- Só chega ao cimo quem parte do fundo. Só termina quem começa. Só consegue ser grande quem sabe ser pequeno. Só atinge a maturidade que não abandona a inocência da infância.
É por isso que a humildade é importante. Só ela nos livra da ilusão. Só ela nos faz aterrar na vida. Só ela nos faz perceber que, só em nós, não somos nós.
- Nenhum de nós é tudo. Nenhum de nós está apenas em si. Há muito de nós que habita nos outros.
Paulo Bonfim tem razão: «Quando através de uma senha percebemos que um pouco de nós nos espreita no fundo do outro, e que a terra prometida são algumas pessoas que temos a vidência de pressentir, passamos a sentir-nos em casa. O verdadeiro encontro é aquele que confirma algo que trazemos em nós. É conhecimento e reconhecimento daqueles que podem livremente fluir uns nos outros». O essencial da vida é o encontro.
- Ilya Ehrenburg achava que «não se tem razão quando se diz que o tempo cura tudo: de repente, as velhas dores tornam-se lancinantes e só morrem com o homem».
Mas enquanto sofremos, é sinal de que vivemos. Afinal, de dor em dor, sempre a viver, a reviver.
- Abundam, hoje em dia, respostas a perguntas que ninguém faz. Devíamos fazer como Confúcio, que «não procurava saber as respostas, mas compreender as perguntas».
Só quem procura compreender as perguntas está em condições de elaborar as verdadeiras respostas.
- «O poder está na rua». Muitos são os que se assustam com esta frase. Mas é preciso distinguir o exercício do poder da fonte do poder. O exercício do poder tem de ocorrer, obviamente, na sede própria: parlamento, governo, tribunais.
Mas o poder deve estar na rua, sim. Deve estar atento ao que se passa na rua. É para isso que existe. É na rua que estão as pessoas. Que, hoje por hoje, sofrem tanto.
- Há quem confunda a justiça com a vingança. Francis Bacon achava que «a vingança é uma espécie de justiça selvagem». E se é selvagem, será justiça?
Compreende-se que, muitas vezes, haja desejo de vingança. Mas nunca se perca de vista o valor (perene) da justiça. Ela costuma vir tarde. Mas não deixa de vir.
- O passado não é só passado. O passado é a semente do futuro. Aliás, já Mîllor Fernandes dizia que «o passado é o futuro usado». É o futuro usado e ousado.
Não desprezemos o passado. O nosso futuro começou lá.
- Nem sempre nos sentimos acompanhados por quem está ao nosso lado. Nem sempre estamos desacompanhados por quem não está à nossa beira.
Nem sempre estaremos sós quando nos encontramos sozinhos. É nessa altura que o melhor dos outros pode entrar em nós: pela recordação, pelo eco da presença, pela revivescência do que já aconteceu e deixou marcas imperecíveis.
- Ao fim e ao cabo, não sou eu que procuro a solidão; é a própria solidão que me visita.
Não seria indelicadeza fechar-lhe as portas?
- Dizia Napoleão Bonaparte: «A glória é fugaz, mas a obscuridade dura para sempre». Não digo que a obscuridade seja permanente. Mas a glória é, sem dúvida, passageira. Passa tão depressa. Valerá a pena lutar por ela? Esmagar os outros por causa dela?
O que nunca deixa de valer é o bem que se faz. O rasto do bem vale muito mais que as trombetas da glória!