- Ao longo deste Ano Santo da Misericórdia — como sucede aliás em todos os anos santos —, a Igreja disponibiliza vários lugares nos quais se pode obter uma indulgência plenária.
Já agora, convém recordar que a indulgência é a remissão, perante Deus, da pena temporal devida aos pecados cuja culpa já foi apagada. Trata-se de uma remissão que o fiel, nas devidas condições, obtém pela acção da Igreja, a qual, enquanto dispensadora da redenção, distribui o tesouro das graças de Cristo e dos santos.
- Cada pessoa pode lucrar uma indulgência para si mesmo ou para os defuntos. A indulgência é parcial ou plenária, consoante liberta parcial ou totalmente da pena temporal devida ao pecado. De acordo com o «Manual das Indulgências», para se ganhar uma indulgência plenária, deve-se: 1) fazer uma Confissão individual rejeitando todos os pecados; 2) receber a Sagrada Comunhão; e 3) rezar pelo Santo Padre ao menos um Pai-nosso e uma Ave-Maria.
Além disso, é preciso escolher uma destas práticas: 1) adoração ao Santíssimo Sacramento pelo menos durante meia hora; 2) leitura espiritual da Sagrada Escritura pelo menos durante meia hora; 3) exercício da Via-Sacra; 4) recitação do Terço do Rosário numa igreja, oratório, comunidade religiosa ou em piedosa associação. No âmbito deste Ano Santo da Misericórdia, foram propostas outras práticas para alcançar a indulgência plenária. Foi o caso da peregrinação à Porta Santa e da vivência de, pelo menos, uma das 14 obras de misericórdia.
- Acontece que, neste Santuário, é possível alcançar uma indulgência plenária todos os dias de todos os anos. Podemos, pois, dizer que neste lugar — meu e teu — estamos sempre em Jubileu.
Já no século XVII, o Papa Urbano VIII concedeu, «para sempre, muitas indulgências, aos membros da Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios. No século seguinte, tais indulgências foram alargadas a todos os peregrinos que visitassem o Santuário. De facto, foi a 14 de Maio de 1777, que o Papa Pio VI emitiu um documento em que concedia indulgência plenária num dia a ser designado pelo Bispo de Lamego, «desde as primeiras Vésperas até ao pôr-do-sol». A 19 de Julho de 1778, o Bispo de Lamego fez uso da faculdade que lhe foi atribuída. Foi nessa data que designou 8 de Setembro como o dia para obter essa indulgência e também como o dia da Festa de Nossa Senhora dos Remédios.
- Os estatutos de 1779 deram cabal cumprimento a esta concessão: «Todo o fiel cristão que, confessando-se e comungando, visite a Capela de Nossa Senhora dos Remédios desde as primeiras Vésperas do dia 7 até ao pôr-do-sol do dia 8 de Setembro e aí reze pela paz e concórdia entre os príncipes cristãos, extirpação das heresias e exaltação da Santa Madre Igreja, pode lucrar a sobredita indulgência plenária e remissão dos seus pecados».
Para facilitar o acesso dos peregrinos, a porta do Santuário estava aberta desde a tarde do dia 7 até ao começo da noite do dia 8 de Setembro. O altar de Nossa Senhora devia ter, pelo menos, duas velas acesas. Nos dias anteriores, seriam colocados editais nos lugares públicos da cidade e o sino tocaria para avisar os fiéis.
- Sucede que, pouco tempo depois, o mesmo Papa Pio VI haveria de estender esta concessão a todos os dias do ano. Num novo documento, datado de 15 de Janeiro de 1780, era dito:
«A todos e cada um dos fiéis de Jesus Cristo, estando verdadeiramente arrependidos, confessados e comungados, com pio amor lhes aplicamos dos celestiais tesouros da Igreja, para aumento da Religião dos mesmos fiéis e salvação de suas almas e concedemos, compadecidos no Senhor, indulgência plenária em qualquer dia do ano e remissão de todos os pecados, se ao mesmo tempo visitarem com devoção a Igreja ou Capela pública da Santíssima Virgem Maria e Senhora dos Remédios, sita nos arrabaldes da cidade de Lamego e nela rogarem a Deus pela paz e concórdia entre todos os príncipes cristãos, extirpação das heresias e exaltação da Santa Madre Igreja, sem que obste a esta graça qualquer inconveniente que se lhe oponha, e valerá para o tempo presente e para o futuro perpetuamente».
- Como se pode ver e como tem sido recordado ao longo dos tempos, este documento está em pleno vigor. Aliás, há um quadro na Sacristia que no-lo recorda a toda a hora.
Trata-se de mais um motivo para que «todas as pessoas da cidade ou que passem por Lamego não deixem de visitar muitas vezes o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios e aproveitem a ocasião para saudar a nossa Mãe do Céu».
- Refira-se que o impacto deste documento foi tal que a afluência de fiéis com o propósito de obter a indulgência plenária começou a crescer exponencialmente. Como essas pessoas pretendiam comungar e uma vez que frequentemente iam fora da hora da Missa, a Irmandade pediu autorização para que o Santíssimo Sacramento estivesse permanentemente no Sacrário.
Tal pedido foi formulado a 12 de Novembro de 1874 e foi atendido no dia 17 do mesmo mês pelo Bispo de Lamego, D. António da Trindade.
- Por aqui se vê como este é, por excelência, um lugar de misericórdia. Mesmo quando este Jubileu terminar, aqui é sempre possível a divina misericórdia celebrar.
É neste sentido que, todos os dias, aqui se oferece o que está preceituado pela Santa Igreja para obter a indulgência plenária. Todos os dias, aqui se disponibiliza o Sacramento do Perdão e o Sacramento da Eucaristia. Todos os dias, aqui se reza pelas intenções do Santo Padre. Todos os dias, aqui se proporciona tempo para a meditação da Sagrada Escritura. Todos os dias, aqui se promove a adoração ao Santíssimo Sacramento. Todos os dias, aqui se recita o Terço do Rosário.
- Para o Santuário, o sentido da sua existência é constituir, todo ele, um lugar de indulgência. É por isso que cada dia é tão importante como os chamados «grandes dias». A peregrinação de cada dia tem uma enorme valia. No âmbito dessa peregrinação, é fundamental que não desliguemos o que Jesus Cristo, através da Sua Igreja, quis ligar. A participação no Sacramento da Comunhão não deve ser separada do Sacramento da Reconciliação. Os dois sacramentos interagem profundamente: a Reconciliação alenta para a Comunhão e a Comunhão alimenta a Reconciliação.
É bom notar que a participação na Comunhão cresce. Mas é muito preocupante verificar que a participação na Confissão vai decrescendo. É importante ter presente que o Jesus que vem até nós em forma de Pão também vem até nós em forma de perdão. O mesmo Jesus que mandou à Igreja distribuir o Pão também confiou à mesma Igreja a distribuição do Seu Perdão. Será legítimo buscar o Pão se recusamos o Perdão? Quem não precisa de ser perdoado?
- Venhamos, pois, ao encontro de Jesus no Pão. Mas não deixemos de vir também ao encontro do mesmo Jesus no Perdão. Nunca seremos plenamente dignos de O receber. Mas, pelo menos, preparemo-nos o melhor que pudermos para O acolher. Os maiores santos consideravam-se os maiores pecadores. O segredo da sua santidade foi querer vencer o pecado. Os grandes santos confessavam-se muitas vezes. Outrora, recomendava-se: «Muitas confissões, poucas comunhões». Hoje, parece que estamos no extremo oposto: «Poucas confissões, muitas comunhões». O importante é que haja uma simetria: «Muitas confissões e muitas comunhões».
Venhamos, então, receber o Pão, mas não deixemos de celebrar o Perdão. Este santuário quer ser sempre a Casa do Pão e o lugar do Perdão. Para todos. E para sempre!