- Difícil já é conseguir palavras para dizer a vida. Como haveria de ser fácil encontrar palavras para dizer a morte?
Como dizer aquilo que não se diz? E, apesar disso, tanto se diz sobre a morte, tanto se escreve sobre a morte.
- Até se entende que assim seja. A morte, sendo o mais distante, acaba por ser também o mais próximo.
Nada é mais contrário à vida do que a morte. E, não obstante, nada está tão perto da vida como a morte. Ela entra em nossa casa, senta-se à nossa beira, caminha ao nosso lado até que, um dia, nos abocanha e nos leva com ela.
- A bem dizer, começamos a morrer no momento de nascer.
Benjamin Franklin observou, com evidente sarcasmo, que só temos duas coisas certas: a morte e os impostos.
- É verdade que a morte vai coleccionando muitas derrotas na dura batalha que travamos com ela.
Somos capazes de a vencer muitas vezes. Mas, quando ela vence, basta-lhe vencer uma vez. É uma vitória sem remissão, é um triunfo que não admite desforra.
- Quem não treme diante da morte? Quem não estremece perante a recordação dos mortos?
Até Jesus chorou quando morreu (cf. Heb 5, 7). Até Jesus chorou quando soube da morte dos Seus amigos (cf. Jo 11, 35-36).
- A morte deixa-nos atónitos e completamente afónicos. Palavras para quê?
O nosso lugar na morte devia ser o silêncio. Acerca da morte, as palavras morrem nos lábios e os pensamentos como que secam na mente.
- Os inícios de Novembro, são tempos de nostalgia, tempos de recordação, tempos de muita saudade.
São tempos em que as lágrimas descem à terra: à terra onde repousam muitos que conhecemos, à terra onde jazem tantos que nunca deixamos de lembrar e amar.
- Por estes dias, é no cemitério que os vivos mais se encontram.
É no cemitério que os vivos se encontram por causa dos mortos.
- De certa forma, o cemitério é o lugar onde os mortos «pós-vivem» e os vivos «pré-morrem».
Sentimos que onde os mortos já estão nós, um dia, também estaremos.
- Os vivos começam a partir para a eternidade com os que já morreram.
E os mortos continuam a ficar no tempo com os que ainda vivem.