- São muitos os que não pertencem a nenhuma religião e dizem ter fé.
Mas também já não são poucos os que mostram não ter fé e continuam a fazer parte de alguma religião.
- É frequente encontrar pessoas crentes sem religião. Mas já não é tão raro descobrir pessoas religiosas sem fé.
Estamos mais habituados a falar dos primeiros. Mas será bom que comecemos a prestar atenção aos segundos.
- A paradoxal figura do «crente ateu» tem vindo a conquistar o seu espaço.
Há estudos sobre clérigos que se mantêm no universo eclesiástico por razões estritamente profissionais. Só parece contar a profissão, embora não seja a profissão de fé.
- Por exemplo, Klaus Hendrikse defende que «a inexistência de Deus não é um obstáculo».
Segundo ele, Deus «não é um ser, mas uma palavra que designa o que poderá existir entre as pessoas».
- No mesmo registo, Thorkild Grosboll confessou-se cansado de falar sobre «milagres e vida eterna».
Na sua óptica, «Deus pertence ao passado e pode considerar-se como algo antiquado».
- Esta «dissidência interna» é muito mais intrigante que o «afastamento externo».
Logo numa época em que se ouvem tantas profissões de fé fora da religião, surpreende que avultem estas atitudes de falta de fé dentro da própria religião.
- Daí que alguns procurem fora o que não conseguem colher dentro.
Com efeito, nem sempre as religiões constituem o ambiente da escuta e da espera. Às vezes, não se respira muito Deus no interior da Sua própria casa.
- Pode acontecer que alguns abandonem a religião pelo mesmo motivo que outros permanecem vinculados a ela: porque não encontram Deus nela.
Não é que Deus não esteja presente. Mas será que deixamos que O procurem?
- Os comportamentos religiosos serão sempre comportamentos crentes?
Que lugar para a oração e que compromisso com a missão? Qual a qualidade da liturgia e até onde vai a caridade?
- Acontece que enquanto uns se recusam a acolher Deus na vida, outros há que vão ao ponto de oferecer a sua vida por Deus. São estes (heróicos) testemunhos de fé que continuam a interpelar, a convencer e a cativar.
Nem tudo está perdido no mundo quando tantos se dispõem a perder tudo por Deus!