Não Te digo adeus, Mãe!
É o último dia do Teu mês.
Mas Tu ficas sempre connosco, na Igreja de Teu Filho
e na Humanidade que, como Ele, Tu tanto amas.
Adeus, ó Mãe? Não.
Sempre conTigo, Mãe!
Não Te digo adeus, Mãe!
É o último dia do Teu mês.
Mas Tu ficas sempre connosco, na Igreja de Teu Filho
e na Humanidade que, como Ele, Tu tanto amas.
Adeus, ó Mãe? Não.
Sempre conTigo, Mãe!
Maravilhoso és Tu, Senhor.
Porque és Deus,
porque és Pai,
porque és Filho,
porque és Espírito Santo,
porque és amor.
Maravilhoso és Tu, Senhor.
Porque és único, mas não és um.
Porque és mistério, mas não estás longe.
Porque és poderoso, mas também simples e humilde.
Maravilhoso és Tu, Senhor.
Porque és Trindade.
Porque és unidade.
Porque és comunhão.
Porque és vida.
Porque és luz.
Porque és paz.
Maravilhoso és Tu, Senhor.
Maravilhoso é o Teu ser.
Maravilhosa é a Tua doação.
Maravilhosa é a Tua presença.
Tu, Senhor, estás no Céu.
Tu, Senhor, estás na Terra.
Tu, Senhor, és o Céu na Terra.
Em cada ser humano, Tu armas a Tua tenda
e constróis uma morada, uma habitação.
Obrigado, Deus Pai.
Obrigado, Deus Filho.
Obrigado, Deus Espírito Santo.
Obrigado por tanto.
Obrigado por tudo.
Que a nossa atmosfera seja sempre uma teosfera.
Que em cada momento haja uma brisa a respirar a Tua bondade.
Que a nossa vida mostre a Tua vida,
a vida que vem de Ti.
Que nunca esqueçamos
que somos baptizados no Pai, no Filho e no Espírito Santo.
Que tudo em nós seja ressonância
desta presença divina pelas estradas do tempo.
Obrigado, Santíssima Trindade,
por estares em cada um de nós.
Obrigado porque Um de Vós
Se quis tornar um de nós,
de cada um de nós.
Obrigado por estares sempre connosco,
na vida e na Palavra feita carne,
na vida do Teu Filho,
JESUS!
A. Resta-nos o silêncio?
É claro que, segundo o mesmo Rahner, de todas as palavras, esta será a menos imprópria para indicar Deus: é tão pequena que mal chega à língua, logo desaparece dos lábios. É, pois, uma palavra que cumpre a sua missão: convida mais a escutar do que a conversar, apelando mais à contemplação do que à discussão. Que, pela sua natureza, seria necessariamente interminável.
É por isso que só nos calamos no fim do esforço de falarmos o mais adequadamente possível daquela realidade para a qual não há nenhuma palavra adequada. Só no fim é que o silêncio será digno e santo.
B. Jesus fala de Deus, mostrando-nos o Pai
3. Curiosamente, nem Jesus, o revelador de Deus, falou muito sobre Deus. Segundo os Evangelhos, a palavra «Deus» só por duas vezes aparece nos lábios de Jesus e, mesmo assim, para citar o Salmo 22: «Meu Deus, Meu Deus, por que Me abandonaste?»(Sal 22, 1). Sobre Deus, Jesus falou mais com a vida do que com os lábios. Como observou González-Faus, Jesus revela Deus não tanto «falando sobre Ele, mas deixando-O transparecer, praticando-O, pondo-O em acto nas circunstâncias concretas da Sua vida».
Jesus é sobretudo aquele que nos mostra Deus. É Ele quem, como assinala S. João, no-Lo dá a conhecer (cf. Jo 1, 18). Quando fala de Deus, Jesus fala do Pai, fala d’Ele como Filho e fala do Espírito Santo. Dir-se-ia que o Pai é o Silêncio, o Filho é a Palavra e o Espírito Santo é o Encontro. É na escuta do Espírito que encontramos a Palavra de Jesus que nos desvenda o que, para nós, permanece em silêncio. A Trindade não é a soma das pessoas, é o sumo que as sustenta.
Sobre Deus, o Novo Testamento recorda uma verdade e oferece-nos uma enorme novidade. Deus é único, mas, sendo único, não é um. S. Paulo lembra que «há um só Deus»(Ef 4, 6). Acontece que o único Deus, que é «Pai de todos»(Ef 4, 6), é um com o Filho (cf. Jo 10, 30) e com o Espírito Santo (cf. Jo 14, 26). Não são três deuses, mas três pessoas da única divindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo têm a mesma substância, como confessa o Concílio de Niceia, e como tal são «adorados e glorificados», segundo a formulação do Primeiro Concílio de Constantinopla. Por tal motivo não damos só glória ao Pai nem damos mais glória ao Pai. Nós, cristãos, damos igual glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
C. Como dizer a Trindade?
5. Como entender tudo isto? Na Santíssima Trindade, como anotou Matias Schebeen, tocamos o mistério estrito («mysterium stricte dictum»). Seria mais fácil, como diz o Menino que apareceu a Sto. Agostinho, transportar toda a água do mar para um pequeno buraco na praia do que decifrar o mistério da Santíssima Trindade.
Apesar disso, os esforços prosseguiram. Apareceram não só os conceitos mais sofisticados, mas também as imagens mais criativas. Até à dança e ao riso se recorreu para explicar a Santíssima Trindade.
Entretanto, para vincar a eterna unidade na Trindade, o Mestre Eckhart socorre-se da analogia do riso: «O Pai ri para o Filho e o Filho ri para o Pai, e o riso gera prazer, e o prazer gera alegria, e a alegria gera amor».
D. Uma «explosão» anterior ao «big bang»
7. É, de facto, o amor que identifica Deus. É pelo amor que conseguiremos identificar Deus. Deus é amor no tempo, Deus é amor desde toda a eternidade (cf. 1Jo 4, 8.16). Deste modo, a única forma de conhecer Deus é amá-Lo. É por isso que, para falar de Deus, a razão não basta e as palavras não chegam. Acerca de Deus, só o amor é eloquente. Daí a conhecida máxima de Sto. Agostinho: «Se vês a caridade, vês a Trindade». Quem vive o amor, vive em Deus. Percebe-se, então, que o mesmo Sto. Agostinho tenha feito do amor a súmula da vida trinitária. Dizia ele que o Pai é o amante, o Filho é o amado e o Espírito Santo é o amor. O Espírito Santo é precisamente o «vínculo do amor» («vinculum amoris») que une o Pai e o Filho.
À luz do amor, percebe-se melhor por que Deus, embora único, não é um. Diria que, se Deus fosse um, seria a solidão; se Deus fosse dois, haveria a separação (um é diferenciado do outro) e a exclusão (um não é o outro); mas Deus é três. O três evita a solidão, supera a separação e ultrapassa a exclusão. A Trindade significa a abertura, o acolhimento, a comunhão.
Em Deus, o amor é tão forte que não cabe em si e, portanto, «explode» na criação. Tal como cada obra tem as marcas do seu autor, o mundo criado por Deus contém sobejas marcas do Criador. A esta luz, o mundo está cheio de «vestígios da Trindade» («vestigia Trinitatis»), a começar pelo homem, verdadeira «imagem da Trindade» («imago Trinitatis»). Sendo o homem imagem e semelhança de Deus (cf. Gén 1, 26) e sendo Deus uma trindade, então o homem é imagem e semelhança da Trindade. É por isso que a realização por excelência da imagem e semelhança de Deus está na família. Hans Urs von Balthasar reconheceu que «a família é a mais expressiva imago Trinitatis inscrita na criatura». A família humana é a grande imagem da família divina. Cada família humana deve procurar viver à imagem da família divina.
E. Nem pessoa sem comunidade nem comunidade sem pessoa
9. Por aqui se vê como, ao contrário do que dizia Immanuel Kant, não é indiferente que Deus seja um ou que Deus seja três. No fundo, o mistério da Santíssima Trindade é, afinal, um mistério muito concreto, muito prático. Ele instaura um modelo de humanidade onde não há superiores nem inferiores.
A Santíssima Trindade constitui a alternativa mais consistente quer às pulsões individualistas, quer às derivas massificantes. Numa existência à imagem da Trindade, nem a pessoa se fecha à comunidade nem a comunidade se sobrepõe à pessoa. Numa existência à imagem da Trindade, cada pessoa está aberta à comunidade e a comunidade nunca pode deixar de estar aberta a cada pessoa.
É por isso que, seguindo a vontade expressa de Jesus, somos baptizados «em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo»(Mt 28, 19). É por isso que começamos — e terminamos — cada Eucaristia «em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo». Estamos, assim, tatuados para sempre pela unidade divina. Honremos esta unidade, crescendo na comunhão e fortalecendo a fraternidade. A melhor maneira de mostrar que somos filhos de Deus é respeitarmo-nos como irmãos!
Tudo passa neste mundo. O mundo é, ele mesmo, um veloz lugar de passagem.
Passam as vítimas, mas passam também os que vitimam. E, a longo prazo, a memória das vítimas persiste mais do que a crueldade dos que as vitimam.
D. Óscar Romero, talvez premonitório, assegurou: «Este mundo passa, somente permanece a alegria de ser vivido para nele implantar o Reino de Deus». Quanto ao resto, «passarão todos os boatos, todos os triunfos, todos os capitalismos egoístas e os falsos êxitos da vida. O que não passará é o amor, a coragem de reverter o dinheiro, os bens e a profissão ao serviço dos outros, a felicidade de compartilhar e de sentir todos os seres humanos como irmãos»!
No trabalho, a competência é fundamental. Mas a persistência é decisiva.
Henri Frédéric Amiel notou: «A inconstância deita tudo a perder na medida em que não deixa germinar nenhuma semente».
Muitas vezes, o que a competência tenta fazer a inconstância desfaz.
Uma certa calma dá alento à alma. É preciso dar tempo à semente!
Foi há 52 anos. Foi a 31 de Maio de 1963.
Nesse dia, morreu um dos lamecenses mais ilustres: o Dr. Alfredo de Sousa.
Foi deputado, ministro e presidente da câmara.
Muito do que esta cidade é hoje deve-se a ele.
O seu nome aparece numa rua. A sua figura não devia desaparecer da memória.
Além da obra, Alfredo de Sousa foi grande pela dignidade, pelo porte, pelo exemplo.
Vidas assim não prescrevem. Vidas assim são lições perenes. À espera de serem apre(e)ndidas!
Sendo três, Deus é comunhão, conjugação bela e articulação perfeita entre a unidade e a diversidade.
Deus é uma unidade diversa e uma diversidade una.
E se o Homem é imagem e semelhança de Deus, então a melhor maneira de realizar a proximidade com Deus passa pela construção da unidade e pelo respeito da diversidade.
Nada disto é um factum; tudo isto é um fieri.
Sejamos trinitários, triadocêntricos: unidos, amigos, irmãos!
Acerca de Deus, calar é uma necessidade, mas pode ser também uma tentação.
É óbvio que não temos recursos para falar de Deus. Qualquer palavra é humana. E o humano não pode dizer o divino. Mas também é verdade que só podemos chegar a Deus a partir de nós, a partir do Homem. Pelo que o impensável tem de ser pensado e o indizível tem de ser dito. Com as suas limitações, sem dúvida, mas também com as suas possibilidades.
O conhecimento de Deus estriba, pois, na vivência. O conceito vem a seguir. Conhece-se na medida em que se vive, se celebra, se adora, se testemunha e se ama. Quanto mais se vive, mais se conhece. O conhecimento vem pela vivência.
A Santíssima Trindade é, como sapientemente lembrava Matias Scheeben, o mysterium stricte dictum. Isto não quer dizer que seja inacessível. Temos acesso a Deus de muitas formas: pela Revelação, pelo Filho de Deus feito Homem, pela Vida, pela Fé, pelo Amor.
Deus está no Amor. Amar a Deus é conhecê-Lo. A melhor forma de conhecê-Lo. O resto virá por acréscimo. Inclusive o próprio conhecimento.
Foi há 52 anos. Foi a 31 de Maio de 1963.
Nesse dia, morreu um dos lamecenses mais ilustres: o Dr. Alfredo de Sousa.
Foi deputado, ministro e presidente da câmara.
Muito do que esta cidade é hoje deve-se a ele.
O seu nome aparece numa rua. A sua figura não devia desaparecer da memória.
Além da obra, Alfredo de Sousa foi grande pela dignidade, pelo porte, pelo exemplo.
Vidas assim não prescrevem. Vidas assim são lições perenes. À espera de serem apre(e)ndidas!
Hoje, 31 de Maio (Solenidade da Santíssima Trindade), é dia da Visitação de Nossa Senhora a Sta. Isabel, Nossa Senhora do Coração de Jesus, Nossa Senhora da Boa Nova e Sta. Petronila.
Um santo e abençoado dia pascal para todos!
Talvez espevitado por tantas «reclamações» durante o Inverno, o calor resolveu «apressar-se».
E é assim que o Verão entrou de rompante em plena Primavera.
Só a chuva permanece em modo de pausa praticamente desde Novembro.
Não incomoda. Mas é quase certo que iremos sentir a sua falta!
Hoje, 30 de Maio, é dia de Sta. Joana d'Arc, S. Fernando e Sta. Baptista Varani.
Um santo e abençoado dia pascal para todos!
Ninguém contesta que o dever é muito importante. Mas quem está disposto a assumir os seus deveres?
Óscar Wilde percebeu: «O dever é o que se espera dos outros, não o que se espera de si mesmo».
Mas os direitos só estarão assegurados quando os deveres forem (cabalmente) assumidos!
Hoje, 29 de Maio, é dia de S. Maximino, Sta. Úrsula de Ledochowska e S. José Gérard.
Um santo e abençoado dia para todos!
Doloroso é não ver. Perigoso é não ver quando se pensa que se vê.
A cegueira de olhos abertos não faz menos mal que a cegueira de olhos fechados.
Há tanta coisa que olhamos e não vemos. A ilusão é a pior cegueira.
Não olhemos apenas com os olhos. Procuremos ver com os olhos do coração, com os olhos da alma. Procuremos ver com os olhos de Deus.
Só na Sua luz encontramos luz (cf. Sal 36, 10)!
Quando estamos muito focados nas necessidades, corremos o risco de passarmos ao lado da verdade.
Nicolau Maquiavel alertou: «São tão simples os homens e obedecem tanto às necessidades presentes que quem engana encontrará sempre alguém que se deixa enganar».
Mas, atenção, quem engana também se arrisca a ser enganado. Quando menos se espera!
Nada como ouvir (ou ler) um homem grande para melhor entender um grande homem.
Zubiri dizia, humildemente, que «o menos mau de si mesmo» a Ortega o devia.
Olegario González de Cardedal notava que o teólogo tem de aliar a «complexidade da inteligência» à «simplicidade do coração».
Trata-se de um apelo, mas que também pode ser visto como um reconhecimento.
Andrés Torres Queiruga incorpora, belamente, aquela síntese.
Aliás, é difícil encontrar alguém como ele onde as duas dimensões se casem tão harmoniosamente.
Torres Queiruga é alguém que se impõe por uma inteligência fulgurante e que se destaca por uma cordialidade absolutamente tocante.
Para ele, o Cristianismo não é uma trincheira nem uma cave, onde se refugiem os últimos (supostos) fiéis.
Para ele, o Cristianismo é uma janela por onde todos os ventos passam e uma fronteira onde todos os olhares se cruzam.
Torres Queiruga não se limita a reproduzir as respostas de sempre. A sua prioridade é escutar as perguntas de hoje.
Daí a sua preocupação em repensar, palavra que aparece no título de algumas das suas obras.
É preciso repensar (voltar a pensar) a fé, a criação, a redenção, a ressurreição, o mal.
Não quer dizer que as respostas de outrora não tenham validade. O problema é que tais respostas podem não corresponder às perguntas de hoje.
Torres Queiruga é, antes de mais, um homem atento, afável.
As suas obras deixam transparecer, acima de tudo, as inquietações do presente.
A sua pretensão não é resolver todos os enigmas, mas dar eco a todas as preocupações.
Espanta, por isso, que um homem que tanto se tem empenhado em compreender seja, tantas vezes, incompreendido.
Mas esse é um dos mistérios não decifrados do nosso tempo. De todos os tempos?
A teologia e a cultura têm uma dívida de gratidão muito grande para com este homem de vistas largas e horizontes vastos.
Com ele, aprendemos não apenas o valor da resposta, mas também a importância da pergunta e a centralidade da procura.
Andrés Torres Queiruga completa, neste dia, 75 anos de vida.
Os parabéns são de nós para ele. Mas as prendas são dele para nós: as suas obras, o seu testemunho, a sua fé, a sua delicadeza, o seu brilho intenso, mas nunca ofuscante.
Longa vida!
Hoje, 28 de Maio, é dia de S. Justo e S. Germano de Paris.
Um santo e abençoado dia para todos!
À minha volta, venho mais força que sabedoria.
Avulta mais uma presumida sabedoria da força do que uma necessária força da sabedoria.
Joseph Joubert sentenciava: «Há um direito do mais sábio, não do mais forte».
Só que a realidade dificilmente abona esta tese.
Há forças que teimam em degolar tudo. Mas a sabedoria nunca se deixa matar...
Houve um homem que só se lembrou de ser homem com os outros, para os outros e pelos outros.
Foram os outros que ditaram a sua vida. Foram os outros que decidiram a sua morte.
Mas do que esse homem nunca se «esqueceu» foi de viver inteiramente a vida dos outros.
Olhou para cima, olhou para o lado e olhou para baixo. Foi com os de baixo que quis ficar.
Muitos o atacaram por fora e poucos o defenderam dentro. Houve até quem, — capciosamente — garantisse que ele tinha deixado de ser Óscar Arnulfo para passar a ser Óscar Marxnulfo!
Nunca se reviu naquela espécie de «teologia caviar» que consola os pobres, mas sem abdicar do conforto dos ricos.
É verdade que se calou quando muitos falavam. Acontece que começou a falar quando quase todos se calaram. Definitivamente, o seu destino parecia andar em total contramão com a história.
Que fazer? A prudência aconselharia que se recuasse. Só com muita coragem seria possível avançar.
Nos últimos tempos, a sua vocação tornou-se uma autêntica provocação.
Faz hoje 52 anos que morreu Aquilino Ribeiro, que nasceu não muito longe daqui.
Pertinente o que escreveu: «Creio que a arte de governar não reside apenas em operações de tesouraria e previdência. Pelo ritmo do progresso, inerente a tal doutrina, só daqui a cem anos teria Portugal um nível de vida aceitável, uma indústria comezinha, sempre antiquada em relação à do resto da Europa, as estradas que ambiciona, hospitais em que coubessem os seus enfermos, casas de educação regidas por uma pedagogia que viesse a desenvolver as faculdades das crianças e não as jugulasse aos varais consabidos de ideias revelhas e sistemas bafientos. Entretanto, o País fica como a Lua, metade em penumbra»!
Os grandes vêem longe!
Hoje, 27 de Maio, é dia de Sto. Agostinho de Cantuária, Evangelizador dos Ingleses, e S. Júlio, Padroeiro dos que recolhem o lixo.
Um santo e abençoado dia para todos!
Na sua trajectória pelo mundo, a Igreja transporta o jornal e a Bíblia: o jornal para conhecer o mundo, a Bíblia para converter o mundo.
Jesus não mandou aos Seus discípulos que aplaudissem o mundo, mas que evangelizassem o mundo.
Andar em contramão é perigoso. Para seguir em contracorrente, é preciso ter coragem.
É por isso que quando do mundo chegam aplausos, há qualquer coisa que não funciona.
Alguma coisa está mal quando tudo parece estar bem.
Neste tempo carregado de sinais, é urgente ir mais longe que os sinais do tempo.
É fundamental ser sinal de Deus para o mundo que procura Deus.
Os cristãos não são «porta-vozes» do mundo, mas, como dizia Óscar Romero, «microfones de Deus».
Não nos esqueçamos de O escutar. Não nos demitamos de O anunciar!
A fraternidade é o zénite da humanidade.
Verdadeiramente, só seremos humanos quando formos irmãos.
O falecido Fernando Ribeiro e Castro terá dito: «Se queres ver uma criança feliz, dá-lhe um irmão; se queres ver muito feliz, dá-lhe muitos irmãos».
É por isso que mais importante do que criar um Dia do Irmão é ser autenticamente irmão em cada dia.
Ser irmão é uma presença que nem a ausência consegue cortar. O irmão está sempre presente, mesmo quando se está ausente.
Nada disto se explica, tudo isto se sente.
Não conhecemos tudo de nós e desconhecemos muito dos outros.
Henry Wadsworh Longfellow dizia: «Cada pessoa tem os seus lamentos secretos que o mundo desconhece; e muitas vezes dizemos que determinada pessoa é fria quando é apenas triste».
Mais do que avaliar os outros, importa aprender a escutar os outros!
Hoje, 26 de Maio, é dia de S. Filipe de Néri e Sta. Maria Ana de Paredes.
Um santo e abençoado dia pascal para todos!
A pulsão antidemocrática está a avançar perigosamente pelo mundo.
Não podemos inferir que a democracia está adquirida e que nada é preciso fazer para a preservar.
O antigo campeão de xadrez Garry Kasparov avisa: «Se os homens livres não fizerem nada, as forças da ditadura e da opressão vão continuar a avançar».
Os que atacam agem. Que fazer para nos defendermos?
Olhar para a realidade deve levar-nos a olhar (também) para as possibilidades.
Roberto Musil dizia que, «se existe um sentido de realidade, também devia haver um sentido de possibilidade».
São as possibilidades que podem transformar (e melhorar) a realidade!
Há santos pouco conhecidos cuja vida mereceria, sem dúvida, ser mais reconhecida.
Sta. Madalena Sofia Barat, por exemplo, recomendava: «Quando todos nos abandonarem, abandonemos tudo nas mãos de Deus».
Dizem que o seu lema de vida era «sofrer por todos sem fazer sofrer ninguém».
E Sta. Madalena de Pazzi tinha um precioso antídoto para combater o egoísmo: «amar a Deus e aborrecer-se consigo mesma».
Grandes (e surpreendentes) educadores são os santos!
Hoje, 25 de Maio (retoma do Tempo Comum, na oitava semana), é dia de Sta. Madalena Sofia Perat, Sta. Vicenta María López de Vicuña, S. Gregório VII, S. Beda Venerável e Sta. Maria Madalena de Pazzi.
Um santo e abençoado dia para todos!
Espírito Santo de Deus,
Espírito do Pai e do Filho,
Espírito da Igreja,
Espírito do mundo,
nós Te louvamos e agradecemos
por tantos dons.
Obrigado pelo dom da sabedoria.
Obrigado pelo dom do entendimento.
Obrigado pelo dom da ciência.
Obrigado pelo dom do conselho.
Obrigado pelo dom da fortaleza
Obrigado pelo dom da piedade.
Obrigado pelo dom do temor de Deus.
Obrigado pela beleza de cada dia.
Obrigado pela bondade de tantos corações.
Obrigado pela verdade de tantas palavras.
Obrigado também pelos silêncios.
Obrigado ainda pela esperança.
Obrigado pela oração.
Obrigado por cada manhã.
Obrigado por cada encontro.
Obrigado por cada pessoa.
Tu que habitaste o seio de Maria,
habita o nosso coração,
transforma-nos por dentro
e muda-nos a partir do fundo.
Faz deste mundo um mundo novo.
Vem recriar a nossa humanidade.
Que este mundo seja um povo de amigos,
um povo de irmãos.
Que estejamos cada vez mais fortalecidos para a missão.
Que nunca nos esqueçamos de dar testemunho.
Dá-nos sempre o Teu Espírito,
a respiração da nossa vida,
o vento da nossa jornada.
Que sejamos outros,
que aspiremos e aspiremos paz,
em Teu nome,
JESUS!
Aconteça o que acontecer lá fora, não percamos a paz cá dentro.
Frederico García Lorca aconselhava: «Olha à direita e à esquerda e que o teu coração aprenda a estar tranquilo».
Basta saber que Deus habita em nós!
A. O começo da Igreja no princípio do mundo
Refira-se, a propósito, que o Pentecostes já era um importante dia de festa para os judeus. Situada cinquenta dias após a Páscoa, era uma festa agrícola, em que se agradecia a Deus a colheita da cevada e do trigo. Mais tarde, tornou-se também a festa da aliança, assinalando o dom da Lei no Sinai e a constituição do primeiro Povo de Deus. A partir de agora, o Pentecostes marca o começo da Igreja, novo Povo de Deus.
Todo o Antigo Testamento é uma longa e contínua preparação para o nascimento da Igreja: «A preparação longínqua da reunião do Povo de Deus começa com a vocação de Abraão, a quem Deus promete que será o pai de um grande povo. A preparação imediata tem o seu início com a eleição de Israel como povo de Deus».
B. Da Cruz ao Pentecostes
3. A vida e a missão de Cristo constituem o nascimento da Igreja. De que modo? Como observa o Concílio, «o Senhor Jesus deu origem a Sua Igreja pregando a Boa Nova».
A Igreja nasceu «do dom total de Cristo para nossa salvação, antecipado na instituição da Eucaristia e realizado na Cruz». O nascimento da Igreja é significado pelo sangue e pela água que saíram do lado aberto de Jesus crucificado. Retomando uma máxima dos primeiros tempos, o Concílio recorda que «foi do lado de Cristo adormecido na Cruz que nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja».
Concretizando, a Igreja nasce em Jesus e inicia a sua actividade com a vinda do Espírito enviado por Jesus. Não esqueçamos que, antes de morrer, Ele tinha garantido aos discípulos que «o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, vos ensinará todas as coisas, e recordar-vos-á tudo quanto vos tenho dito»(Jo 14, 26).
C. O templo e o tempo do Espírito
5. A Igreja é, por conseguinte, o templo e o tempo do Espírito Santo. Como bem disse Sto. Ireneu de Lyon, o «Filho e o Espírito são como que “as duas mãos” pelas quais o Pai nos toca». Pelo Filho somos tocados de uma maneira mais visível, pelo Espírito Santo somos tocados de uma maneira mais invisível, o que não quer dizer que seja menos real.
Houve quem, como o célebre Joaquim de Fiori, intentasse estratificar a presença das pessoas divinas no mundo. Segundo ele, o Antigo Testamento era o tempo do Pai, o Novo Testamento era o tempo do Filho e a Igreja seria o tempo do Espírito Santo. Não foi, porém, aceite esta doutrina. Na Igreja, está efectivamente o Espírito Santo e, como não podia deixar de ser, estão também o Filho e o Pai. É na unidade do Espírito Santo que, como proclamamos na doxologia que finaliza a Oração Eucarística, chegamos ao Pai através do Filho, Jesus Cristo.
É por isso que Sto. Agostinho fala do «Cristo total» («Christus totus»), que tem Jesus como cabeça e cada um de nós como membros do Seu corpo. S. Paulo sustenta que cada um de nós faz parte do corpo de Cristo (cf. 1Cor 12, 27). O corpo é único: o corpo de Cristo. Os seus membros são muitos: todos nós, os baptizados.
D. O «laço» que nos «entrelaça»
7. Todos os membros deste corpo são diferentes: legítima e desejavelmente diferentes, aliás. A unidade entre eles é assegurada por Deus, por Cristo, pelo Espírito e pelo Baptismo. É S. Paulo quem no-lo recorda ao dizer que «há um só Senhor, uma só fé, um só baptismo, um só Deus e Pai»(Ef 4, 5) e «um só Espírito»(1Cor 12, 13). Somos muitos e, sendo muitos, estamos unidos não em função das nossas afinidades, mas em razão da presença do mesmo Deus que nos une.
Isto significa que, quando não estamos unidos, é porque não estamos a ser verdadeiramente fiéis ao nosso Baptismo, ao Espírito que nele recebemos e a Jesus Cristo que nos conduz para a unidade. Com efeito, é Cristo que nos une e é no Seu Espírito que nos devemos deixar re+unir cada vez mais.
É o Espírito que inspira, é o Espírito que nos inspira para a missão, para os múltiplos — e surpreendentes — serviços da missão. Estes serviços são chamados «carismas», uma vez que resultam de dons suscitados pelo Espírito Santo. S. Paulo garante que os trabalhos da missão são muitos, «mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos»(1Cor 12, 6) com vista «ao bem comum»(1Cor 12, 7). A missão começa sempre na oração porque é na oração que se acolhe o sopro do Espírito. O grande empreendimento missionário de S. Paulo foi desencadeado por uma forte experiência de oração (cf. Act 13, 1-3).
E. O «vento» que abana e nunca abala
9. No dia de Pentecostes, os apóstolos estavam seguramente em oração (cf. Act 2, 1). O Espírito vem para animar e fortalecer os apóstolos. Não é em vão, de resto, que Espírito também é entendido, frequentemente, como sinónimo de ânimo, de força. O Espírito desce «por um rumor semelhante a forte rajada de vento»(Act 2, 2). O Espírito é, muitas vezes, apresentado como «ruah», como vento: às vezes, em forma de brisa, desta vez em forma de rajada.
Também hoje, precisamos de fortes rajadas de Espírito. Deixemos que o Espírito, também hoje, deposite em nós «línguas de fogo»(Act 2, 3) pelas quais possamos aquecer e iluminar as vidas de toda a gente. Precisamos, hoje também, de cristãos «cheios do Espírito Santo»(Act 2, 4) que não se cansem de anunciar «as maravilhas de Deus»(Act 2, 11). Precisamos, hoje também, de cristãos que exalem o perfume do Espírito e propaguem o sabor do Espírito. Precisamos, hoje também, de cristãos de escuta, de espera e de esperança, que ofereçam ao mundo as incontáveis surpresas de Deus.
Para que seja o Espírito a agir em nós, deixemo-nos habitar pelos Seus dons: pelo dom da fortaleza, pelo dom da sabedoria, pelo dom da ciência, pelo dom do conselho, pelo dom do entendimento, pelo dom da piedade e pelo dom do temor de Deus. Não fujamos da realidade do mundo, mas procuremos olhá-la e transformá-la a partir do Espírito Santo. O espiritual não é o que se opõe ao real. O espiritual é o que anima e transforma o real. É o Espírito Santo que nos transforma e nos renova. No Espírito Santo, nunca envelhecemos, mesmo que os anos passem. O Espírito é a novidade que torna tudo novo. O Espírito Santo é este vento que abana e nunca abala. Quem está no Espírito Santo nunca fica no chão mesmo que tenha caído. Escutemos a voz do Espírito. Porque o Espírito está sempre a soprar. O Espírito está sempre a surpreender-nos!
Existe o Baptismo com água. Mas, desde a antiguidade, a Igreja reconheceu também o Baptismo de sangue e até o Baptismo de desejo.
A história de S. Rogaciano deixa-nos a pensar se não terá havido também o Baptismo de...beijo. Expliquemos.
O imperador Maximino, no século III, empenhou-se em suprimir o cristianismo; mas não pôde dedicar-se muito tempo a tal objectivo, pois, ao cabo de três anos, foi morto pelos soldados.
Viviam então em Nantes, França, os irmãos Donaciano e Rogaciano: o primeiro já recebera o Baptismo; o segundo preparava-se para ele.
Acusados como cristãos, foi-lhes cortada a cabeça.
Tinham passado a noite a orar juntos e a beijarem-se, porque – dizem as actas que narram estes martírios – na sua ingenuidade, Rogaciano julgava que, faltando o padre e a água, os beijos do seu irmão lhe podiam servir de Baptismo!
Hoje, 24 de Maio (Solenidade do Pentecostes e fim do Tempo Litúrgico da Páscoa), é dia de Nossa Senhora Auxiliadora, Nossa Senhora da Estrada, S. Rogaciano, S. Donaciano, S. Guilherme de Fenol e S. Luís Zeferino Moreau.
Um santo e abençoado dia pascal para todos!
Os nossos tempos reclamam coragem.
Não basta «dar tempo ao tempo», como descansadamente se diz.
Não é ao tempo que cabe fazer o que nos incumbe realizar.
Confiar na inércia não traz bons resultados.
Como dizia, há séculos, S. Félix III, «não se opor ao erro é o mesmo que aprová-lo e não defender a verdade é o mesmo que suprimi-la».
Há que não ter medo.
Jesus é verdade (cf. Jo 14, 6). Dar testemunho de Jesus é dar testemunho da verdade!
Posso estar errado (e gostaria de estar errado), mas uma rápida passagem pela imprensa desta manhã presenteou-me com uma omissão.
Nada se diz sobre a beatificação, logo à tarde, de D. Óscar Romero, o mártir dos pobres.
Talvez por ser de um país longínquo (El Salvador) e de um tempo já distante (finais da década de 1970).
Mas o mais preocupante é pressentir que a sua acção suscite, a par de alguma admiração, bastante indiferença.
Os jornais estão cheios de referências a a quem dificulta a vida, a quem ameaça a vida, a quem tira a vida.
Quem dá a vida não merecia mais atenção?
Cesare Pavese achava que era tudo uma questão de mercado: «Não há absolutamente ninguém que faça um sacrifício sem esperar uma recompensa».
Curiosamente, para Sto. Inácio de Loyola a maior recompensa era «saber que fazia a vontade santa de Deus».
É tudo uma questão de perspectiva, de horizonte, de paixão, de amor!
Hoje, 23 de Maio, é dia de S. João Baptista de Rossi, S. Desidério e Sta. Joana Antide Thouret.
Um santo e abençoado dia para todos!
A cultura não se mede pela oratória, mas pela conduta.
Importante não é fazer discursos belos, mas manter uma conduta bela.
Razão tinha, pois, Confúcio quando estabeleceu a distinção: «Num mundo culto, temos uma conduta florida; num mundo inculto, temos discursos floridos».
Não são os discursos floridos que embelezam a vida!
Hoje, 22 de Maio, é dia de Sta. Rita de Cássia, Sta. Júlia, S. João Baptista Machado de Távora, Sta. Joaquina de Vedruna e Sta. Luísa Palazzolo.
Um santo e abençoado dia para todos!
Antes de matarem D. Óscar, eram muitas as inscrições que apelavam: «Sê um patriota, mata um sacerdote»!
Depois de matarem D. Óscar, começaram a ser muitas as inscrições que reconheciam: «Romero vive»!
Samuel Butler tinha razão quando notou que ninguém morre enquanto é recordado.
D. Óscar Romero tornou-se imortal: a sua morte eternizou o exemplo da sua vida!
Para D. Óscar Romero, a morte não foi uma surpresa.
Os que o mataram fizeram questão de o «avisar».
Ele confessou, duas semanas antes de ser assassinado, estar a receber «inúmeras ameaças de morte».
Como cristão, não acreditava «na morte sem ressurreição. Se eles me matarem, voltarei à vida no povo de El Salvador. Como pastor, devo dar a vida por aqueles a quem amo, inclusive por aqueles que me vierem a matar».
Nesse caso, esperava que o seu sangue pudesse «ser uma semente de liberdade e um sinal de esperança».
Pedia que a sua morte pudesse «servir para a libertação do meu povo e como testemunho de esperança daquilo que está para vir».
Uma vida que se dá nunca deixa de (re)nascer. Mesmo, quiçá sobretudo, quando está à beira de morrer!
D. Óscar Romero pertence àquela estirpe de evangelizadores que fizeram questão de se deixar evangelizar.
O povo foi sempre o seu profeta. Por isso, dizia que, se matassem todos os bispos e padres, cada membro do povo deveria ser «o microfone de Deus».
Cada pessoa baptizada é responsável «por desfraldar o estandarte da verdade do Senhor e da Sua justiça».
Daí que considerasse que aqueles que o ameaçavam estavam «a perder o seu tempo».
É que «um bispo pode morrer, mas a Igreja de Deus, que é o povo, nunca morrerá»!
A opção preferencial pelos mais pobres não representa uma discriminação dos mais ricos.
Para D. Óscar Romero, tal opção «é um convite a todos a aceitar e a assumir a causa dos pobres como se aceitassem e assumissem a sua própria causa, a causa do próprio Cristo, que disse: "Tudo o que fizerdes ao mais pequenino dos Meus irmãos a Mim o fareis"(Mt 25, 40»!
A Igreja não discrimina, mas tem de estar com os discriminados. Até porque quem está ao lado dos discriminados?
Daí que, para D. Óscar Romero, «a Igreja trairia o seu amor a Deus e a sua fidelidade ao Evangelhos se deixasse de ser a voz dos sem-voz, a defensora dos direitos dos pobres, a promotora de cada aspiração justa à libertação, um guia capacitando as pessoas e humanizando todos os esforços legítimos por alcançar uma sociedade mais justa, uma sociedade que prepare o caminho para o Reino de Deus na história. Tudo isto exige uma maior presença no meio dos pobres. Deveria ser solidária com eles, correndo os riscos que eles correm, suportando a perseguição que é o seu destino, pronta a dar o maior testemunho possível do seu amor, defendendo e promovendo aqueles que o amor de Jesus abençoava em primeiro lugar»!
Hoje, 21 de Maio, é dia de Sto. Hospício, Sta. Catarina de Cardona, Sta. Gisela, S. Carlos José Eugénio de Mazovedo e S. Cristóvão de Magallanes.
Um santo e abençoado dia para todos!
A violência não vence o amor. Só com amor se vence a violência.
D. Óscar Romero não tinha dúvidas: «O amor deve vencer; é o único capaz de vencer»!
Entre todos os homens, há muito de comum e muito de diferente.
Konrad Adenauer sintetizava: «Vivemos todos sob o mesmo céu, mas nem todos temos o mesmo horizonte».
Mas ainda que os horizontes sejam diferentes, o (mesmo) céu espera por todos!
Hoje, 20 de Maio, é dia de S. Bernardino de Sena e S. Teodoro de Pavia.
Um santo e abençoado dia para todos.
D. Óscar Romero recusou todo o tipo de violência excepto uma: a «violência do amor».
Explicando: «Nós nunca pregamos a violência a não ser a violência do amor que deixou Cristo pregado numa cruz. Nós nunca pregamos a violência a não ser a violência que cada um de nós deve fazer a si mesmo para ultrapassar o egoísmo. A violência que nós pregamos não é a violência da espada, do ódio. É a violência do amor, da fraternidade, a violência que escolhe transformar as armas em foices para o trabalho»!
Do apoio à causa dos pobres D. Óscar Romero exclui sempre todo e qualquer ressentimento.
Ele pedia aos poderosos que não o vissem como inimigo. «Sou apenas o pastor, o irmão, o amigo do seu povo, aquele que conhece o seu sofrimento, a sua fome e a sua aflição. Em nome das suas vozes, levanto a minha para dizer: não façais ídolos das vossas riquezas; não as reserveis para vós de uma forma que deixe os outros morrer de fome».
Às vítimas da opressão recomendava: «Sejamos firmes na defesa dos nossos direitos, mas façamo-lo com amor no coração. O amor é a vingança dos cristãos»!
Antes de D. Óscar Romero ter sido morto, vários dos seus padres foram assassinados.
Foi triste. Mas, para ele, «mais triste seria se, num país onde estão a ser cometidos crimes tão horrendos, não encontrássemos sacerdotes entre as vítimas. Eles são o testemunho de uma Igreja encarnada nos problemas do seu povo».
Ele tinha muito presente que «o mundo dos pobres é que nos ensina onde é que a Igreja deve encarnar».
A perseguição contra os padres acontecia «devido à defesa dos pobres por parte da Igreja, por esta assumir o destino dos pobres».
Para dar a vida aos pobres, «tem de se dar da própria vida, tem de se dar até a própria vida».
Assim foi em El Salvador, na década de 1970. Assim tem sido em tantos locais e em tantas épocas!
Para D. Óscar Romero, não havia dúvidas. Um sacerdote existe, antes de mais, para apontar caminhos.
Pode haver quem não goste. Pode haver quem agrida o sacerdote por causa dos caminhos que aponta. Mas, mesmo assim, não pode deixar de os apontar.
E, a propósito, costumava contar uma história.
Um beduíno guiava uma caravana pelo deserto.
As pessoas começaram a desesperar com a sede e a suspirar pela água. De cada vez que procuravam água, o beduíno dizia: «Aí não, ali». E assim se foi passando o tempo. Às tantas, os membros da caravana irritaram-se e mataram o beduíno. Quando este estava a morrer, estendeu a mão e disse pela última vez: «Aí não, ali».
Ou seja, morrer apontando o caminho!
Mais que uma sucedânea de Jesus, a Igreja, para D. Óscar Romero, é a contínua presença do único Jesus: «A Igreja de Cristo tem de ser uma Igreja pascal, uma Igreja que existe para ser sinal e instrumento da Páscoa no mundo».
E fazia questão de precisar: «A Igreja não existe para si própria. A sua razão de ser é a mesma de Jesus: serviço a Deus para salvar o mundo»!
Grande mérito de figuras como D. Óscar Romero foi o de olhar para os pobres não como indigentes, mas como cidadãos em plenitude.
Eles têm direito não somente a uma esmola, mas também a uma vida digna.
«O mundo dos pobres ensina-nos que a libertação só chegará quando os pobres não estiverem apenas no terminal de recepção de esmolas, mas quando eles próprios forem senhores e protagonistas da sua própria luta pela libertação».
Uma luta que, para o bispo-mártir, era obviamente pacífica. Como ele salvaguardava sempre, «o amor é a vingança dos cristãos»!
«A tua Palavra é perdão e doçura,
a tua Palavra é instrução sagrada, ensinamento eterno;
é luz para iluminar, conselho para encorajar;
é voz de esperança, fogo que queima,
caminho, verdade, esplendor sublime,
vida...eternidade.
Mas o teu campo de batalha não é só o templo,
Tu percorres o mundo com a tua espada,
a cruz redentora, em riste.
E o troar dos canhões não te amedronta;
nem o entrechocar do aço, quando ouves a voz da Igreja a chamar-te seriamente com voz queixosa,
pois homens cruéis, com armas cruéis,
infligiram-lhe feridas de morte».
(assim era visto o sacerdote por D. Óscar Romero)
Existe violência política, violência social, violência racial, violência laboral. E, para nosso pesar, existe também violência religiosa.
Só que a vida ensina que, infelizmente, poucas coisas estarão tão entranhadas na religião como a violência.
Há muita violência fora da religião. E há muita experiência religiosa longe de qualquer violência.
Mas a verdade manda reconhecer que ainda subsiste muita violência na religião: entre as religiões e dentro de cada religião.
Em todas as religiões, há causadores de violência e mártires da violência.
Tanto veiculam o «não matarás»(Ex 20, 13) como apresentam Deus como «valente guerreiro»(Ex 15, 3), «Senhor da guerra»(1Sam 17, 47), «Senhor dos exércitos»(Sal 46, 7) ou «herói da batalha»(Sal 24, 8).
Segundo ele, a primitiva religião teria surgido da necessidade de transferir para uma transcendência a violência do mundo.
Caim não suporta que Deus acolha a oferta de seu irmão Abel e não a sua. Por isso, inveja-o e mata-o (cf. Gén 4, 1-16).
A violência não acabou com a religião. Conseguirá a religião acabar com a violência?
Se nem toda a violência é religiosa, que nenhuma religião seja violenta. Que todas as religiões sejam — totalmente! — não-violentas.
Aprendi a procurar respostas para as perguntas que a vida me foi colocando.
Habituei-me, entretanto, a deparar com perguntas para as respostas que a vida me ia dando.
A partir de certa altura do século passado, quem não exaltava a «dessacralização» de tudo? Afinal, tudo podia ser posto em causa.
Será, porém, que estamos melhor?
É sabido que existe uma associação, entranhada ao longo da história, entre a violência e o sagrado. Será, contudo, que a dessacralização da violência contribuiu para o fim da violência?
À violência sagrada ainda se podia escrutinar o motivo e perceber que nenhum motivo fazia sentido.
Só que as pessoas sempre podiam tomar algumas cautelas. Sempre sabiam donde podia advir a violência.
A dessacralização da violência (em linha com a «banalização do mal», de que falava Hannah Arendt) parece retirar a necessidade de qualquer motivo.
A violência pode disparar em qualquer momento. Não é preciso invocar motivos. Basta o mais leve pretexto.
Uma simples conversa pode desencadear uma espiral de violência. E depois da violência começar, nunca sabemos como vai acabar.
Só sabemos que nunca acaba bem!
A opinião dos outros é obviamente para respeitar. Mas não pode servir para condicionar.
Como bem sinalizou Jack Kerouac, «não farão grandes coisas os que se deixarem levar por tendências, novidades e pela opinião geral».
Para mudar, é preciso não seguir a corrente!