevência» e «maleficência».
- E, no entanto, parece que convivemos pacificamente com isso.
Aparentemente, aceitamos — sem grandes sobressaltos — que se diga mal de alguém, que se escreva mal sobre alguém e que se faça todo o tipo de mal a alguém.
- É certo que o mal não pode ser ignorado. Se «falar mal» nunca faz bem, «falar “do” mal» pode ser necessário: para evitar o mal e para vencer o mal.
Mas, nesse caso, falemos do mal «com» os outros, sem jamais falar mal «dos» outros. Mal em cima de mal só espalha o mal. Apenas o bem sobrevive ao mal (cf. Rom 12, 21).
- O mal não é o primeiro e também não será o último.
Fomos feitos para o bem. Para bendizer, para bem-fazer e para bem viver. Já basta de maldizer, de mal fazer e de mal viver!