As voltas que o mundo dá! Quem diria que um fiel seguidor de Jesus viria a converter-se — ainda que involuntariamente — no maior rival do Menino Jesus?
Com efeito, é em São Nicolau que supostamente se inspira o Pai Natal. Em muitos lugares, esta figura sobrepõe-se ao Menino Jesus como símbolo principal da quadra natalícia.
São Nicolau, que viveu entre 270 e 342, foi Bispo de Mira, na Turquia. Sob o domínio de Diocleciano, chegou a ser detido por se recusar a negar a sua fé. Após a subida ao poder de Constantino, Nicolau voltou a enfrentar oposição, desta vez interna.
Dizem que, durante uma discussão no Concílio de Niceia, deu umas bofetadas em Ario, que negava a plena divindade de Cristo. O Concílio começou por destitui-lo, mas reintegrou-o depois de alguns bispos terem tido uma visão em que Jesus entregou a Nicolau o Evangelho e Nossa Senhora o cobriu com o Seu manto.
Entretanto, o que o tornou mais conhecido foi a sua dedicação aos pobres e a sua predilecção pelas crianças. Devido à sua generosidade e aos milagres que lhe foram atribuídos, foi canonizado pela Igreja. Conta-se que uma família não tinha meios para custear o dote do casamento das suas filhas. São Nicolau, pela calada da noite, atirou um saco de moedas para pagar o referido dote.
Mesmo depois da morte, a fama da sua beneficência não se apagou. Existem notícias de uma aparição de São Nicolau na Espanha em 1583, distribuindo pão pelos pobres. Estes, ao serem abordados sobre quem lhes dera o alimento, teriam dito que foi «um senhor de feições muito serenas e mãos firmes».
Por tudo isto, não admira que a sua imagem tenha sido associada — sobretudo a partir do século XIX — ao Pai Natal. Este costuma ser apresentado como um velhinho de barba branca, trazendo nas costas um saco cheio de prendas. Nos Estados Unidos, no Canadá e na maior parte dos países anglófonos, é também conhecido como «Santa Claus» ou «Father Christmas».
O imaginário ligado ao Pai Natal descreve-o como um ancião simpático, que conduz um trenó puxado por renas, voando com afã para distribuir presentes pelos mais pequenos. Entra, pela chaminé, em casa das crianças bem comportadas, depositando as ofertas na árvore de Natal ou nas meias colocadas à lareira.
Toda esta iconografia teve origem num poema de Clement Clark More, intitulado «Um relato da visita de São Nicolau». Foi publicado no jornal «Troy Sentinel», de Nova Iorque, em 1823.
Há quem diga que os primeiros fatos do Pai Natal eram verdes, entremeados com cores castanhas, prateadas e brancas. Foi Thomas Nast, um desenhador norte-americano, quem representou pela primeira vez o Pai Natal com uma indumentária próxima da actual.
Os seus desenhos apareceram em 1863 na revista «Harper’s Weekly». Em vez de desenhar um homem alto e magro vestido de verde, como era hábito, concebeu um Pai Natal corpulento num fato vermelho e branco.
Quem, entretanto, deu o impulso decisivo para a popularidade do Pai Natal foi a Coca-Cola. A empresa recorreu a ele para promover a sua bebida nos anúncios de Inverno. É que o vermelho e branco encaixavam bem na marca por serem as suas cores.
Foi em 1920 que o Pai Natal apareceu num anúncio da Coca-Cola publicado no «The Saturday Evening Post». Mas o Pai Natal como todos o conhecemos surgiu em 1931, por acção do artista Haddon Sundblom. A sua fonte de inspiração terá sido o supracitado poema de Clement Clark Moore.
Deste modo, São Nicolau tornou-se o modelo para a criação de uma personagem afectuosa, acolhedora e solícita que rapidamente conquistou o público. Todos os anos, até 1964, Haddon Sundblom desenhou um Pai Natal para a Coca-Cola. Posteriormente, foram introduzidas algumas peças com base no seu trabalho.