- A Páscoa é o silêncio que fala, a escuridão que brilha, a lágrima que sorri, o fim que (re)começa.
O inesperado vence o inevitável. E o Logos, uma vez mais, despedaça toda a lógica.
- Ainda há pouco a Palavra se calava e a Luz escurecia. Até o sorriso chorava. A morte vencera?
Afinal, tudo estava consumado (cf. Jo 19, 30).
- Acontece que nós não percebemos que consumado não é o mesmo que terminado.
Jesus tinha consumado a missão, mas não deu por terminada a presença.
- Não é possível dar mais quando se dá tudo. Jesus deu a vida e nem sequer deixou de Se dar depois da morte.
Até o que restava — sangue e água — Lhe foi tirado (cf. Jo 19, 34). Continuava a ser consumido o que já estava consumado.
- Jesus é nosso, mesmo quando a morte tenta afastá-Lo de nós.
Para que não se perca ninguém, aceita perder tudo. Depois da morte, até o Seu corpo foi dado como perdido (cf. Jo 20, 11).
- Foi do lugar da morte que Jesus regressou ao encontro dos vivos (cf. Jo 20, 15).
Do máximo fracasso irrompe, assim, o máximo triunfo. O vencido desperta como vencedor.
- Como reconheceu Tomas Halik, a Páscoa é «a vitória mediante a derrota».
A vida renasce da morte. A luz reacende-se nas trevas. O dia acorda na noite. O sorriso é sulcado no pranto. Um novo começo se levanta após o fim.
- É do fundo que se sobe. É de baixo que se cresce. É na morte que se (re)vive.
A fé não ilude nem nos tantaliza. Ela testemunha que nem Deus foge da morte. A morte em Deus retira qualquer sentido às inflamadas proclamações da morte de Deus.
- A Ressurreição põe a descoberto o que na morte jazia encoberto.
A Cruz está no tempo para nos guiar até à eternidade. Só quem desce às profundezas consegue atingir as alturas.
- Jesus ressuscitado volta a percorrer os nossos passos (Lc 24, 23-35) para que nós possamos prosseguir o Seu caminho.
É por isso que os passos de uma vida pascal nunca serão simplesmente passos. Serão passos sempre em «compasso». Em «compasso» com Deus em direcção à humanidade. Em «compasso» com a humanidade em direcção a Deus!