Hoje, 14 de Junho (11º Domingo do Tempo Comum), é dia de Sto. Eliseu, Sta. Anastásia, S. Félix, Sta. Digna e Sta. Maria Micaela do Santíssimo Sacramento.
Um santo e abençoado dia para todos!
O dinheiro que se tem pode ser passaporte para a liberdade. Mas o dinheiro que se ambiciona ter pode ser o passaporte para a escravidão.
Jean-Jacques Rousseau notava que «o dinheiro que temos é o instrumento da liberdade; aquele de que andamos atrás é o da servidão».
Equilíbrio e solidariedade são o caminho!
O nosso mundo é cheio de contrastes. E os contrastes desvanecem uns e fazem doer outros.
Há tantos que dispõem de pouco dinheiro para gastar em muito tempo enquanto outros dispõem de muito dinheiro para gastar em pouco tempo.
Diz a imprensa que uma cidade vai investir 50 mil euros numa partida de fogo que terá a duração de...16 minutos!
Não são apenas os caminhos fáceis que nos conduzem.
Os caminhos difíceis também nos orientam. Também podem (e devem) ser trilhados.
Tantas são as vezes em que deixamos de andar por causa das dificuldades dos caminhos.
Martin Luhter King aconselhava: «Se não puder voar, corra; se não puder correr, ande; se não puder andar, rasteje. Mas continue em frente de qualquer maneira»!
Hoje, 13 de Junho, é dia de Sto. António e S. Fândila. Refira-se que Sto. António, que nasceu Fernando, é conhecido como sendo de Lisboa (onde viu a luz do dia) e de Pádua (onde viria a consumar a sua itinerância terrena).
Começou por ser Cónego Regrante de Sto. Agostinho vindo a aderir à Ordem Franciscana. Notabilizou-se como pregador e taumaturgo.
Um santo e abençoado dia para todos!
É coisa preciosa um conselho. Mas nem sempre há o devido cuidado por parte de quem o dá e por parte de quem o recebe.
Lope de Vega reconheceu, há séculos: «Não há coisa tão fácil como dar conselhos nem coisa mais difícil do que sabê-lo dar».
Não basta ter conhecimentos. É fundamental ter autoridade. E é decisivo que essa autoridade seja reconhecida!
1. Cada dia transporta muitos outros dias dentro de si. Em cada dia são-nos oferecidos muitos outros dias.
Quem já não leu o famoso «Diário» de Anne Frank?
Acontece que tal diário começou a ser escrito neste dia, há 73 anos. E a sua autora também nasceu neste dia, há 86 anos.
2. A última entrada é de 1 de Agosto de 1944.
Dias depois, era conduzida para um campo de concentração onde, alguns meses mais tarde, viria a morrer.
3. O livro oscila entre o trivial (o que se compreende) e o profundo (o que se admira).
Aos 15 anos, em Maio de 1944, verte o seu espanto, a sua grande perplexidade, ao anotar este enorme contraste: «O mundo está virado do avesso. As pessoas mais decentes estão a ser enviadas para campos de concentração, prisões e celas, enquanto os piores governam sobre jovens e velhos, ricos e pobres».
4. Setenta anos depois, Anne Frank continua bem actual. O «avesso» mantém-se: na história dos povos e na vida das pessoas.
Anne Frank percebera, com rara argúcia, que as birras não são (apenas) coisa de crianças.
Acresce que as birras dos mais crescidos — que consequências tão grandes costumam ter — são desencadeadas, por vezes, por questões mais pequenas que as dos mais pequenos.
5. Do alto dos seus 13 anos, Anne Frank «achava estranho que os adultos discutam tantas vezes, e tão facilmente, por questões tão mesquinhas. Até agora, sempre pensei que as birras eram algo que as crianças faziam e que acabava por passar com a idade».
Mas a vida mostra que, em vez de passar, as birras alargam-se, alastram-se e agravam-se. Apesar de tudo, não percamos a esperança nem nos percamos dos ideais.
6. Quando tudo perdermos, não percamos a esperança.
A realidade até nos pode esmagar. Mas, ao menos, esmagar-nos-á na companhia da esperança.
7. Pouco antes de ser detida, Anne Frank tinha consciência de que «o mundo estava a ser transformado num deserto».
E, no entanto, também «tinha a sensação de que tudo vai mudar para melhor, de que a crueldade acabará, de que a paz e a tranquilidade regressarão».
8. Nada (ou quase nada) tendo, agarrava-se «aos seus ideais. Talvez chegue o dia em que possa realizá-los».
Sabemos que esse dia não chegou. Mas os ideais de Anne Frank não morreram com ela. Sobreviveram para além dela. E ela sobrevive com eles.
9. Os ideais perpetuam quem neles acredita. Quem neles vive.
E quem por eles é capaz (até) de morrer!
Hoje, 12 de Junho (Solenidade do Sagrado Coração de Jesus e Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes), é dia de Nossa Senhora do Sameiro, S. João de Sahagún, Sto. Onofre, Sta. Jobenta, Sta. Mercedes de Jesus Molina e S. Lourenço Salvi.
Um santo e abençoado dia para todos!
Mas eu atrever-me-ia a ser bem mais modesto, mais prosaico. A nossa identidade está na nossa resistência. Em tantos séculos, já resistimos a quase tudo.
A persistência é mesmo o nosso segredo. Caímos quando menos se pensa. Mas também nos levantamos quando menos se julga.
Não iria tão longe. Uma coisa, porém, é certa. Ninguém é tão humano como os homens. Mas também ninguém consegue ser tão desumano como os homens. Aproveitemos cada instante para corrigir a trajectória. Não nos desumanizemos mais. Procuremos humanizar-nos cada vez mais.
O bom líder não interrompe a invectiva. Deixa que ela seja exposta até ao fim. Não a alimenta. Deixa que ela se esvazie, se de facto vazia for. Quem tem argumentos não agride. Quem agride é porque argumentos não tem.
Aung San Suu Kyi sabe bem do que fala: «A liberdade de pensamento começa pelo direito de fazer perguntas». Há quem não suporte tal ousadia, sobretudo se tais perguntas puserem em causa lugares ou interesses. Ainda temos um longo, muito longo, caminho a percorrer. Ainda há medo nas nossas sociedades, nas nossas instituições. Ainda há medo de perguntar, medo de discordar, medo de cumprimentar, medo de ser visto. Medo de existir?
O sonho desprograma todos os programas. O sonho vai mais além dos programas pré-determinados. O sonho está do lado da ousadia, da audácia, da criatividade.
Vivemos esmagados por uma elefantíase de programação. Quase nem damos espaço para o futuro ser futuro. Até o futuro já nos surge programado. Desde o tempo que vai fazer à evolução da economia, dá a impressão de que tudo está visto.
Eu diria mais. Sem sonho nada se faz. Nem de grande. Nem de pequeno. Nada.
Se adiarmos para tarde, pode ser tarde demais.
Mas, pensando bem, o peso da verdade é bem leve. O peso da mentira é muito mais difícil de suportar.
Guerra Junqueiro assinalou: «Quem fraterniza com a dor, comunga no grémio de Deus»!
Uma rápida passagem pela imprensa desta manhã mostra Lamego na condição de «complemento».
A reportagem do Dia de Portugal está centrada nos discursos, nas reacções aos discursos, nas condecorações e nas manifestações.
Lamego ocupa a posição de «complemento circunstancial de lugar onde», antecedido da preposição «em».
Há até um jornal onde tal complemento aparece apenas no terceiro parágrafo.
Era inevitável. Mas Lamego esteve irrepreensível na sua hospitalidade.
Os lamecenses acordam com a consciência do dever cumprido neste «regresso à normalidade».
Uma vez mais, Lamego portou-se bem com o país. Que o país se porte sempre bem com Lamego!
Numa freguesia bem perto daqui, o movimento demográfico do ano passado foi este: nenhum casamento, nenhum nascimento, vinte e duas mortes.
Em muitas terras perto e longe daqui, o registo é semelhante.
A manter-se esta tendência, o fim de muitas populações não está longe.
Não se exige que este problema seja rapidamente resolvido. Mas esperava-se que, em Dia de Portugal, esta questão fosse, pelo menos, levantada.
Afinal, um país faz-se de pessoas e de território. E há uma parte significativa do território português que está cada vez mais despovoada.
Acresce que os problemas do despovoamento se entrecruzam com os (gritantes) problemas do acantonamento nos centros urbanos.
Seria apreciada uma palavra de apoio a quem resiste neste interior despovoado. E muito bem faria uma ideia para (re)equilibrar o país.
No fundo, o país é todo o território, o país são todas as pessoas.
Todas as pessoas (equilibradamente) distribuídas por todo o território é sonho impossível?
Para muitos, é mais um dia com paisagens para ver. Bom seria que fosse também um dia de paragem para reflectir.
Os problemas pessoais já são suficientemente aflitivos. Pouco — ou nenhum — espaço sobra, assim, os problemas comuns.
Temos passado, mas parece que não temos memória. Guardamos a história, mas não aparentamos ter muita vontade de continuar a fazer história.
Falta que Portugal cumpra com cada um. Falta que cada um cumpra com Portugal.
Não somos perfeitos. Às vezes, até nos mostramos contrafeitos.
Se não fossem os nossos defeitos, o que nos motivaria? Se tudo já estivesse feito (e bem feito), que futuro nos restaria?
A tudo temos sobrevivido. Temos sobrevivido à realidade, cruel. E temos sobrevivido aos diagnósticos, nada estimulantes.
Constituímos um paradoxo vivo. Somos «um povo místico mas pouco metafísico; povo lírico mas pouco gregário; povo activo mas pouco organizado; povo empírico mas pouco pragmático; povo de surpresas mas que suporta mal as continuidades, principalmente quando duras; povo tradicional mas extraordinariamente poroso às influências alheias».
Tantas vezes, são essas lágrimas que nos identificam e pacificam. Aquilo que soa a desespero acaba por saber a esperança.
É por isso que nunca desistimos de nós. É por isso que, não obstante as nuvens, há sempre um Portugal a brilhar em milhões de corações espalhados pelo mundo!
O progresso não está, obviamente, numa recaída ao passado. Mas passa, quase sempre, pelo reencontro com as origens.
Agostinho da Silva percebeu: «Consiste o progresso no regresso às origens, com a plena memória da viagem».
Quando nos afastamos das origens, perdemo-nos no caminho!
Hoje, 10 de Junho, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, é dia do Anjo de Portugal, Sta. Olívia e S. João Dominici.
Um santo e abençoado dia para todos!
É por isso que, como percebeu Jacques Maritain, «os melhores educadores são os santos». Nem sempre dizem o que fazem, mas fazem sempre o que dizem.
Para ele, «a Igreja atraiçoaria o seu amor a Deus e a sua fidelidade ao Evangelho se deixasse de ser a voz dos sem-voz, a defensora dos pobres, a promotora de cada aspiração justa à libertação».
Trata-se de «um convite para que todos assumam a causa dos pobres como a sua própria causa e a causa do próprio Cristo, que disse: "Tudo o que fizerdes ao mais pequenino dos Meus irmãos a Mim o fareis"(Mt 25, 40».
Pelos pobres ele não deu só a voz, deu a vida. A disponibilidade era total e a coerência absoluta: «Como pastor, tenho de dar a vida por aqueles que amo».
Apenas achava que estavam a «perder o seu tempo».
Por isso, garantiu: «Se me matarem, voltarei à vida no meu povo».
Ele sabia que cada membro da Igreja continuaria a ser uma espécie de «microfone de Deus, desfraldando o estandarte da verdade do Senhor e da Sua justiça».
A única violência que defendia era a «violência do amor».
Enfim, o amor é a «a vingança dos cristãos».
Lamego «é um sacrário de monumentos».
O olhar de José Hermano Saraiva era um olhar atento.
Nesta cidade está depositado muito passado.
Nesta cidade está semeado, assim creio, um imenso futuro!
Os recursos crescem e a miséria não desce.
Esta é a realidade. Esta é a nossa responsabilidade.
Aliás, já Charles Darwin tinha percebido: «Se a miséria dos pobres não é causada pela natureza mas pelas instituições, grande é o nosso pecado».
De facto, grande continua a ser o nosso pecado!
As pessoas devem ser contadas e merecem ser pesadas. Não se trata de conferir o peso físico, mas de aferir o peso cívico.
Já Cícero tinha reparado: «Nas divergências civis, quando os bons valem mais que os muitos, os cidadãos devem ser pesados e não contados».
Como reparou Toynbee, o futuro da humanidade está (pode estar) nas «minorias criativas».
São elas que perscrutam e alastram!
Hoje, 09 de Junho, é dia de Sto. Efrém, S. José de Anchieta e Sta. Ana Maria Taígi.
Um santo e abençoado dia para todos!
Há quem pense que o dinheiro consegue tudo: o dinheiro que se tem e até o dinheiro que não se possui.
Benjamin Franklin alerta: «Aquele que acreditar que o dinheiro fará tudo pode bem ser suspeito de fazer tudo por dinheiro».
É uma relação de dupla servidão.
Há quem se sirva do dinheiro, acabando por servir o dinheiro. E as pessoas?
Fico contente quando se reconhece o triunfo dos que se esforçaram e conseguiram.
Mas pesa-me que não se reconheça o valor dos que se esforçaram e foram impedidos de conseguir.
A importância dos que tentaram e não alcançaram não é menor. Sucede que nós estamos desatentos.
Só Deus tem capacidade de exaltar os que (aparentemente) fracassaram.
Os mártires são um permanente apelo e um precioso conforto.
Deus não esquece os (constantemente) esquecidos!
A lei das proporções nem sempre se verifica.
Nem sempre os outros são para nós como nós somos para os outros.
Já Sto. Inácio de Antioquia, a caminho do martírio em Roma, notava que os soldados respondiam com brutalidade à sua delicadeza: «Quanto melhor os trato, piores se tornam».
Achava que eram já feras antes das feras que iria enfrentar.
É sempre assim. Há quem responda ao bem com o mal.
Apesar disso, façamos o bem. Sempre (e só) o bem!
Hoje, 08 de Junho, é dia de Sta. Maria do Divino Coração, Sta. Quitéria, Sta. Marinha, S. Carlos Spínola, S. Tiago Berthieu, Sto. Ambrósio Fernandes, S. Leão Mangin e seus companheiros mártires e S. Rudolfo Acquaviva e seus companheiros mártires.
Um santo e abençoado dia para todos!
A. Tantos que desperdiçam tanto
Pela sua natureza, uma festa como esta não deve ser episódica, meramente circunstancial, reduzida a um único dia. Uma festa como esta não pode ser o evento de um dia, mas o grande acontecimento de cada dia. Ela tem de funcionar como um «despertador» para os outros dias.
É bom não esquecer que, na Eucaristia, é Deus quem nos visita, é Deus quem nos abraça, é Deus quem nos fala, é Deus quem nos alimenta. É assim que a festa deste dia nos desperta para a riqueza de todos os dias, para a beleza de todos os dias. Como entender, então, que tantos desperdicem tanto?
B. Não uma recordação, mas uma presencialização
3. Verdadeiramente, a celebração da instituição — ou «invenção» — da Eucaristia ocorre em Quinta-Feira Santa. Com efeito, foi na véspera da Sua morte que Jesus, levando até ao extremo o Seu amor por nós (cf. Jo 13, 1), nos legou o Memorial do Seu sacrifício redentor. Foi na Última Ceia, que se transformaria em Primeira Ceia do tempo novo, que Jesus mandou aos Seus discípulos de todos os tempos que fizessem memória da Sua entrega ao Pai: «Fazei isto em memória de Mim»(1Cor 11, 24).
Trata-se de uma memória que é mais do que uma simples recordação. O memorial da Eucaristia não recorda o que ocorreu; actualiza e presencializa o que aconteceu. É por este «único sacrifício»(Heb 10, 12) de Jesus Cristo que nós Lhe damos graças nesta refeição. É por isso que a celebração eucarística congrega quatro dimensões que devem ser mantidas na sua integridade e unidade. A Eucaristia é memorial; é refeição, com a dupla mesa da Palavra e do Pão; é sacrifício e é acção de graças.
Consta que, nos primeiros séculos, a Eucaristia era adorada publicamente, mas apenas durante o tempo da Santa Missa. Só se conservava a hóstia consagrada para levar a comunhão aos doentes e ausentes. Foi na Idade Média que se começou a dar um maior relevo à adoração. No século XII, foi introduzido um novo rito na celebração da Missa: a elevação da hóstia consagrada, no momento da consagração. Do desejo primitivo de «ver a Hóstia» passou-se, portanto, para uma festa em honra da presença real de Cristo.
C. Da vida para a Eucaristia, da Eucaristia para a vida
5. Terá sido em 1247 que se celebrou, pela primeira vez, o Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.
Foi em Liège e por insistência de uma religiosa: a Irmã Juliana de Mont-Cornillon. Mais tarde, em 1264, na sequência de um milagre eucarístico ocorrido em Bolsena, o Papa Urbano IV estendeu a toda a Igreja esta festa através da bula «Transiturus». Embora, nessa altura, ainda não haja ainda qualquer alusão à procissão com o Santíssimo, é sabido que esta depressa se introduziu nos hábitos eclesiais e na alma crente do povo. A Portugal esta festa terá, provavelmente, chegado em finais do século XIII com a denominação de Festa do Corpo de Deus.
Foi para facilitar o visionamento do Pão consagrado — informa-nos de novo Xabier Basurko —, que «começaram a utilizar-se aqueles objectos que habitualmente serviam para a exposição das relíquias dos santos. Deste modo, através do vidro transparente, as pessoas podiam fixar os olhos no sacramento do Corpo de Cristo».
D. Da Missa à Missão
7. Tudo isto mostra como a Eucaristia não se limita à celebração. A Eucaristia é para celebrar e há-de ser também para adorar e para testemunhar. A Eucaristia parte do tempo para o templo e volta do templo para o tempo.
Em boa verdade, nunca deixamos de estar em Eucaristia. À celebração sacramental tem de suceder sempre a celebração existencial da Eucaristia. Quando termina a Missa, há-de começar a Missão. A Missão consiste precisamente no testemunho do que celebramos — e adoramos — na Missa. A Missa é a fonte da Missão. A Missão é o reflexo da Missa. O Pão que nos alimenta na Missa continua a alimentar outros na Missão.
Daí a absoluta necessidade de uma adequada preparação para a Eucaristia. A Eucaristia tem um «durante», mas também tem um «antes» e um «depois». Na Eucaristia não se deve improvisar. Não deve improvisar o que preside à celebração e não devem improvisar os outros participantes da celebração. Na medida do possível, deveríamos todos preparar atempadamente os textos que são proclamados e devíamos prepararmo-nos todos para a vivência deste grande «mistério da fé». Era bom que, na medida do possível, chegássemos um pouco antes e nos recolhêssemos em silêncio de escuta e adoração. A preparação inclui também a purificação do nosso ser. Aliás, a Eucaristia começa praticamente por um acto penitencial. Mas este acto penitencial não exclui, antes requer, a celebração frequente do Sacramento da Penitência.
E. O Corpo de Jesus (também) somos todos nós
9. No fundo, a Eucaristia é um sacramento de conversão. É pelo pão e pelo vinho, «fruto da terra e do trabalho do homem», que Cristo Se converte a nós. É pelo pão e pelo vinho, «fruto da terra e do trabalho do homem», que nós nos convertemos a Cristo, que nós nos convertemos em Cristo. Se o pão e o vinho se convertem, pelas palavras da consagração, no corpo e no sangue do Senhor, então, na medida em que são fruto do nosso trabalho, somos nós que nos convertemos em Cristo.
Que a realidade do sacramento seja a realidade da nossa vida. É por isso que somos convidados a celebrar, todos os dias, a Eucaristia: para que, todos os dias, nos sintamos convidados a transformar-nos em Cristo. Percebemos, assim, que Sto. Agostinho sugerisse que, quando o sacerdote apresenta o Corpo de Cristo, o comungante também pudesse dizer: «Sou eu». De facto, nós somos Corpo de Cristo, nós fazemos parte do Corpo de Cristo. E é como membros do Corpo de Cristo que nos devemos (com)portar.
Nunca voltamos a estar fora da Eucaristia depois de termos estado dentro da Eucaristia. Hoje é dia de agradecermos, ainda mais, este grande — e belo — dom. Que ele não estacione em nós. Levemos este dom aos mais abandonados, aos mais injustiçados. S. João Crisóstomo propunha que fôssemos «do altar da Eucaristia» ao «altar dos pobres». É também junto dos mais humildes que continuaremos a ouvir a voz do mesmo Jesus repetindo: «Este é o Meu Corpo». Afinal, o Corpo de Jesus também sou eu, também és tu. O Corpo de Jesus somos todos nós!
Neste momento de louvor,
nós Te agradecemos
por esta tocante celebração
que, mais uma vez, presencializa a Tua presença no mundo,
que, mais uma vez, actualiza a Tua entrega na história
e que, mais uma vez, certifica o Teu imenso amor no coração de cada homem.
Mas não queremos, Senhor,
que a Eucaristia seja um momento com princípio e fim.
Queremos, sim, que a Eucaristia envolva toda a nossa vida:
do princípio até ao fim.
Queremos que a Missa gere Missão,
modelando todas as fibras do nosso interior
e lubrificando todas as vértebras da nossa alma.
Faz de nós testemunhas do Evangelho,
do Evangelho do Pão e do Paz,
do Evangelho do Pão para todos,
do Evangelho da Paz para todos,
do Evangelho do Corpo de Deus.
Que todos se alimentem na mesa da Palavra
e que todos possam vir à mesa da Eucaristia.
Que também hoje a Palavra se transforme em Pão
e que o Pão se transforme em Palavra,
em palavra para mudar a nossa vida.
Em muitos lugares,
as pessoas vão acompanhar-Te em procissão.
Mas Tu acompanha-nos sempre na grande peregrinação da nossa vida.
Que, ao recebermos o Teu corpo,
mostremos solidariedade e partilha,
afecto e amor.
Que saibamos dividir
para podermos multiplicar.
Que saibamos testemunhar lá fora
o que celebramos cá dentro.
Tu estás sempre connosco.
Que nós saibamos estar sempre conTigo.
Que, pelo nosso testemunho e pela nossa humildade,
todos tenham acesso ao Pão da Vida,
ao Pão do Amor,
ao Pão da Solidariedade,
ao Pão da Paz e da Esperança,
ao Pão que és Tu, Senhor,
e que, através de nós,
quer saciar o mundo inteiro!…
Qual o lugar de Deus?
Só esta pergunta equivale a retirar de Deus a Sua condição de Deus. Significa fazer de Deus alguém como nós em vez de reconhecer Deus alguém connosco.
Mestre Eckart achava que Deus «só pode estar num lugar sem lugar».
Diria que esse é o único lugar à medida de Deus. E também à medida da nossa procura.
Não andamos sempre à procura do lugar outro? Sofremos por ele nunca aparecer. Mas nunca desistimos de o encontrar.
O lugar que não se aluga é o destino do nosso sonho, o horizonte da nossa vida.
É por isso que nunca nos sentamos na realidade.
Somos sempre peregrinos de lugares que idealizamos, mas que temos dificuldade em localizar!
O mal é muito forte. Mas será mais forte que o bem?
O mal parece mais forte porque, aparentemente, tem mais executantes.
Já Edmund Burke assinalou que «o mal só triunfa se as pessoas de bem nada fizerem».
O problema é esse. Muitas são as vezes em que as pessoas de bem ficam a ver o mal e a lamentar o mal.
Há que não ter medo de fazer o bem!
O futuro não resulta só do que está programado. Ele é tecido também (e bastante) de surpresas.
Alvin Toffler avisa: «O futuro é construído pelas nossas decisões diárias, inconstantes e mutáveis, e cada evento influencia todos os outros».
É bom que todos estejam atentos a tudo!
Hoje, 07 de Junho (Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo), é dia de Sta. Ana de S. Bartolomeu e de Sto. António Maria Gianelli.
Um santo e abençoado dia para todos!
Há 71 anos, foi a «grande invasão».
Hoje em dia, é a «grande evasão». Nem a fé escapa ao contágio.
Tanto se fala do Jesus. Tão pouco se fala em Jesus!
A Igreja não é a luz. A luz é Cristo. A Igreja deve ser sempre o reflexo da luz.
A Igreja não é o dia, é a aurora que antecede (e prepara) o dia.
S. Gregório Magno refere que a Igreja «é chamada aurora porque abandona as trevas do pecado e ilumina-se com a luz da justiça».
De facto, «a aurora ou madrugada anunciam que já passou a noite, mas não mostram ainda todo o esplendor do dia; elas assinalam a transição da noite para o dia e, por isso, têm algo de luz e de trevas ao mesmo tempo».
Nós, os membros da Igreja, somos «como a madrugada ou a aurora, porque já praticamos algumas obras da luz, mas não estamos ainda totalmente livres dos vestígios das trevas».
Chegaremos ao pleno dia «quando estivermos perfeitamente iluminados com o fulgor da sua luz interior».
A aurora vai-se deixando iluminar pela luz do dia. E vai-se deixando aquecer pelo calor do dia!
Hoje, 06 de Junho, é dia de S. Norberto, S. Marcelino Champagnat e S. Filipe, diácono.
Um santo e abençoado dia pascal para todos!
É normal que não haja concordância. Mas ficava sempre bem subsistir um pouco de elegância.
Pelos vistos, nem uma coisa nem outra.
Se o presidente do Sporting queria um novo treinador, chamava Marco Silva, indemnizava-o e agradecia-lhe tudo o que fez pelo clube.
Afinal, há sete anos que o Sporting não ganhava nenhum troféu e há quinze anos que não totalizava tantos pontos.
Se isto não é um bom trabalho, não sei o que é trabalho bom.
Segundo o que tem vindo a público, as alegações para despedimento com justa causa não passam de pretextos. Nenhuma delas convence.
Alguém é despedido por não ir a uma reunião ou por não usar a indumentária devida?
Um pouco de decência embeleza a existência!
Habitualmente, estas efemérides assinalam aquilo que está em causa.
O Dia Mundial do Ambiente chama a atenção para o nosso (des)cuidado para com a natureza.
Nos últimos tempos, tem havido sobejos intentos de uma Teologia ecológica.
A partir da criação, há elementos de sobra para um crente se empenhar activamente na promoção de uma cultura de respeito para com a totalidade da obra de Deus.
Jürgen Moltmann, por exemplo, mobiliza-nos para a urgência de uma ética da reconciliação com Deus, com os homens e com a criação.
Haja em vista, desde logo, uma evidência: por cada vitória do Homem contra a natureza, surge uma revolta da natureza contra o Homem.
É que Deus perdoa sempre, o Homem perdoa às vezes, mas a natureza não perdoa nunca.
Ela sente-se. Estrebucha. Estremece. E revolta-se.
Saibamos, pois, respeitá-la e promovamos um ambiente são, harmonioso, sereno e pacificante.
Hoje, 05 de Junho, é dia de S. Bonifácio e S. Doroteu, o Moço.
Refira-se que S. Bonifácio era inglês e foi o grande cristianizador da Alemanha.
Fez suas as (fortes) palavras de S. Gregório, apelando aos pastores para não serem «cães mudos nem sentinelas silenciosas».
O silêncio da escuta tem de desaguar na palavra corajosa e habitada pela esperança.
Um santo e abençoado dia para todos!
Num país em que muitos sobrevivem com pouco, não se pára de falar em poucos que acumulam muito.
Os números que têm sido ventilados, esta manhã, deviam fazer-nos corar e pensar.
Diz-se muita coisa que pode não ser verdade. Mas, a ser verdade o que diz, o encanto pelo desporto só pode derrapar.
Num país tão severo no que toca ao salário mínimo, causa espécie que ninguém coloque a questão de um salário máximo.
Já não falo de outros pontos conexos a toda esta operação.
Como entender que se contrate alguém para funções ainda desempenhadas por outro alguém que ainda está em funções? E que, ainda por cima, fez um bom trabalho?
O ideal pode melhorar o real e o real pode não piorar o ideal.
Anatole France dizia que «o real serve para fabricar melhor ou pior um pouco de ideal».
É preciso ter os pés na realidade e os olhos nos ideais!
Hoje, 04 de Junho, é dia de S. Tiago de Viterbo, S. Pedro de Verona, Sta Clotilde e S. Francisco Caracciolo.
Um santo e abençoado dia para todos!
A realidade tem muito peso e o que tem de ser tem muita força.
Pode-se esconder muita coisa durante algum tempo. Mas é impossível esconder todas as coisas durante todo o tempo.
Daí o precioso (e axiomático) conselho de Sófocles: «Não procures esconder nada; o tempo vê, escuta e revela tudo»!
Portugal vai ter os olhos volvidos para Lamego, sabendo que Lamego tem o seu coração sempre voltado para Portugal.
Faz bem ao país olhar para estas terras. E é bom que quem manda no país se habitue a escutar estas gentes.
É triste que nem sempre se repare no Portugal que por aqui se faz. É pena que nem sempre se oiça o Portugal que por aqui se diz. Por aqui persiste um Portugal sofrido que anseia ser ouvido. Aqui labuta um Portugal escondido que merece ser mostrado.
Visto de Lamego, Portugal é uma pátria sempre amada, com um poder muitas vezes avaro. Vista de Portugal, Lamego é uma terra de que se sabe o suficiente, mas que não se valoriza o bastante.
Os lamecenses transportam a mágoa de viverem numa terra a que pouco se dá e a que muito se vai tirando. Lamego está habituada a ouvir muitos elogios e a ver poucos apoios.
Falta que Portugal cumpra com cada um. Falta que cada um cumpra com Portugal.
Não somos perfeitos. Às vezes, até nos mostramos contrafeitos. Temos defeitos. Eis o nosso drama, eis também a nossa sorte. Se não fossem os nossos defeitos, o que nos motivaria? Se tudo já estivesse feito (e bem feito), que futuro nos restaria?
Seremos, como afirmava o Padre Manuel Antunes, uma «excepção». Constituímos um paradoxo vivo. Somos «um povo místico mas pouco metafísico; povo lírico mas pouco gregário; povo activo mas pouco organizado; povo empírico mas pouco pragmático; povo de surpresas mas que suporta mal as continuidades, principalmente quando duras; povo tradicional mas extraordinariamente poroso às influências alheias».
Apesar das tardes sofridas, acreditamos sempre que uma manhã radiosa voltará a sorrir. É por isso que nunca desistimos de nós. É por isso que, não obstante as nuvens, há sempre um Portugal a brilhar em milhões de corações espalhados pelo mundo.
Em Lamego cumpre-se o mesmo destino do resto de Portugal. A vocação dos lamecenses também é sair. E é assim que, em qualquer parte do mundo, corre muito sangue de Portugal. E escorre muito do sangue de Lamego!
A 3 de Junho de 1963, falecia, em Roma, o Papa bom, João XXIII.
Nasci e cresci a ouvir falar deste Homem.
Minha querida Mãe estava sempre a invocar o nome desta figura enorme da Igreja e da Humanidade.
Quem acompanhou a sua trajectória e leu os seus escritos ficou sempre com esta impressão: João XXIII era indulgente com os outros e exigente consigo mesmo.
O seu lema, extraído de Barónio, era «obediência e paz».
Escrevia em 1947: «Em casa, tudo vai bem. A paciência ajuda-me nos meus defeitos e nas minhas imperfeições e dos que trabalham comigo. O meu temperamento e a minha educação ajudam-me no exercício da amabilidade para com todos, da indulgência, da cortesia e da paciência. Não me afastarei deste caminho».
Reencontrar João XXIII é sempre um conforto que nunca cansa: «Não há nada mais excelente que a bondade. A inteligência humana pode procurar outros dons eminentes, mas nenhum deles se pode comparar à bondade».
E, atenção, «o exercício da bondade pode sofrer oposição, mas acaba sempre por vencer porque a bondade é amor e o amor tudo vence».
Hoje, 03 de Junho, é dia de Sto. Ovídio, S. Carlos Lwanga e seus companheiros mártires, Sto. Isaac de Córdova, S. Juan Diego e S. João Grande.
Um santo e abençoado dia pascal para todos!
Neste tempo — por algum tempo —, o centro de Portugal vai voltar a estar em Lamego.
Afinal, antes de haver Portugal, já havia Lamego.
Lamego habituou-se, desde há muito, a receber governantes. Mas tantas entidades oficiais de uma só vez, é coisa possivelmente só comparável à vinda de D. Luís em 1882.
Vieram também o presidente do conselho, Fontes Pereira de Melo, o ministro das obras públicas, muitos membros da corte e vários governadores civis.
Mas, curiosamente, ficou uma marca palpável dessa presença do poder de Portugal em Lamego: o lançamento da primeira pedra do (então) novo hospital.
Aqui também é Portugal, aqui também se diz Portugal, aqui também se faz Portugal.
E magoa que nem sempre se repare no Portugal que por aqui se faz.
Melhor será que nunca deixe de haver investimentos que fixem pessoas em Lamego.
Lamego é uma espécie de cais donde muitos partem. E uma espécie de abrigo a que quase todos sonham voltar.
E é assim que o Portugal que em Lamego se acende nunca deixa de arder pelo mundo inteiro!
John Nash foi, sem dúvida, uma «mente brilhante». A sua vida fez luz não só sobre muitos enigmas da matemática, mas também sobre dolorosos problemas de saúde.
John Nash superou as maiores dificuldades colocadas pela ciência e venceu uma das doenças mais complicadas: a esquizofrenia.
Não foi fácil o seu percurso, que ele assumiu com edificante transparência.
Considerava um acto de loucura considerar-se a pessoa mais importante: «In madness, i thought i was the most important person in the world».
Acontece que, na sua área, era mesmo.
O mal é haver quem, não se achando louco, passar o tempo a fazer figura de importante.
A (in)cultura VIP, de tão estéril, começa a saturar o mais resistente!
Certas palavras em certos lábios são como alguns embrulhos: belas por fora e vazias por dentro.
José Saramago generalizou: «A palavra deixou de ter conteúdo e de ter qualquer coisa dentro; é pronunciada com uma leviandade total».
É pena que assim seja. É fundamental que assim deixe de ser.
O que se vê tem de corresponder ao que se ouve!
Hoje, 02 de Junho, é dia de Sta. Blandina, S. Potino, Sto. Erasmo, S. Pedro, S. Marcelino e S. Félix de Nicósia.
Refira-se que Sta. Blandina é considerada padroeira da mocidade feminina.
E Sto. Erasmo é invocado contra as tempestades, contra as cólicas, contra as doenças intestinais das crianças e contra as dores de parto.
Um santo e abençoado dia pascal para todos!
Deus não valoriza só (nem principalmente) o resultado. Valoriza sobretudo o esforço.
Aliás, já Georges Braque dizia que «não é o fim que é interessante, mas os meios para lá chegar».
Apostemos sempre em meios dignos, em meios lícitos!
Neste dia mundial da criança, é importante que se pense no que urge fazer para com as crianças em cada dia.
É o futuro da sociedade que está em jogo.
Elas precisam de coisas. Mas necessitam, antes de mais, de presença, de acompanhamento, de afecto.
Dostoiésvky, ao achar que «o amor é mestre», apelava: «Amai sobretudo as crianças porque, como os anjos, estão isentas de pecado e vivem para a purificação dos nossos corações e como que são um guia para nós. Desgraçado de quem ofenda uma criança».
As crianças são mestres. Ensinam muito. Mostram, particularmente, que há muito de puro que não deveria desaparecer.
Jesus verberava quem escandalizasse uma criança.
Os maus exemplos ficam alojados no seu íntimo. As condutas exemplares ficarão também depositadas no seu coração.
As crianças merecem o melhor. Porque, como dizia o poeta, elas são o melhor. O melhor do mundo. O melhor de nós.
Só é verdadeiramente adulto quem nunca deixar de ser totalmente criança!
Hoje, 01 de Junho, é dia de S. Justino e Sto. Aníbal Maria di Francia.
Um santo e abençoado dia para todos!