O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 08 de Novembro de 2015

A. Não rica porque tem, mas rica porque dá

  1. Não há dúvida de que Jesus é o maior — para não dizer o único — revolucionário da história. Ele não só inova como renova, ou seja, não Se limita a trazer novidades; Ele mesmo é a novidade. Ele não muda apenas o exterior; Ele muda tudo a partir do interior. Ele não altera somente as estruturas; Ele transforma toda a vida, a começar pelos critérios para entender a vida. Para Jesus, o muito não é o critério para o pouco; o pouco é que é critério para o muito. Para Jesus, o grande não é critério para o pequeno; o pequeno é que é critério para o grande. No fundo, só o pequeno é verdadeiramente grande.

    Neste Domingo, aquele Jesus que proclama «felizes os pobres»(Mt 5, 3) apresenta-nos como modelo uma mulher pobre (cf. Mc 12, 42), que, no fundo, até era rica. Ela não é rica porque tem; ela é rica porque dá. Ao dar o pouco que era tudo o que tinha (cf. Mc 12, 44), ela mostrou ser mais rica que os maiores ricos. É que enquanto os outros davam do que tinham, ela deu o que tinha, o que faz toda a diferença. Ao dar esse pouco, ela deu tudo, deu-se a si mesma, deu o seu ser. Os outros eram ricos de ter, mas vazios de ser. Pelo contrário, esta mulher, vazia de ter, revelou que era imensamente rica de ser.

 

  1. Esta diferença encerra uma grande — enorme — lição. De facto, Deus não aprecia quem dá pouco, mas também não se satisfaz com quem dá muito. Deus gosta de quem dá tudo, de quem se dá todo, de quem se entrega completamente. Foi, aliás, essa a atitude do próprio Jesus. Como reconheceu S. Paulo, Jesus, que era rico, fez-Se pobre e enriqueceu-nos com a Sua pobreza (cf. 2Cor 8, 9).

Isto significa que a pobreza é a maior riqueza. Não se trata de um contraste nem sequer de um paradoxo. Ser pobre é sobretudo ser disponível, ser oblativo. Ser pobre é vencer as prisões que nos esganam dentro de nós. Ser pobre é não ser possuído; é repartir o que se possui, o que se é.

 

B. Pobreza não é o mesmo que miséria

 

3. Facilmente percebemos que pobreza não é o mesmo que miséria. O mal não está na pobreza. O mal está na miséria. Pelo que se todos soubessem ser pobres, a miséria terminaria. Miséria é quando não se tem. Pobreza é quando se reparte o que se tem. Daí que o Abbé Pierre tenha sinalizado a diferença: «A miséria é aquilo que impede um homem de ser homem. A pobreza é a condição para ser homem».

Assim sendo, é a pobreza que nos faz perceber que viver é conviver. É a pobreza que nos permite entender que não somos proprietários definitivos de nada, mas somente administradores provisórios de tudo. O que temos não nos pertence só a nós. De resto, nem nós mesmos somos donos de nós.

 

  1. É por isso que, ao contrário de Sartre, que achava que «o inferno são os outros», o mesmo Abbé Pierre proclamava que «o inferno é viver sem os outros». A miséria é infernal porque há corações que são como muros: são difíceis de abater. Jesus declara felizes os pobres (cf. Mt 5, 3) porque não suportam viver sem os outros, porque não estão condicionados pelo espaço, pelo tempo ou pela posse.

Os pobres são felizes porque vivem como expropriados. Não se sentem donos de nada nem tão-pouco se consideram donos de si. Eles são felizes porque sentem alegria na felicidade dos outros. Os pobres são felizes porque são, literalmente, «extro-vertidos», ou seja, vivem voltados para fora de si, são totalmente descentrados. O seu centro é Deus e são os irmãos, que eles encaram como filhos de Deus.

 

C. Só a dádiva cobre a dívida

 

5. Não há dúvida de que o século XX foi o século dos direitos humanos. Mas também foi o século da violação de muitos desses direitos. O século XXI terá de ser, pois, o século dos direitos de todos e dos deveres de cada um. Já o Abbé Pierre sintetizara: «O século XXI será fraterno ou fracassará». É urgente não ignorar que Deus está não só no Céu, mas também na Terra. É particularmente imperioso estar atento à presença soterrada de Deus nos que são atirados para a miséria.

Cada pessoa tem uma alma. Mas, «antes de lhe falarmos dela, coloquemos uma peça de roupa e um tecto por cima dessa alma. Depois disso, explicar-lhe-emos o que está lá dentro». Não se trata apenas «de dar algo de que viver, mas de oferecer aos infelizes razões para viver».

 

  1. A dívida não é só quando temos algo para pagar. A dívida existe também — e sobretudo — quando vemos alguém a necessitar. Regra geral, preocupamo-nos com as dívidas em relação aos bens. Era bom que nos preocupássemos com as dívidas que temos para com as pessoas. É que se pensarmos bem, todos somos devedores, todos estamos em dívida e todos devemos ser dádiva. Só a dádiva cobre a dívida!

Esta mulher pobre deu tudo para o templo de Deus. Sucede que, hoje em dia e como nos recorda S. Paulo, o verdadeiro templo de Deus é o ser humano (cf. 1Cor 3, 16). Foi por isso que Sto. Ireneu notava que «a maior glória de Deus é o homem vivo». Pelo que tudo aquilo que for feito ao ser humano acaba por ser feito ao próprio Deus. Daí que S. João nos avise: «Quem ama a Deus, ame também o seu irmão»(1Jo 4, 21).

 

D. Cuidado com as vistas curtas

 

7. Acresce que a atitude desta mulher pobre — que, afinal, era mais rica do que todos os ricos — mostra que, neste mundo, tudo é passageiro, tudo é perecível. Esta mulher pobre — mais rica do que todos os ricos — ensina-nos que, no presente, é preciso olhar para o futuro e avançar para o eterno.

Esta mulher não trocou o futuro pelo presente. Optou, antes, por orientar o presente em função do futuro. O presente há-de ser construção do futuro. Mas, para isso, é preciso estar disposto a transformar o presente, a não ficar amarrado às vistas curtas que acabamos por ter em cada presente. Já Xavier Zubiri olhava para o presente como «transcorrência», isto é, como passagem para o futuro. E, nessa medida, como porta aberta para o eterno.

 

  1. É possível que, muitas vezes, nos deixemos amarrar também pelas mesmas vistas curtas dos senhores importantes da época de Jesus. Só partilhamos as sobras. Se repararmos bem, gastamos tanto tempo e tanto dinheiro em inutilidades, em inanidades, em futilidades.

O que não fazemos, por vezes, para passearmos «longas vestes» e por registarmos «cumprimentos» nas praças (cf. Mc 12, 38)! As praças de hoje podem ser as redes sociais e os cumprimentos podem ser os «likes» que gostamos de exibir como padrão de afirmação pessoal. O que não fazemos para disputar os «primeiros assentos» e os «primeiros lugares» (cf. Mc 12, 39). Achamos que é assim que triunfamos.

 

E. Nunca perdemos quando (nos) damos

 

9. No fundo e como denunciou Jesus, corremos o risco de viver a fingir (cf. Mc 12, 40). Fingimos que rezamos, fingimos que partilhamos, fingimos que somos amigos. Será que fingimos que vivemos? Jesus nunca gostou do fingimento e tem palavras muito duras para com os fingidos (cf. Mc 12, 40).

É preciso ser e não fingir ser. É importante dar e não fingir que se dá. Aqui, a parcialidade não chega. Ser e dar só na totalidade. Somos sempre o que damos e devemos dar sempre o que somos. É fundamental que a nossa língua esteja em sintonia com a nossa alma. E é decisivo que o nosso exterior seja o eco do nosso interior.

 

  1. Só o pobre entende o pobre. Só quem passa por necessidades entende as necessidades. Só quem sente privações é sensível às provações. Aprendamos, então, com os pobres e peçamos a Deus que nos dê um coração de pobre. Aprendamos com Jesus, que nos enriquece com a Sua pobreza (cf. 2Cor 8, 9). Se meditássemos na riqueza que há pobreza, estaríamos mais atentos à pobreza de tantas riquezas. Com efeito, se olhássemos para a pobreza de tantas riquezas, pediríamos a Jesus que nos enriquecesse com a Sua pobreza. Porque era pobre, a mulher do Evangelho sabia valorizar o que existir fora de si. Percebeu a natureza do verdadeiro culto a Deus e quis contribuir.

Aliás, nós sabemos que, ainda hoje, quem mais contribui para o culto são os pobres, são os simples, são os humildes. Só que, tantas vezes, nós recebemos o dinheiro dos pequenos e fazemos agradecimentos aos grandes. Também em Igreja temos de perceber que, sem discriminar ninguém, são os pobres que nos dão lições. Assim fez Jesus. Jesus valorizou esta «pobre viúva»: porque não deu pouco, porque não deu muito, mas porque deu tudo. Como seria diferente o mundo se cada um de nós conjugasse mais o verbo «dar». Comecemos hoje. Nunca perdemos quando nos damos. Quando nos damos, deixamos de habitar só em nós. Quando nos damos, muitas portas se abrem para nós além de nós. Quando nos damos passamos a habitar naqueles a quem nos entregamos!

publicado por Theosfera às 13:37

É tanto o que dás, Senhor.

Tudo em Ti é dom, tudo em Ti é dádiva.

 

Tu dás o Pão, Tu dás a Palavra.

Tu és o Pão, Tu és a Palavra,

Pão que alimenta, Palavra que salva.

 

Tu apontas como exemplo uma pobre viúva.

Deu pouco, mas o pouco que tinha era muito, era tudo.

 

Assim és Tu para nós, assim queres Tu de nós.

O que queres não é que demos pouco, não é que demos muito,

mas que demos tudo.

 

Há muita gente que só olha para os grandes.

Mas são os mais pequenos que têm os gestos grandes,

os gestos maiores, os gestos de maior generosidade.

 

Ensina-nos, Senhor, a dividir

e ajuda-nos a saber multiplicar.

 

Afasta de nós todo o fingimento,

toda a duplicidade.

 

Ajuda-nos a sermos autênticos, sinceros, inteiros.

Faz de nós pessoas transparentes e serviçais.

 

Que não olhemos para as aparências nem para a posição social.

Que só queiramos fazer o bem e dizer a verdade.

 

Neste Ano da Fé, ajuda-nos a emoldurar a fé com o amor

pois só o amor é digno de fé.

 

Que não disputemos os primeiros lugares

e que saibamos abrir os lugares para os outros.

 

Que não queiramos tudo só para nós.

Que saibamos repartir com quem se aproxima de nós.

 

Que não queiramos convencer com as palavras dos lábios

e que apostemos sobretudo no testemunho de vida.

 

Que não queiramos ser os melhores.

Que aprendamos a dar o nosso melhor.

 

Que tudo em nós não seja só para nós.

Que tudo em nós seja para os outros.

Como a pobre viúva do Evangelho.

Como Tu, JESUS!

publicado por Theosfera às 11:15

Se repararmos bem, não é de hoje a propensão para violar segredos. A diferença está na escala.

Enquanto outrora um segredo podia falecer nos ouvidos de familiares e vizinhos, hoje arrisca-se a ser despedaçado à frente do mundo inteiro.

Basta soprar algo para a comunicação social ou plantar alguma coisa nas redes sociais.

O que impressiona mais, nesta espiral de devassa, é ver certas instituições embarcarem na onda.

Todos nos lembramos de ver pessoas, mesmo não crentes, recorrerem à Igreja para partilharem os seus dramas porque sabiam que dali nada transpirava.

É por isso que esta saga do «Vatileaks» me soa a mais um sintoma de decadência.

A bem dizer, as justificações dadas justificam muito pouco.

Segredo confiado tem de ser segredo guardado!

publicado por Theosfera às 08:34

Nem todo o passado está ultrapassado. Aliás, foi no passado que o futuro começou a germinar.

Como bem notou Raymond Aron, o passado só está ultrapassado quando deixa de ter futuro.

Aprendamos, pois, a olhar mais para o passado.

Aprendamos a ver melhor o futuro que nele foi crescendo!

publicado por Theosfera às 08:17

Hoje, 08 de Novembro (32º Domingo do Tempo Comum), é dia de S. Carpo, S. Papilo, Sta. Agatónica, Sta. Isabel da Trindade e S. João Duns Escoto.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

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