- Toda a gente sabe o que é uma freguesia. Mas será que já pensamos donde provém a palavra «freguesia»?
Freguesia, termo que designa uma circunscrição civil, tem — curiosamente — uma proveniência eclesiástica.
- Como sabemos, a freguesia é a menor divisão administrativa e corresponde à subdivisão dos concelhos.
Cada freguesia é administrada por uma Junta, escolhida pelos membros de uma Assembleia eleita directamente pelos cidadãos.
- Foi precisamente há cem anos — a partir de 23 de Junho de 1916 — que a freguesia passou a designar esta estrutura civil.
Mas tal estrutura civil já estava separada do universo eclesiástico desde 1835.
- Até essa altura, «paróquia» e «freguesia» eram duas palavras que serviam para mencionar a comunidade cristã.
E, mesmo depois da separação, os limites territoriais mantiveram-se praticamente iguais.
- «Paróquia» destaca mais o território e «freguesia» assinala sobretudo o conjunto de habitantes desse território.
Nos dois casos, o centro está na igreja.
- Sintomaticamente, esta centralidade da igreja está mais explícita na palavra «freguesia» do que na palavra «paróquia».
Enquanto em «paróquia» sobressai «casa» (que, evidentemente, é a igreja), em «freguesia» avulta claramente «igreja».
- É que, não obstante haver quem proponha outros étimos, «freguesia» vem de «filii» (filhos) e «Ecclesiae» (Igreja).
Deste modo, a freguesia é, originalmente, a comunidade formada pelos «filhos da Igreja».
- Assim sendo, «freguês», na sua raiz, não tem um sentido comercial, mas uma radicação espiritual.
Se olharmos para a etimologia, «freguês» não é um cliente, mas um crente. Por muito que nos espante, ser «freguês» é ser filho («filius») da Igreja («Ecclesiae»).
- E o certo é que, apesar de a relação com a Igreja se ter diluído, continua a ser à volta das suas actividades que as pessoas mais se congregam.
A freguesia é como uma extensão da família: ser da mesma freguesia é como ser da mesma família.
- Como facilmente se compreende, a Igreja de que aqui se fala extravasa, em muito, as paredes do templo.
Para a Igreja, ser mãe é uma identidade e a sua maior responsabilidade. Pelo que sentir-se filho da Igreja é saber-se gerado e permanente acolhido. Afinal, foi o Pai que nos deu a Igreja por Mãe. Cada «freguês» é, pois, uma dádiva que Deus (nos) fez!