- Se quisermos (re)encontrar o afecto em estado puro olhemos para a nossa Mãe. Edmondo Amicis notou: «Se fosse possível descobrir o primeiro e verdadeiro germe de todos os afectos elevados e de todas as acções honestas e generosas de que nos orgulhamos, encontrá-lo-íamos quase sempre no coração da nossa Mãe».
Pela nossa Mãe, podemos entrever um vislumbre do grande, do imenso, amor de Deus, do amor que é Deus. Se a nossa Mãe nos ama assim, como não nos há-de amar Deus?
- A amnésia é preocupante. Mas a hipertimésia também não é saudável. Esquecer tudo não entusiasma. Mas lembrar tudo também não empolga.
Há coisas que gostaríamos de recordar. E há coisas que daríamos tudo para esquecer. Mas são precisamente essas — quais intrusas! — que estão sempre a reaparecer.
- O homem nunca deveria perder a pureza da infância. Mas a juventude, que lhe sucede, propende a extingui-la. O jovem não gosta de ser visto como criança. Costuma abastecer-se de astúcia. Geralmente, é tarde, muito tarde, que se redescobre o quão importante é nunca deixar de ser puro, autêntico, veraz.
Sem pureza e rectidão, a sabedoria transforma-se num instrumento de dominação. Faz falta — oh se não faz! — a sabedoria dos puros e a pureza dos sábios. Não matemos a criança que já fomos. E que nunca deveríamos deixar de ser.
- Karl Kraus: «O vício e a virtude são parentes como o carvão e o diamante».
O que é mais distante acaba por tornar-se muito próximo. Passamos entre um e outro com muita frequência.
- Nem todo o virtuoso deixa de cair em algum vício. Nem todo o viciado deixa de ter algumas virtudes.
Às vezes, não sabemos o esforço que muitos fazem para deixar o vício. E isso já é uma enorme virtude.
- Temos autonomia. Podemos caminhar por nós. Mas, sendo autónomos, também somos interdependentes. Somos chamados a caminhar com os outros.
Eis o que nos chega da sabedoria antiga: «Somos interdependentes: não devemos desprezar-nos uns aos outros». O desprezo não eleva ninguém.
- Os maiores problemas da humanidade gravitam em torno da posse. As mais violentas disputas giram à volta da propriedade.
Mas, pensando bem, todos nós acabamos por laborar numa ilusão. Porquê tanta insistência no que é nosso se nem nós somos nossos?
- Santo Agostinho, que nasceu em 354, já perguntava: «Que coisa há mais tua que tu mesmo? E que coisa há menos tua que tu próprio?».
Por sua vez, S. Paulino de Nola, que nasceu um ano depois de Santo Agostinho, questiona: «Que poderemos considerar como nosso se nós mesmos não somos nossos?»
- O conhecimento não pode estacionar. Ele emerge em alguém, mas destina-se a todos.
Já dizia Winston Churchill: «Se você possui conhecimento, deixe os outros acenderem as suas velas com ele». O conhecimento tem uma nascente. Nunca saberemos onde se encontra a foz.
- Para Demócrito, «a verdadeira formosura e o ornamento mais precioso é falar pouco e ponderadamente».
Eis um bom conselho para estes tempos de ruído infrene e turbulência constante!