- Para muitos, o divino é o humano sem limites.
No prolixo imaginário de séculos e povos, o divino não é tanto o diferente do humano. É sobretudo o máximo projectado pelo humano.
- Não espanta, por isso, que Deus tenda a ser apresentado como uma espécie de «super-homem».
O que o homem faz bem, Deus faz melhor. O que o homem não tem, Deus possui. O que o homem não consegue, Deus alcança.
- Compreende-se, assim, que Robert Marett tenha sugerido que, mais do que «homo sapiens», o ser humano possa ser designado «homo religiosus».
Estudos como os de Mircea Eliade documentam que o sagrado é um elemento da estrutura da consciência humana e não um mero estádio da história da consciência.
- Segundo Hans Urs von Balthasar, «tão longe quanto remonta no passado a memória da humanidade, o homem aparece como um ser religioso, sempre consciente de estar submetido a um poder divino, que deve reconhecer e honrar e do qual deve esperar a salvação».
David Barrett estima que, ainda hoje, haja mais de dez mil religiões no mundo.
- É sabido que a matriz de todas as civilizações foi religiosa.
O próprio Fernando Pessoa reparou que «o fenómeno religioso define e exprime a civilização».
- No território onde viria a formar-se Portugal, abundavam os deuses e os cultos.
Seriam necessárias muitas páginas para esboçar uma pequena síntese.
- Atégina era a deusa do nascimento e da fertilidade.
O famoso Endovélico era o deus da saúde e da segurança.
- Bandua era o deus da guerra. Nábia era a deusa da água e dos rios.
E a toponímia transmontana conserva a menção de Larouco, o célebre deus do trovão, da medicina e da fertilidade.
- A novidade introduzida por Jesus está não na sobreposição, mas na cooperação entre o divino e o humano.
Deus age para o homem e interage com o homem, mas não age em vez do homem. Os dons divinos não apagam a responsabilidade humana.
- Jesus ensinou-nos a esperar tudo como dádiva e a realizar tudo como tarefa.
Deus tudo pode. Mas não quer dispensar o homem. É pelo homem que Ele quer alimentar tanta fome — e tanta sede — que continua a existir no mundo (cf. Lc 9, 13)!