O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 12 de Abril de 2015

Páscoa é todos os dias, Páscoa é todo o tempo.



Páscoa não foi. Páscoa é. A Páscoa não passa. A Páscoa é passagem, mas nunca é passado.



A Páscoa não foi apenas há oito dias. A Páscoa também é hoje.



Também hoje, Senhor, vens ter connosco. Também hoje nos dás a Tua paz, o Teu perdão, o Teu amor.



O Teu mandamento não é pesado, o Teu jugo é suave, a Tua carga é leve.



Quando Te amamos, amamos também as pessoas. Quando amamos as pessoas, amamos-Te também a Ti.



Também hoje, queremos ter um só coração e uma só alma.



Também hoje, queremos pôr tudo em comum.



Também hoje, queremos que ninguém passe necessidade, que ninguém tenha fome.



Também hoje, queremos conjugar, com os lábios e com a vida, o verbo «dar», o verbo «repartir», o verbo «amar».



O que é de cada um queremos que seja de todos.



Ajuda-nos, Jesus, a vencer a pior doença: o egoísmo.



Ensina-nos, Jesus, a vencer a falsidade e a mentira.



Envolve-nos, Jesus, com a Tua misericórdia e habita-nos com a Tua bondade.



Obrigado, Jesus, por morreres por nós.



Obrigado, Jesus, por ressuscitares para nós.



Obrigado por vires sempre ao nosso encontro.



Como S. Tomé, também hoje Te adoramos, também hoje Te dizemos:



«Meu Senhor e meu Deus!»

publicado por Theosfera às 10:27

Há coisas em que Deus é profundamente imoderado.

Pensemos na misericórdia, por exemplo.

Deus é imoderadamente misericordioso.

Os Seus olhos estão sempre voltados para os homens. Quanto mais eles estão afastados d'Ele, tanto mais perto Ele está deles.

Tomé não esteve até ao fim. Manteve-se longe da Cruz. Também não esteve no primeiro (re)encontro depois do fim.

Ainda assim, Jesus não desistiu de Tomé. Convidou-o a colocar o seu dedo nas Suas mãos e instou-o a ser crente (cf. Jo 20, 27).

A misericórdia, para Deus, tem dois ingredientes: compaixão e não resignação.

Deus vem até ñós não para confirmar o que somos, mas para nos conduzir ao que podemos (vir a) ser.

Misericórdia sem conversão seria como doença sem cura.

Que diríamos de um médico compassivo para com o doente, mas sem se preocupar em curar o doente?

A misericórdia, segundo Deus, não consiste em deixar-nos como estamos, mas em abrir-nos sempre ao novo, sempre ao diferente, sempre ao melhor.

Deus não desiste de nós. Não desistamos nós de Deus!

publicado por Theosfera às 08:58

«Nunca somos traídos senão pelos nossos».

Não era preciso vir Jean-Marie lembrar este (triste) desígnio a propósito de sua filha Marine.

Desde a aurora dos tempos, a vida ensina-nos que a traição é «confeccionada» em casa e «servida» aos nossos.

Afinal, Judas também fez «escola»!

publicado por Theosfera às 08:33

Havia um homem que corria pelo orvalho dentro.
O orvalho da muita manhã.
Corria de noite, como no meio da alegria,
pelo orvalho parado da noite.
Luzia no orvalho. Levava uma flecha
pelo orvalho dentro, como se estivesse a ser caçado
loucamente
por um caçador de que nada sabia.
E era pelo orvalho dentro.
Brilhava.

Não havia animal que no seu pêlo brilhasse
assim na morte,
batendo nas ervas extasiadas por uma morte
tão bela.
Porque as ervas têm pálpebras abertas
sobre estas imagens tremendamente puras.
Pelo orvalho dentro.
De dia. De noite.
A sua cara batia nas candeias.
Batia nas coisas gerais da manhã.
Havia um homem que ia admiravelmente perseguido.
Tomava alegria no pensamento
do orvalho. Corria.

Ouvi dizer que os mortos respiram com luzes transformadas.
Que têm os olhos cegos como sangue.
Este corria assombrado.
Os mortos devem ser puros.
Ouvi dizer que respiram.
Correm pelo orvalho dentro, e depois
estendem-se. Ajudam os vivos.
São doces equivalências, luzes, ideias puras.
Vejo que a morte é como romper uma palavra e passar

- a morte é passar, como rompendo uma palavra,
através da porta,
para uma nova palavra. E vejo
o mesmo ritmo geral. Como morte e ressureição
através das portas de outros corpos.
Como uma qualidade ardente de uma coisa para
outra coisa, como os dedos passam fogo
à criação inteira, e o pensamento
pára e escurece

- como no meio do orvalho o amor é total.
Havia um homem que ficou deitado
com uma flecha na fantasia.
A sua água era antiga. Estava
tão morto que vivia unicamente.
Dentro dele batiam as portas, e ele corria
pelas portas dentro, de dia, de noite.
Passava para todos os corpos.
Como em alegria, batia nos olhos das ervas
Que fixam estas coisa puras.
Renascia.

 

(Herberto Hélder)

publicado por Theosfera às 08:19

São os que acontecimentos que fazem a história. E esses acontecimentos são, por sua vez, tecidos de um interminável combate entre o sonho e a realidade.

Mariano Picón Salas reconhecia que «a história é o incalculável impacto da circunstâncias sobre as utopias e os sonhos».

Esperamos que a história também possa ser o felicitante impacto dos sonhos sobre as circunstâncias.

Umas vezes, são as circunstâncias a devorar os sonhos. Outras vezes (esperemos que muitas vezes), serão os sonhos a transfigurar as circunstâncias!

publicado por Theosfera às 07:55

A. O grande sinal da Páscoa

  1. Depois do fim, um novo começo. A Ressurreição é o novo começo, o definitivo recomeço. Não se recomeça para repetir. O sepulcro vazio assinala uma história que permanece em aberto. O primeiro dia daquela semana (cf. Jo 20, 19) é a primeira hora de um tempo novo. Uma vida ressuscitada assume o passado, mas não estaciona no passado. No passado estacionavam os discípulos naquela tarde (cf. Jo 20, 19). Para eles, a noite parecia mais próxima do que uma nova amanhã.

Tantas vezes, o nosso estado de espírito é semelhante ao destes discípulos. Também nós estamos com «as portas fechadas» e cheios de «medo» (cf. Jo 20, 19). Estamos fechados por causa do medo, estamos com medo por causa de estarmos fechados. Até parece que a Páscoa ainda não aconteceu, até parece que a Páscoa ainda não passou. Ou, então, até parece que a Páscoa já passou completamente. Mas, tal como há dois mil anos, Jesus não desiste. Ele é a chave que abre o que está fechado e o destemor que vence o medo.

 

  1. Para Jesus, não há barreiras intransponíveis nem obstáculos inultrapassáveis. O Ressuscitado não Se ausenta. Das doze aparições do Ressuscitado que o Novo Testamento regista, cinco acontecem logo no dia da Ressurreição. Este texto fala-nos de duas: uma no dia da Ressurreição, outra oito dias depois. Jesus não esquece os Seus discípulos. Jesus vem para o meio deles, como que a dizer que Ele é o centro da sua vida. Quando Jesus está no meio de nós, a paz é total. Jesus ressuscitado é o portador da paz. «A paz esteja convosco»(Jo 20, 19. 21. 26) é mais do que uma saudação habitual entre os judeus. Como anunciou Miqueias (cf. Miq 5, 5) e como proclamou S. Paulo (cf. Ef 2, 14), Cristo é efectivamente a nossa paz.

A paz da Páscoa é a aurora de um mundo novo e o alicerce de uma vida inteiramente renovada. É esta paz da Páscoa que se respira na Igreja dos primeiros tempos. É esta paz da Páscoa que leva os seus membros a terem «um só coração e uma só alma»(Act 4, 32). Era Jesus que os unia. Por causa dessa união, punham tudo em comum (cf. Act 4, 32). Ninguém tinha nada e a ninguém faltava nada. Eis o grande sinal da Páscoa: ninguém considerava seu o que era comum; todos optavam por considerar comum o que era seu (cf. Act 4, 32-34).

 

B. A nossa missão é a missão de Jesus

 

3. Que belo alicerce encontramos aqui para o «Estado social»! Este só tem sustentação quando a necessidade prevalece sobre a posse. O outro é visto não como problema ou entrave, mas como prioridade. Quando o outro é a prioridade, ninguém passa mal. Quando o tu é a prioridade para cada eu, ninguém acumula o supérfluo, todos têm acesso ao essencial.

Infelizmente, hoje há poucos opulentos e muitos necessitados. Há poucos que têm muito e muitos que têm pouco ou quase nada. Entre os cristãos da primeira hora, não havia «qualquer necessitado»(Act 4, 34). Tertuliano dá-nos conta do espanto dos que não eram cristãos quando olhavam para o comportamento dos cristãos: «Vede como eles se amam!» No fundo, eles apercebiam-se de como a palavra dos lábios se repercutia na palavra da vida.

 

  1. Ao mostrar «as mãos e o lado»(Jo 20, 20), o Ressuscitado identifica-Se com o Crucificado e com todos os crucificados. E é sobretudo para junto dos crucificados da vida que Ele nos envia. O Seu exemplo há-de surgir como a nossa razão de existir: «Como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós»(Jo 20, 21).

Uma vida ressuscitada é uma vida enviada. A nossa missão há-de ser a missão do próprio Jesus. Como Ele fez, façamos nós também (cf. Jo 13, 15). Uma vez que Ele veio para servir, nós também somos chamados a servir (cf. Mt 20, 28). Quem não serve, não serve para a missão.

 

C. Alguém viu para crer; nós cremos para ver

 

5. Ao soprar sobre os discípulos, Jesus quer vincar a identificação da missão dos Seus discípulos com a Sua missão. É curioso notar que o verbo aqui utilizado é o mesmo do texto grego de Génesis 2,7, quando se diz que Deus soprou sobre o homem, infundindo-lhe a vida de Deus. Com o «sopro» do Génesis, o homem torna-se um ser vivo; com este «sopro», os discípulos de Jesus tornam-se pessoas novas.

A partir de agora, os discípulos possuem o Espírito, para poderem dar-se generosamente aos outros. Trata-se de um espírito de perdão, que aliás o próprio Jesus já tinha assumido na Cruz. O perdão de Jesus é oferecido na Igreja de Jesus (cf. 20, 23). É na Igreja que encontramos Jesus. É na Igreja que reencontramos o perdão de Jesus.

 

  1. Não espanta que os discípulos ficassem cheios de alegria (cf. Jo 20, 20). Ver Jesus é a maior fonte de alegria e a decisiva fonte da missão. Quem vê Jesus é convidado a dizer isso mesmo: que viu Jesus. E, por conseguinte, é convidado a convidar outros para que possam também ver Jesus.

Acontece que, naquela tarde, um dos discípulos não estava presente. Não acreditou no testemunho dos outros: quis ver para crer. Para Tomé, ver foi o caminho para crer. Para nós, crer há-de ser o caminho para ver. No fundo, nós sentimos que só vemos quando cremos. A fé é luz, é uma visão, é uma iluminação. A experiência diz que a fé não nos isenta de dúvida. Tantas são as vezes em que a fé tem de conviver — e nem sempre de forma pacífica — com a dúvida.

 

D. É a «porta das chagas» que nos leva à fé

 

7. É fácil censurar Tomé, mas quem pode negar que, em nós, sobrevive muito de Tomé? É por isso que, tal como insinua o seu apelido, ele é nosso «gémeo» e nós somos «gémeos» dele. S. Gregório Magno até reconheceu que «a incredulidade de Tomé foi mais útil para a nossa fé do que a fé dos discípulos crentes». De facto, tal incredulidade atesta que as nossas dificuldades não são únicas nem foram as primeiras. Só que nem a incredulidade constitui obstáculo para a fé. Há muitos que passam da fé para a incredulidade. Tomé ensina-nos que é possível passar da incredulidade para a fé. Nossa é, muitas vezes, a hesitação de Tomé. Nossa deverá ser também a confissão de Tomé.

«Meu Senhor e meu Deus!»(Jo 20, 28) é a maior proclamação de fé na divindade de Jesus que existe no Novo Testamento. Mas, para isso, foi preciso passar pela dúvida, pela incredulidade. Foi preciso ver o ferido e tocar nas feridas. É fundamental não esquecer que à fé chegamos pela «porta das feridas».

 

  1. Muito comovente é sentir que Tomé chega à fé pela «porta das feridas». Alguém conseguirá aderir à fé sem ser pela «porta dos feridos»? Como bem notou Tomás Halik, só atinge a certeza da fé quem, «ao tocar nas feridas do mundo, toca em Deus». Consta que Pascal, estando impedido de comungar, começou a cuidar de um pobre. Era uma forma de continuar a receber o Corpo de Cristo. Também se conta que, um dia, Satanás terá aparecido a S. Martinho disfarçado de Cristo. O santo, porém, não se deixou enganar. «Onde estão as tuas chagas?», perguntou.

Tirar as chagas de Cristo é o mesmo que desfigurar Cristo. E retirar Cristo das chagas é o mesmo que agravar — ainda mais — as (nossas) próprias chagas. Uma religiosidade telegénica, que não aterra nas chagas da vida, é por muitos exaltada. Mas será muito exaltante? Tomás Halik não acredita em «religiões sem chagas». Não foi pelas chagas que fomos curados (cf. Is 53, 5; 1Ped 2, 24)?

 

E. Cuidar das feridas, não ferir

 

9. Também hoje, neste nosso tempo de contrastes, Jesus continua a convidar-nos a colocar o nosso dedo nas Suas chagas (cf. Jo 20, 27). Nas chagas de tantos irmãos nossos, continuamos a poder tocar no próprio Jesus. Quem toca nas chagas deste mundo toca em Jesus. O caminho que Jesus propôs a Tomé é o caminho que continua a propor a cada um de nós: tocar nas chagas desta vida. Quem não olha para os feridos está a ferir o próprio Jesus Cristo.

Há tanta gente ferida e há tanta gente a quem nós ferimos. O caminho de Tomé há-de ser, pois, o nosso caminho: não ferir, mas tocar nas feridas para ajudar a sarar as feridas. Jesus ressuscitado continua no tempo, ao lado daqueles que estão feridos em cada tempo. É com as nossas mãos que Ele quer tocar nessas feridas. É ao tocar nessas feridas que nós acabaremos por tocar no próprio Jesus. Afinal, alguém já sofreu o que nós sofremos. Alguém já passou o que nós passamos. E se Jesus tudo conseguiu vencer, como é que nós haveríamos de estar impedidos de triunfar? É com Jesus que tocamos tantas chagas. Será por Jesus que havemos de vencer todas as feridas.

 

  1. A Páscoa é um novo nascimento, uma nova vida, habitada por uma nova esperança. Esta novidade torna-se visível pelo amor. Quem nasce de Deus é convidado a viver no amor de Deus e no amor com os irmãos. S. João torna tudo muito claro: «Todo aquele que acredita que Jesus é o Cristo nasceu de Deus e todo o que ama Aquele que gerou ama também quem nasceu d’Ele»(1Jo 5, 1).

Que fique, então, tudo de parte. Que só fique o amor. E quando fica o amor, fica tudo: fica Deus e ficamos todos nós em Deus. É a Páscoa plena. E a felicidade total!

 

publicado por Theosfera às 07:48

Hoje, 12 de Abril (2º Domingo da Páscoa e da Divina Misericórdia), é dia de S. Júlio I, S. Zenão de Verona, S. Vítor de Braga e Sta. Teresa de Jesus (chilena).

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

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