Somos muitos ao mesmo tempo ou com pouco tempo de diferença.
Fernando Pessoa teve a sagacidade de perceber a multiplicidade de «eus» que habitam na mesma pessoa.
Pela nossa parte, achamos que somos inteiros, mesmo quando nos mostramos partidos.
Somos uns pela manhã, outros pelo cair da noite ou à entrada da madrugada. Somos capazes do maior aprumo e dos maiores dislates.
Conseguimos gestos de grande dignidade e atitudes de assustadora torpeza.
Tanto damos as mãos ao nosso próximo em sinal de solidariedade como mandamos rastejar o nosso semelhante em nome de supostas praxes.
Acontece que, em tempos, sabíamos distinguir o bem do mal. Agora parece-nos tudo igual, tudo normal.
É por isso que nos abeiramos mais do psicólogo que do sacerdote.
No primeiro procuramos ajuda porque nem sempre obtemos o que queremos.
Do segundo esperamos auxílio quando notamos que não fazemos o que devemos.
Mas, para isso, é preciso ver, é fundamental saber ver!