- Passou Agosto, mas ficou o gosto: o gosto provocado pelos primeiros cheiros a mosto.
Com a chegada de Setembro, chegam também as vindimas.
- Mas não são apenas as vindimas que levam as pessoas até à vinha
É na vinha onde muitas pessoas passam muito tempo. É na vinha onde tantos gastam — e se desgastam — tanto. É na vinha onde as energias se consomem e os rendimentos como que se encolhem.
- A vinha até dá muito, mas os mercados dão pouco pelo muito que se trabalha na vinha.
Na vinha, não se trabalha só agora, mas trabalha-se também agora, sobretudo agora. Em plena época das vindimas, sabemos bem quanto custa trabalhar muito e receber pouco.
- Em plena época das vindimas, sentimos bem o peso da injustiça e o (amargo) sabor da ingratidão.
Afinal, gasta-se muito todo o ano a pensar nas vindimas. E acaba-se por conseguir pouco nas vindimas para o resto do ano.
- O problema não está na terra, que até é generosa. O problema parece estar em quem teima em não valorizar devidamente o que se produz na terra.
A vida é composta pelo sonho de justiça e, muitas vezes, descomposta com a realidade da injustiça.
- Na vida, são muitos os que trabalham para outros. Já Ambrose Bierce notou que o «trabalho é um dos processos através dos quais A cria riqueza para B».
Dir-se-á que acaba por ser inevitável. Mas terá de ser sempre assim? Quem cria riqueza não pode beneficiar da riqueza? Quem cria riqueza tem de penar na pobreza?
- É por isso que o tempo das colheitas costuma baloiçar entre a alegria e a frustração.
O que se recebe nem sempre compensa o que se gastou. Resta-me, augurar uma feliz colheita e desejar uma justa recompensa por tanto trabalho.
- O vinho não faz mal. Mal fará o excesso de vinho. Bem avisado andou, pois, Oscar Wilde quando recomendava: «Para conhecer a colheita e a qualidade de um vinho, não é necessário beber toda a pipa».
Até Shakespeare advertia: «O bom vinho é um camarada bondoso e de confiança, quando tomado com sabedoria».
- O vinho tem muitas propriedades.
Faz bem à saúde, desde que tomado na medida certa.
- O vinho é bom para saborear, não para embriagar. Por isso, não nos embriaguemos com vinho. Embriaguemo-nos, antes, com esperança.
Na hora que passa, a esperança nunca é excessiva. Nem recessiva!